Conhecida hoje a seleção oficial da 75.ª edição da Berlinale, que decorre de 13 a 23 de fevereiro, o cinema português estará em competição na nova secção Perspectives, dedicada a primeiras longas-metragens de ficção, com o filme “Duas Vezes João Liberada”, escrito e realizado por Paula Tomás Marques.
Depois de cinco curtas-metragens, Paula Tomás Marques estreia a sua primeira longa num dos mais importantes festivais de cinema do mundo, o de Berlim, com uma produção independente de Cristiana Cruz Forte e Paula Tomás Marques em colaboração com a atriz principal e co-argumentista, June João. O filme é distribuído pela Portugal Film – Agência Internacional de Cinema Português.
André Tecedeiro, Jenny Larrue, Alice Azevedo, Caio Amado, Eloísa d’Ascensão e Tiago Aires Lêdo integram também o elenco deste filme que “explora os desafios de reconstruir e representar histórias queer no cinema, refletindo sobre os modos de escrita da História, as limitações narrativas de uma produção cinematográfica e o papel da atriz no processo criativo.”, refere em comunicado a Portugal Film.
“Duas Vezes João Liberada” segue João, uma atriz lisboeta, que protagoniza uma biopic sobre Liberada, uma dissidente de género perseguida pela Inquisição portuguesa no século XVIII. “A produção do filme torna-se num local de disputa quando João entra em conflito com o realizador sobre a forma como o legado de Liberada deve ser representado. Estas tensões intensificam-se à medida que os sonhos de João são assombrados pelo fantasma de Liberada, abrindo uma fresta entre o passado e o presente. Quando o realizador sofre de uma misteriosa paralisia, deixando o filme inacabado, João é deixada a navegar no caos que se desenrola. A atriz enfrenta perguntas sem resposta, não só sobre o futuro do filme, mas também sobre a sua própria ligação ao espírito e história de Liberada.”

Mais produções portuguesas na Berlinale 2025
O documentário “La Memoria de las Mariposas” de Tatiana Fuentes Sadowski foi seleccionado para integrar a secção Forum da Berlinale 2025. Neste documentário, filmado em Super 8 e que usa imagens de arquivo da Amazónia, invoca um diálogo entre os vivos e os mortos. Esta obra resulta de uma coprodução entre as produtoras peruanas Miti Films e Perpetua Cine, e a Oublaum Filmes, produtora portuguesa fundada por Ico Costa, que já estreou vários filmes no Festival de Berlim.
O filme nasce a partir de uma fotografia que a realizadora conheceu em Londres: o retrato de dois jovens escravizados que foram, levados para Londres em 1911. Resolvi seguir os seus passos e comecei a investigar, o que me levou a procurá-los em arquivos do Peru, Brasil, Irlanda, Inglaterra, Portugal, Estados Unidos e França. A maioria eram imagens de propaganda de projetos extrativistas e expedições colonialistas na Amazónia. O filme exigiu uma montagem de cortes e relações para desconstruir as narrativas históricas oficiais e revelar o que essas imagens escondem. (..) O filme é um limiar entre os arquivos e o presente, entre os vivos e os mortos. Tenta ser um meio, uma experiência que permite essas transmissões. afirma a realizadora peruana Tatiana Fuentes Sadowski.
Na semana passada, a Berlinale já tinha também anunciado que o filme “Mirage: Eigenstate”, do artista indonésio Riar Rizaldi, com coprodução portuguesa (Hangar – Centro de Investigação Artística) tinha sido selecionado para a secção Forum Expanded.