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25 anos de “Mulan”: Empoderamento feminino, igualdade de género e diversidade cultural

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Lançado no Hollywood Bowl em 5 de junho de 1998, “Mulan” é uma adaptação de um antigo poema chinês que narra a história de uma jovem que assume o lugar de seu pai no exército durante um conflito com os hunos na China Imperial. Disfarçada de homem, Mulan é treinada pelo capitão Li Shang e se revela uma guerreira valiosa, porém sua verdadeira identidade é descoberta, levando-a a enfrentar o desafio de provar que uma mulher pode ser a salvadora de todo o império.

Aprofundando melhor, Lan Dong, professora do Departamento de Inglês da Universidade de Illinois em Springfield (EUA) e autora de “A Lenda e o Legado de Mulan na China e nos EUA”, no artigo “Mulan: a lenda chinesa que inspirou o novo filme da Disney” para revista BBC HistoryExtra, discorre que na China, Mulan é considerada uma verdadeira heroína. O primeiro registro escrito da história de Mulan remonta às dinastias do norte da China, entre 386 e 581 d.C. A “Balada de Mulan”, com pouco mais de 300 palavras, conta a história de uma jovem que se disfarça de homem e se junta ao exército no lugar de seu pai, já que não possui um irmão mais velho para cumprir esse papel. Depois de anos de serviço militar, lutando em nome de seu país, ela retorna com honra e é agraciada pelo imperador. Seus pais, irmã e irmão mais novo preparam um banquete para dar as boas-vindas. Mulan troca suas roupas, arruma o cabelo, se maquia e cumprimenta seus companheiros soldados, que ficam chocados ao descobrir que ela é, na verdade, uma mulher.

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Reprodução: BBC

Dong observa que assim como outros contos populares, a lenda de Mulan apresenta elementos típicos, permitindo adaptações e acréscimos de detalhes ao longo do tempo. Ainda sobre a lenda milenar, a pesquisadora sublinhar que é importante ressaltar a mensagem subjacente: a transgressão de Mulan ao se disfarçar de homem é justificada pela necessidade de salvar seu pai e servir seu país. Seu sucesso no serviço militar é reconhecido, mas, ao final, ela retorna para casa e retoma sua vida como mulher. Dessa forma, sua história é extraordinária, mas não ameaça a estrutura social estabelecida.

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Dong resgata que desde a balada inicial, o nome e a história de Mulan foram adaptados e recontados em diferentes gêneros ao longo das dinastias imperiais chinesas. Escritores do país enalteceram as façanhas da personagem, como sua lealdade, virtude e habilidades marciais, ao mesmo tempo em que acrescentavam detalhes vívidos à sua história.

Dito isso, no contexto das adaptações, sob a realização de Tony Bancroft e Barry Cook e com o argumento de Rita Hsiao, Chris Sanders, Philip LaZebnik, Raymond Singer e Eugenia Bostwick-Singer, “Mulan”, da Disney recebeu aclamação tanto da crítica quanto do público. No site Rotten Tomatoes, por exemplo, possui uma alta aprovação de 86% por parte dos críticos e 85% por parte do público. Isso destaca a recepção geralmente positiva do filme por ambos os grupos.

 

Sem dúvida, uma das razões para o sucesso de “Mulan” pode ser atribuída à sua narrativa inovadora e envolvente, que apresenta uma protagonista feminina forte e corajosa, desafiando os estereótipos de género e lutando por sua família e seu país. A mensagem de empoderamento feminino e igualdade de género ressoou tanto com a crítica quanto com o público, resultando em uma recepção positiva e uma base de fãs dedicada.

 

Outro aspecto que contribuiu para o sucesso de “Mulan” foi a representação respeitosa e sensível da rica cultura chinesa. O argumento de Hsiao, Sanders, LaZebnik, Singer e Bostwick-Singer incorporou elementos da tradição chinesa, desde a música até as vestimentas e a arquitetura, adicionando autenticidade e profundidade à história. Essa abordagem também reforça a importância do fomento à diversidade cultural no cenário audiovisual, que historicamente deu preferência às narrativas europeias e norte-americanas.

 

Fora isso, a trigésima sexta animação da Disney também foi reconhecida em premiações. Confirmando a qualidade da música presente na produção, a obra de Bancroft e Cook foi nomeada aos Óscares na categoria de Melhor Banda Sonora, para Jerry Goldsmith, Matthew Wilder e David Zippel. Adicionalmente, o filme ganhou 10 estatuetas no prestigiado Annie Awards, uma premiação dedicada exclusivamente a animações, incluindo o prémio de Melhor Filme. Esses prémios são um testemunho do impacto e reconhecimento que “Mulan” conquistou no mundo do cinema de animação.

Por esse ângulo, apesar de ter sido lançado há 25 anos, “Mulan” continua sendo uma das produções mais memoráveis da Disney. No entanto, o estúdio tentou capitalizar o sucesso do filme de forma questionável, lançando uma sequência direto para DVD em 2004 intitulada “Mulan II”, que foi mal recebida pela crítica.

Ainda, nesse cenário, em 2020, a Disney lançou um remake em live-action, que acabou enfrentando diversos obstáculos, como a pandemia que afetou as bilheterias e críticas quanto à qualidade inferior em comparação ao original. Além de tudo, a empresa de Walt Disney enfrentou repercussões negativas devido à descoberta de que algumas cenas foram filmadas em locais próximos a campos de detenção na China.

 

Fica evidente que, assim como outros remakes em live-action da Disney, “Mulan” não conseguiu igualar a qualidade do filme original. A tentativa do estúdio de capitalizar o sucesso do filme original com uma sequência direto para DVD e um remake em live-action foi claramente uma estratégia mercadológica que falhou em manter o mesmo nível de qualidade artística e narrativa do primeiro filme.

Nesse viés, portanto, é importante questionar as motivações da Disney em tentar lucrar com a nostalgia dos fãs de “Mulan”, em detrimento da qualidade artística do filme e da responsabilidade social da empresa. Bem ou mal, a Disney precisa aprender com esses erros e focar em produzir conteúdos de qualidade, em vez de apenas capitalizar o sucesso de suas produções passadas.

Contudo, por fim, é importante ressaltar que o legado do filme de 1998 não foi manchado de forma alguma, mesmo que o remake de 2020 não tenha sido um sucesso. A personagem de Mulan ainda é muito popular até hoje, e Ming-Na Wen, que dublou a personagem originalmente, continuou a trabalhar com a Disney em outros projetos, como a participação especial em “Ralph Breaks the Internet” alguns anos atrás.

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