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Dia Mundial do Trabalho: 7 filmes que abordam as relações de trabalho na sociedade

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“Eles não usam black-tie” (1981), de Leon Hirszman

O 1º de Maio simboliza uma tradição de luta e resistência que se tornou um marco na história dos trabalhadores em todo o mundo. Representa a determinação coletiva contra a exploração e a opressão promovidas pelos patrões, governos e sistemas judiciais.

Esta data foi instituída no Congresso da II Internacional Socialista em Paris como o Dia Mundial do Trabalho, em memória dos mártires de Chicago, que em 1886 protagonizaram uma mobilização histórica por melhores condições laborais. As reivindicações desses trabalhadores e a sua coragem em desafiar as normas da época tornaram-se uma referência global na luta pelos direitos laborais.

Em Maio de 1886, milhares de trabalhadores de Chicago ocuparam as ruas em protesto contra as condições de trabalho exaustivas e desumanas, exigindo a redução da jornada laboral de 13 para 8 horas diárias. O movimento foi marcado por passeatas, piquetes e discursos. Contudo, a resposta das autoridades foi brutal, resultando em inúmeros confrontos com a polícia que deixaram feridos, detidos e até mortos.

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À medida que os protestos intensificavam, a repressão das autoridades atingiu níveis alarmantes. Foi decretado o Estado de Sítio e proibida a presença de trabalhadores nas ruas. Milhares foram presos, sedes sindicais foram destruídas e gangsters contratados pelos patrões invadiam casas de operários, cometendo actos de violência e vandalismo.

No auge da repressão, as autoridades levaram a julgamento os líderes do movimento: August Spies, Sam Fielden, Oscar Neebe, Adolph Fischer, Michel Schwab, Louis Lingg e Georg Engel.

Apesar das provas questionáveis e das testemunhas duvidosas, cinco deles – Parsons, Engel, Fischer, Lingg e Spies – foram condenados à morte, enquanto Fielden e Schwab foram sentenciados a prisão perpétua e Neebe a quinze anos de reclusão.

Assim, o 1º de Maio presta homenagem a esses líderes laborais norte-americanos que foram executados em 1886, em Chicago, por defenderem os direitos dos trabalhadores. Esta data é um tributo à sua coragem e ao impacto das suas acções, que continuam a inspirar as lutas laborais por dignidade e justiça até hoje.

Em Portugal

Num artigo publicado no JPN, Filipa Silva destaca que a primeira celebração do 1º de Maio em Portugal após a Revolução dos Cravos foi um marco histórico. A manifestação tornou-se a maior até então organizada no país, reunindo mais de meio milhão de pessoas em Lisboa.

Para muitos portugueses, o evento representou uma forma de expressar o apoio ao 25 de Abril, que havia restaurado a democracia no país apenas uma semana antes.

No Brasil, por outro lado, o Dia do Trabalho é celebrado desde 1895 e tornou-se feriado nacional em Setembro de 1925, por decreto presidencial.

Nossa secção

Para assinalar o Dia Mundial do Trabalho, o Cinema Sétima Arte preparou uma selecção especial de filmes que abordam a temática laboral. Esta é uma homenagem sincera aos trabalhadores de todas as áreas e uma oportunidade para reflectir sobre a importância das relações de trabalho na sociedade.

Acreditamos que o trabalho é uma das principais formas de realização pessoal e profissional e que merece ser valorizado e respeitado em todas as suas expressões.

Convidamos, portanto, todos a assistir aos filmes seleccionados e a inspirar-se com as histórias e personagens que retratam a força e a dedicação dos trabalhadores em todo o mundo.

“Germinal” (1993), de Claude Berri

A Revolução Industrial, que teve lugar no século XVIII na Europa, foi um marco de profundas transformações políticas, económicas e sociais que moldaram a história da humanidade. Este período deu origem a novos modelos de organização da produção e do trabalho, como a fábrica, que substituiu a produção artesanal e iniciou uma nova etapa no desenvolvimento industrial.

Neste contexto, o escritor francês Émile Zola, uma das figuras mais representativas do naturalismo literário, publicou, em 1885, a sua obra-prima, “Germinal”. O livro descreve, de forma extraordinária, as mudanças provocadas pela Revolução Industrial em França, focando-se especialmente nas condições de trabalho e nas lutas de classe presentes na sociedade capitalista.

A narrativa decorre nas minas de carvão de França, onde os trabalhadores enfrentam uma realidade brutal, com jornadas extenuantes, salários miseráveis e condições de vida precárias. O protagonista, Étienne Lantier, é um jovem mineiro que, indignado com a exploração e a miséria a que está sujeito, lidera uma greve em busca de melhores condições.

A obra de Zola, com o seu estilo realista e minucioso, retrata o processo de implantação do capitalismo nas cidades, o ritmo frenético da produção e a exploração impiedosa dos trabalhadores pelos patrões. A história também aborda as mudanças sociais da época, como o surgimento da classe operária e a luta pela conquista de direitos laborais.

A adaptação cinematográfica de “Germinal”, realizada por Claude Berri em 1993, transmite de forma intensa e realista as duras condições de trabalho nas minas de carvão, a luta dos trabalhadores e as consequências da exploração desenfreada.

O filme faz uma crítica contundente à brutalidade do capitalismo e alerta para a importância da luta pela justiça social e pelos direitos dos trabalhadores.

“Eles não usam black-tie” (1981), de Leon Hirszman

O filme “Eles não usam black-tie”, realizado por Leon Hirszman em 1981, adapta a peça homónima de Gianfrancesco Guarnieri e traz à tona a realidade dos operários durante a greve dos metalúrgicos de São Paulo, em 1979, um período que ficou marcado pelo fim da ditadura militar no Brasil.

Através do desenrolar da trama, o filme ilustra o protagonismo crescente dos trabalhadores na luta contra o regime, sublinhando que a mobilização operária foi essencial para a queda da ditadura.

Além disso, a película explora as diferentes formas de resistência que emergiram em diversas regiões, mostrando os desafios e as especificidades enfrentados pelos trabalhadores em cada contexto.

Um dos pontos-chave do filme é a dificuldade de organização, refletindo os conflitos não apenas entre trabalhadores e patrões, ou sindicalistas e a ditadura, mas também entre os próprios trabalhadores e sindicalistas, cujas divergências políticas e estruturais complicavam ainda mais a busca por unidade.

Assim, a produção convida à reflexão sobre a importância da solidariedade e da união entre os trabalhadores na luta por melhores condições de trabalho e pela conquista de direitos fundamentais.

“Pão e Rosas” (2000), de Ken Loach

“Pão e Rosas” conta a história de um grupo sindical de trabalhadores terceirizados do setor de limpeza nos Estados Unidos, que luta contra a precarização extrema do trabalho. A trama baseia-se numa mobilização real ocorrida em Los Angeles, em 1990, e retrata a desintegração do tecido social num contexto semelhante ao proposto pela reforma trabalhista no Brasil.

Sob a realização de Ken Loach, o renomado cineasta de “Eu, Daniel Blake”, o filme aborda de forma profunda os direitos trabalhistas e sindicais, bem como a questão da imigração nos Estados Unidos, com especial enfoque nas comunidades mexicanas e caribenhas.

A obra expõe, de forma clara, os traços distintivos de um trabalho de alta precariedade, que incluem assédio moral por parte do supervisor, a invisibilidade dos trabalhadores terceirizados, disparidades salariais gritantes resultantes da falta de proteção coletiva, dificuldades de representação sindical, tentativas do empregador de semear conflitos entre os trabalhadores, práticas machistas, demissões em massa, tentativas do contratante em eximir-se da responsabilidade pelo trabalho precário e repressão policial às manifestações.

“O Corte” (2005), de Costa-Gavras

“O Corte” é um filme que explora as consequências da competição feroz imposta aos trabalhadores na sociedade moderna. Através da figura de um assassino em série, Costa-Gavras oferece uma crítica profunda e perturbadora sobre como a luta pela sobrevivência no mercado de trabalho pode levar as pessoas a situações extremas e impensáveis.

O protagonista, Bruno, é um homem que sente a pressão de competir incessantemente para garantir o seu lugar na sociedade. A sua procura desesperada por um emprego leva-o a adotar atitudes cada vez mais agressivas, como perseguir e sabotar outros candidatos desempregados.

A metáfora da “luta pela sobrevivência do mais forte” torna-se ainda mais impactante ao percebermos que Bruno é também um assassino em série, o que dá uma tonalidade ainda mais sombria à narrativa e amplifica a crítica social.

Embora a história seja marcada por tensão e drama, o filme encontra espaço para momentos de humor, que equilibram a carga emocional e tornam a mensagem mais acessível ao público.

No final, “O Corte” oferece um olhar contundente sobre os efeitos desumanizadores da competição desenfreada, que caracteriza a sociedade contemporânea, revelando as consequências de um sistema que coloca os indivíduos uns contra os outros em nome da sobrevivência.

 

“Passámos por Cá” (2019), de Ken Loach

“Passámos por Cá”, realizado por Ken Loach, narra a luta diária de uma família que tenta encontrar o seu lugar num mercado de trabalho cada vez mais instável. Com uma mãe a trabalhar como cuidadora de doentes, um pai a fazer entregas como trabalhador independente e dois filhos a enfrentar a adolescência, a família é marcada pela exaustão e pela precariedade das condições laborais do presente.

O filme aborda a questão da “uberização do trabalho”, fenómeno que tem vindo a crescer nos últimos anos e que envolve a mediação de serviços como transporte e entrega através de plataformas digitais.

No enredo, o pai da família vê-se numa situação difícil, considerando vender o carro da mulher — que trabalha com idosos e pessoas com deficiência — para adquirir um veículo maior e assim aumentar o seu volume de entregas.

A “uberização do trabalho” tem-se espalhado por diversos sectores económicos, especialmente após a pandemia, criando novas realidades de trabalho que impõem longas jornadas, ausência de direitos laborais e uma sensação de instabilidade económica.

O filme de Loach faz-nos refletir sobre o impacto desta realidade nas famílias e nos indivíduos, que tentam sobreviver num sistema que parece cada vez mais indiferente às suas necessidades.

“7 Prisioneiros” (2021), de Alexandre Moratto

“7 Prisioneiros”, de Alexandre Moratto, é um filme impactante que aborda uma realidade alarmante: a escravidão moderna, ainda presente no Brasil.

A história segue Mateus, um jovem do interior que vai a São Paulo em busca de uma oportunidade de trabalho, mas acaba a cair nas garras de um sistema de exploração brutal.

Através da trajetória de Mateus, o filme expõe de forma clara e directa os mecanismos de opressão e abuso que sustentam este tipo de exploração. O personagem Luca, interpretado por Rodrigo Santoro, é o responsável pelo ferro-velho onde Mateus é forçado a trabalhar. Luca representa a face mais sombria da ganância, sendo capaz de tudo para alcançar lucros, mesmo que isso implique tratar seres humanos como mercadorias.

A produção não é apenas uma história sobre um jovem em situação de vulnerabilidade, mas também uma reflexão sobre os mecanismos de desigualdade e exploração que continuam a assolar a sociedade brasileira.

O filme provoca uma reflexão profunda sobre o impacto da escravidão moderna e a urgência de estarmos atentos a estas realidades, para que possamos combater a violência e a injustiça que as sustentam. É um apelo à acção, para que todos possamos contribuir para a construção de um futuro mais humano e justo para todos.

“Tempos Modernos” (1936), de Charles Chaplin

Na década de 1930, pouco depois da crise financeira de 1929, conhecida como a “Grande Depressão”, “Tempos Modernos”, obra-prima de Charles Chaplin, conta a história de um trabalhador comum que busca melhorar sua vida profissional e pessoal, enquanto se vê imerso em uma sociedade onde os avanços tecnológicos convivem com severos conflitos sociais.

A crise económica dessa época provocou uma grande recessão, que levou ao colapso da bolsa de valores de Nova Iorque e agravou as desigualdades sociais, gerando uma onda de desemprego, fome e miséria.

O filme ilustra a tentativa dos donos dos meios de produção de aumentar seus lucros, recorrendo à exploração dos trabalhadores.

Ao mesmo tempo, a revolução tecnológica da “modernidade” impôs novos métodos de produção nas fábricas, com o objetivo de melhorar a eficiência e a produtividade. O taylorismo e o fordismo foram adotados pelos empresários como formas de aumentar a produção e os lucros.

Nesses modelos, os trabalhadores eram encarregues de tarefas repetitivas e específicas, o que aumentava a produtividade e os lucros dos patrões, mas sem que os operários tivessem consciência do processo total de fabrico dos produtos.

* Com informações do CST PSOL