O documentário de montagem “Sempre”, de Luciana Fina, artista italiana radicada em Portugal desde os anos 1990, vai abrir a 22.ª edição do Doclisboa – Festival Internacional de Cinema, em Lisboa, na Culturgest, no Cinema São Jorge, na Cinemateca Portuguesa e no Cinema Ideal.
Construído a partir dos arquivos cinematográficos da Cinemateca Portuguesa, do ANIM e da RTP, que convidou Luciana Fina para conceber uma instalação por ocasião da celebração dos 50 anos do 25 de Abril, que esteve em exposição na Cinemateca até junho deste ano, “‘Sempre’ é um tributo ao cinema que interferiu na história e que restitui hoje a hipótese de um momento extraordinário. O filme atravessa a asfixia do salazarismo e da PIDE, as ocupações estudantis de 1969, o Movimento das Forças Armadas de 1974, os sonhos, programas e perspectivas do PREC, o ‘Verão Quente’, a descolonização e, sobretudo, propõe de novo os gestos de grandes cineastas que entraram em acção juntamente com artistas, compositores e directores de rádio”, lê-se no texto que apresenta o filme de abertura do Doclisboa.
“É no plano da arte combinatória da montagem, entendida aqui como uma maneira de produzir sentido através da combinação de elementos e tempos heterogéneos, que procuro a tensão de um cinema reflexivo e simultaneamente generativo, para que se abra o encontro entre o Outrora e o Agora”, acrescenta Luciana Fina na sua nota de intenções. O filme de Luciana Fina esteve recentemente na secção paralela Giornate degli Autori da 81.ª edição do Festival de Veneza.
A sessão de encerramento caberá a “O Dia Que Te Conheci”, do realizador brasileiro André Novais Oliveira, uma “espécie de comédia romântica involuntária”. O filme retrata a história de um homem e de uma mulher (Renato Novais e Grace Passô) que tentam permanecer à tona num mundo desajustado, e que um dia se conhecem.
“Essa questão da comédia romântica não foi muito pensada, mas sim a questão do humor, da tentativa de trazer humor para o filme. Isso vem desde o meu curta Fantasmas, que fiz em 2010. Tem humor e a maioria dos filmes que dirigi aborda relações e relações amorosas”, refere o realizador, que estará presente nesta edição do Doclisboa. “Gosto muito de retratar o quotidiano de uma forma mais direta nos meus filmes”, explica o realizador.
O festival anunciou ainda um programa especial, Back to the Future, que propõe “percorrer em alguns filmes o vínculo que liga o modernismo, ou seja, nada mais nada menos do que a utopia do século XX, e o cinema”. Nesta secção destacam-se filmes até agora inéditos em Portugal, como “Traité de bave et d’éternité” (1951), de Isidore Isou, “Per Speculum” (2006), de Adrian Paci, “If and If Only” (2005), do artista Anri Sala, e “Phantoms of Nabua” (2009), do tailandês Apichatpong Weerasethakul.
Organizado pela Apordoc – Associação pelo Documentário, a programação completa da 22.ª edição do Doclisboa será revelada a 1 de outubro.