“Honey Don’t!”, de Ethan Coen, é um thriller de comédia neo-noir banhado pelo sol que tenta fundir os clássicos dos detetives durões com uma sensibilidade queer e moderna.
Após a sua estreia a solo na realização com “Drive-Away Dolls”, Coen regressa de novo com Margaret Qualley e com mais uma história que mistura géneros, desta vez centrada em Honey O’Donohue (Margaret Qualley), uma investigadora privada arrogante que navega por uma teia de obscenidade, assassinato e romance equivocado.
A cinematografia de Ari Wegner é um dos elementos de destaque do filme. As ruas empoeiradas são retratadas em tons desbotados de postal de férias antigo, evocando uma estética retro que complementa o tom noir. A paleta visual inclina-se fortemente para a melancolia desbotada pelo sol, contrastando fortemente com as silhuetas nítidas e o guarda-roupa vintage da própria Honey. A figurinista Peggy Schnitzer apresenta-nos um visual consistentemente elegante, com as blusas, calças e saltos de Qualley a transmitir uma vibração de detetive dos anos 40 com um toque moderno.
O filme tenta satirizar a hipocrisia religiosa, a masculinidade tóxica e o distanciamento emocional, mas as ambições temáticas são prejudicadas por uma estrutura confusa que nunca chega a dar certo. Ainda há tempo para dar um “estalo” ao MAGA (Make America Great Again). As cenas de sexo são retratadas com casualidade, exploram a sensualidade mas acabam por ter uma naturalidade rara, principalmente em cenas de sexo lésbico que costumam ser usadas para alimentar uma espécie de fetiche masculino. Mesmo as cenas de sexo da personagem do líder de culto sexualmente compulsivo, o Reverendo Drew Devlin, interpretado por Chris Evans, são pontuadas por momentos ou de comédia ou violência.
“Honey Don’t!” é uma experiência divertida, mas que nunca cumpre totalmente a sua promessa. A narrativa carece de profundidade emocional e de articulação. Tenta ser, sem o conseguir, o que “Pulp Fiction” de Tarantino tão bem e tão ironicamente conseguiu ser. Uma pitada de “Breaking Bad” e um bocadinho de “Fargo”. As referências estão todas lá mas… Mas cena após cena, são apresentadas personagens com as quais não nos importamos — muitas delas apenas estereótipos — apenas para serem mortas de maneiras extravagantes ou simplesmente desaparecerem na história. Muitos plots em aberto mas que não levam a lugar nenhum. Mesmo no final abre-se mais um fio de uma história que fica por contar.
A maior falha acaba por ser a falta de mistério. Nos primeiros 15 minutos a história está desenrolada.
O filme tem data de estreia na salas portuguesas para o próximo 2 de Outubro.
