A expectativa pelo próximo James Bond deixa de ser um boato de estúdio e começa a materializar-se. Glenn Garner, do Deadline, aponta que o futuro dono do smoking mais famoso do cinema será um “rosto desconhecido”, britânico, mas sem qualquer amarra étnica. Ou seja, 007 poderá enfim surpreender a todos, inclusive a nós, habituados a imaginar o espião elegante e irresistível sempre com o mesmo tipo de cara.
Desde a saída triunfal de Daniel Craig em “007 – Sem Tempo para Morrer” (2021), de Cary Joji Fukunaga, a escolha do próximo Bond transformou-se quase num desporto de apostas, com fãs e imprensa a questionarem-se quem será o sortudo que portará a licença para matar e vestirá o icónico traje. Com a Amazon à frente do projecto, o processo ganhou nova dimensão e ambição. A presença de Denis Villeneuve na realização e de Steven Knight no argumento indica que a saga pretende recuperar o rigôr cinematográfico que, ao longo do tempo, se foi esvaindo.
Villeneuve e os produtores parecem nutrir uma convicção clara: reinventar Bond a partir do inédito. Procuram um ator jovem, entre o final dos 20 e o início dos 30 anos, alheio às pressões da fama e capaz de vestir o mito sem as sombras do reconhecimento. A escolha de um rosto anónimo não é apenas deliberada, mas também emblemática, representando uma promessa de novo começo para um personagem que sempre sobreviveu às suas próprias mortes.
“Cada vez que escalamos um novo ator, os filmes mudam. É a emoção de um novo Bond, uma nova direção”, disse a produtora Barbara Broccoli à Associated Press. “Cada intérprete trouxe algo novo e diferente.”
Não é a primeira vez que enfrentam uma escolha difícil
Barbara Broccoli disse à Associated Press que, no início, a escolha de Daniel Craig como Bond suscitou reacções mistas, até que os fãs o viram estrear-se como 007 em “Cassino Royale” (2006), de Martin Campbell.
Após encerrar a sua sequência de cinco filmes como agente do MI6 com “007 – Sem Tempo para Morrer” (2021), Craig respondeu recentemente de forma directa quando questionado sobre o futuro da franquia. “Não me importo”, afirmou, a respeito de quem deverá assumir o papel a seguir.
Ao mesmo tempo, Jennifer Salke, chefe global da Amazon MGM Studios, partilhou novidades sobre o próximo filme, enquanto a EON Productions do Reino Unido continua a manter a maior parte do controlo criativo da saga.
“Muitas ideias [sobre possíveis actores] surgiram e achei interessantes”, disse ela ao The Guardian no mês passado. “Existem vários caminhos que podemos seguir. Temos uma relação próxima e positiva com a EON, com Barbara [Broccoli] e Michael [G. Wilson]. Não queremos interferir na forma como estes filmes maravilhosos são feitos. Estamos apenas a seguir o exemplo deles.”
A resposta de Craig ao ser escolhido para interpretar Bond
Durante a sua participação no podcast Awards Chatter, do The Hollywood Reporter, na altura da divulgação de “Queer” (2024), de Luca Guadagnino, Craig respondeu a perguntas sobre a sua vida e carreira perante uma plateia de 500 alunos. Um dos presentes quis saber se, ao aceitar o papel de Bond, Craig sentiu-se nervoso com a possibilidade de vir a ser estereotipado no futuro.
“Sim, com certeza. É por isso que recusei — quero dizer, eu disse: ‘Não.’ Na altura não havia um argumento, por isso, novamente, a minha arrogância era inacreditável, mas pensei apenas: ‘Bem, até eu ver um argumento, não podia tomar uma decisão.’ E era exactamente esse medo de que estás a falar, dessa coisa e de muitas outras, sobre como isso mudaria a minha vida,” relembrou.
Craig concluiu: “Na altura, eu tinha uma vida muito boa, por isso, se tivesse continuado a fazer o que estava a fazer, teria ficado mais do que satisfeito. Mas foi mesmo uma daquelas situações em que — quer dizer, ser rotulado como James Bond? Buuu.”
Quem poderia envergar o smoking do agente mais famoso do MI6?
Nos bastidores, os nomes começam a agitar-se. Aparentemente, o actor desconhecido Scott Rose-Marsh terá tentado a sua sorte nos testes para o papel, enquanto Harris Dickinson, Jacob Elordi e Tom Holland surgem como hipóteses avaliadas pela Amazon. Holland não deixou de comentar os rumores, descrevendo o papel como “o ápice de trabalhar na nossa indústria”.
Em contrapartida, Taron Egerton, conhecido pela saga “Kingsman” e favorito entre os fãs, resolveu afastar-se de forma consciente da disputa pelo papel. Sem rodeios, admitiu não se sentir a escolha ideal e revelou reservas quanto ao nível de compromisso que a franquia exige: “É uma grande empreitada, meio que consome a tua vida, um papel como este”.