A estreia do filme “Club Zero” no 76º Festival de Cinema de Cannes, com Mia Wasikowska no papel principal, gerou uma reação negativa entre determinados indivíduos, despertando controvérsia e incitando fortes emoções. Uma cena em particular, na qual uma adolescente vomita sua refeição em um prato e, em seguida, a consome na presença de seus pais, provocou revolta em muitos espectadores. No entanto, é importante ressaltar que o filme recebeu uma ovação de cinco minutos após a exibição, destacando a polarização de opiniões sobre seu conteúdo.
A reação da audiência durante a projeção foi, indubitavelmente, marcada por uma surpresa evidente. Relatos da imprensa internacional mencionaram que alguns espectadores riam nervosamente durante a cena controversa, enquanto outros expressavam impaciência e desconforto, questionando internamente quando a sequência finalmente chegaria ao fim.
Previamente à exibição, o filme já havia apresentado um aviso de gatilho, alertando para a presença de cenas relacionadas a distúrbios alimentares. Além disso, nos créditos finais, uma nota informava que nenhum dos atores envolvidos havia sido submetido a perda de peso para as filmagens, buscando assim esclarecer que se tratava de uma representação cinematográfica.
No enredo de “Club Zero”, Mia Wasikowska interpreta Miss Novak, uma personagem que se junta a uma equipe em um internato internacional, com o intuito de ensinar sobre alimentação consciente e promover a ideia de que comer menos é uma prática saudável. Essa é a premissa oficial do filme, conforme divulgado em sua sinopse. A descrição ainda revela que os outros professores da escola demoram a perceber o que está acontecendo, e quando os pais começam a notar, o Club Zero já se tornou uma realidade inquietante.
Realizado por Jessica Hausner, que também é co-argumentista ao lado de Géraldine Bajard, ambas conhecidas por seu trabalho em “Little Joe: A Flor da Felicidade”, “Club Zero” conta também com a participação de Sam Hoare e Sidse Babett Knudsen no elenco, ambos conhecidos por seus papéis em produções de destaque como “Capitão América: O Primeiro Vingador” e “Westworld”, respectivamente.
Em uma nota escrita pela diretora Jessica Hausner, incluída no material de imprensa do festival, ela explora as questões abordadas pelo filme, questionando como os pais podem estar cientes do que ocorre nas escolas de seus filhos quando não possuem tempo e recursos suficientes para se dedicar a essa tarefa. Hausner destaca a dependência dos pais em relação aos professores, escolhendo um internato como pano de fundo para a trama, a fim de aprofundar essa temática.
A experiência pessoal da diretora na década de 1980, frequentando uma escola católica exclusivamente feminina, onde a ideia de comer pouco era predominante entre seus colegas, serve como base para o desenvolvimento do filme. Ela relata que, naquela época, as pessoas se limitavam a mastigar chicletes sem açúcar e ficavam chocadas ao testemunhar uma garota comendo um simples sanduíche de ovo durante o intervalo. Hausner revela que, secretamente, admiravam essa garota por sua indiferença em relação à opinião alheia, o que gerava uma dinâmica intrigante entre os estudantes.
Em crítica para o Screendaily, Wendy Ide observa que Hausner mais uma vez adota um estilo de atuação distinto, plano e declamatório para seus atores. Esse estilo funcionou bem em seu filme anterior, “Little Joe”, que abordava temas de biotecnologia e engenharia genética. No entanto, nesse novo filme, esse estilo é chocante e perturbador. Além disso, representa um desafio para os membros mais jovens do elenco, pois uma leitura estilizada e inquietante de um adulto talentoso, como a diretora da escola interpretada por Sidse Babett Knudsen, pode parecer uma atuação pobre de uma criança.
Por sua vez, Stephanie Bunbury, do Deadline, aponta que há uma sensação de que Hausner retrata seu pequeno grupo de obcecados por comida como um culto puro. Em outras circunstâncias, eles poderiam se fixar em outras formas de auto abnegação, mas o elemento crucial aqui é a fé cega que eles compartilham. Hausner já havia explorado a fé, fixações e auto ilusão em filmes anteriores, como “Lourdes”, que levantava a questão dos milagres sem respondê-la, e “Amour Fou”, que retratava dois jovens artistas do século XIX envolvidos no romance do suicídio. Em seu filme mais recente, “Little Joe”, a pesquisa científica irrestrita era o foco, representando outro tipo de obsessão, iluminado por neon.