Sergei Loznitsa é expulso da Academia de Cinema da Ucrânia

Sergei-Loznitsa

Sergei Loznitsa, o realizador ucraniano que se demitiu da Academia Europeia de Cinema (a 28 de fevereiro) pela posição tímida à invasão da Ucrânia pela Rússia, foi agora expulso da Academia de Cinema da Ucrânia por manifestar o seu apoio aos cineastas russos. Num comunicado divulgado no sábado, 19 de março, Loznitsa escreveu que havia sido expulso por ser, nas palavras da Academia, “um cosmopolita”, acusado de ser insuficientemente leal ao seu país de origem.

Segundo o comunicado da Academia de Cinema Ucraniana publicou, publicado no passado dia 18 de março, refere que por “decisão do Conselho e do Conselho de Supervisão da Academia Ucraniana de Cinema, Sergei Loznitsa foi expulso.”

A Academia assume uma postura nacionalista e acusa o realizador ucraniano de dar apoio ao cinema russo. “Quando ouço hoje esses apelos para proibir os filmes russos, penso nesses (cineastas) que são boas pessoas. Eles são vítimas como nós desta agressão”, afirmou Loznitsa no início de março.

“O realizador Sergei Loznitsa enfatizou repetidamente que se considera um cosmopolita, um ‘homem do mundo’. No entanto, agora que a Ucrânia está a defender a sua independência com todas as suas forças, o conceito-chave na retórica de todo o ucraniano deve ser a sua identidade nacional. E não pode haver compromissos ou meios-tons. Além disso, os filmes de Sergei Loznitsa foram recentemente incluídos na programação do Russian Film Festival em Nantes, França, intitulado From Lviv to the Urals. Isso é completamente inaceitável durante a sangrenta guerra em grande escala travada pela Rússia.”, acrescenta a direção da Academia de Cinema Ucraniana que termina com um apelo “à comunidade mundial para não posicionar Sergei Loznitsa como um representante da esfera cultural ucraniana.”

 

Loznista condena a guerra e Putin, mas não os cidadãos russos e os seus artistas.

Em resposta à expulsão da Academia de Cinema da Ucrânia, o cineasta lamenta a posição nacionalista da Academia e mostra-se surpreso pela decisão da mesma num comunicado publicado no dia 19 de março. Fiquei espantado ao ler a decisão da academia de cinema ucraniana de me expulsar por ser um cosmopolita.”, lê-se no seu comunicado.

“Nos últimos dias e semanas, tenho estado ocupado a explicar a vários meios de notícias internacionais e jornalistas da Europa e dos EUA as causas e a essência da guerra, instando a comunidade internacional a juntar-se à luta contra os russos uma agressão; tenho participado em inúmeras exibições de caridade dos meus filmes “Donbass” e “Maidan”, cujos lucros são usados para apoiar a Ucrânia; tenho estado a evacuar pessoas da Ucrânia e a ajudar refugiados.”

Loznitsa tem sido um defensor assumido do cinema russo, tendo voltado a sublinhar ser contra o boicote aos cineastas russos e à sua indústria cinematográfica: “Na tragédia da guerra, acredito firmemente, que alguém deve manter o seu bom senso sobre eles. Sou contra o boicote dos meus colegas, cineastas russos, que estão a falar contra os crimes do regime de Putin.”

“(…)Ao se manifestar contra o cosmopolitismo, os ‘membros da academia’ ucranianos empregam o mesmo discurso inventado por Estaline, baseado no ódio, na negação da liberdade de expressão, defendendo a culpa coletiva e proibindo qualquer manifestação de individualismo e escolha individual. (…) ‘Hoje em dia, quando a Ucrânia está a lutar pela sua independência com todas as suas forças, o conceito-chave na retórica de cada ucraniano deveria ser a sua identidade nacional’, – lê-se a mensagem publicada na página do Facebook da academia de cinema ucraniana. Então, não é o ponto de vista civil e político de todos os cidadãos do país que importa; não é a aspiração de unir todas as pessoas amorosas e livres-pensadoras do mundo contra a agressão russa; não é a criação de um esforço internacional de todos os países do mundo democráticos para vencer esta guerra; é a “identidade nacional” que mais importa. Infelizmente isso é nazismo. Um presente para os propagandistas do Kremlin dado pela Academia de Cinema Ucraniana.“

Sergei Loznista, premiado por filmes como “No Nevoeiro” (2012), “A Praça” (2014), “The Event” (2015) “Donbass” (2018) e “Funeral de Estado” (2019), terminou o seu comunicado com: “Sou e serei sempre um cineasta ucraniano. Desejo sinceramente que todos permaneçam sãos durante este período trágico”.

 

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