“Morada”, uma produção Terratreme que dá voz a mulheres cinéfilas dos anos 80, estreia nos cinemas

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Espectadoras do cinema, de si próprias, de uma cidade.
Porto de uma “história do cinema”, de um lugar, de um país mas também de um mundo em mudança.

Depois de estrear na 40.ª edição do Festival Cinematográfico Internacional del Uruguay, “MORADA” a longa-metragem documental da realizadora Eva Ângelo, e produção da TERRATREME, chega dia 16 de Fevereiro aos cinemas portugueses.

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Tem como ponto de partida o testemunho de um grupo de mulheres cinéfilas que, entre os anos 70 e 90, e sob um clima de repressão, viram nos espaços de cinema da cidade do Porto, um lugar de reunião, laços, pertença e resistência política. São a voz de uma geração marcada pelo cineclubismo e que viveu intensamente a experiência cinematográfica em sala de cinema.

Eu tinha 4 ou 5 anos (…)  foi a minha primeira experiência com o cinema. Depois saí de Bragança, fui para o Alentejo. No Alentejo não havia/vi muito cinema. Depois fui para a Figueira da Foz e então aí vi muito cinema! Nessa altura havia duas salas de espetáculo, (…) o “Parque Cine” que passava os filmes daquela época que eram o nosso delírio (…) e a “Sala do Casino” (…). Depois fui para Lamego. Em Lamego a coisa já era mais difícil. Mas iamos ver tudo, iamos sempre ao cinema! Quando queríamos ver um filme melhorzinho tínhamos que ir à Régua, não passava em Lamego. Foram as minhas experiências até aos meus 20’s e tal. Depois vim para o Porto e então aqui era sempre cinema! Maria José Coelho

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O filme divide-se entre o diálogo etnográfico e a observação dos lugares da cidade, salas onde ainda hoje estas mulheres se continuam a sentar enquanto a luz invade a tela. Dentro da própria obra, cada uma das participantes foi convidada a intervir à medida que o filme foi progredindo, empoderando as recordações, legitimando os discursos e aprofundando as relações. Talvez por isso Eva Ângelo se intitule de co-realizadora, já que todo o projeto se tratou de um trabalho colaborativo e participativo.

É nesse espaço de convívio e afetividade que o filme vai buscar uma polifonia invulgar de vozes narrativas. Que trazem para a tela as suas impressões e experiências enquanto espectadoras de cinema (…) ao mesmo tempo que refletem os ritmos sociais e urbanos que se cruzam com os primeiros movimentos cinéfilos. E vagamos assim também pela cidade do presente. João Acciaiuoli Catalão

Também a realizadora Eva Ângelo  experimenta hoje aqueles mesmos lugares, vivendo a história que ela própria quer contar: “Antes e depois de ser realizadora, sou espectadora. E é nesse lugar de espectadora que habito um dos lugares mais felizes da minha vida”.

Nasceu nas Caldas da Rainha, onde iniciou a sua formação em desenho, e mudou-se depois para o Porto, onde se licenciou em Fotografia e em Light and Sound Design pela Escola Superior de Música. Estudou também Design Gráfico e Multimédia no Centro de Formação Alquimia da Cor no Porto, e mais tarde obteve o grau de Mestre em Antropologia – Culturas Visuais pela FCSH, em Lisboa. Trabalha com imagem e vídeo desde 1999, realizando e editando em colaboração com criadores de Artes Cénicas.

Desde 2008, que o seu interesse pelo documentário a conduziu ao campo da pesquisa etnográfica. Como documentarista, a sua abordagem coloca em foco as pessoas, os lugares, e trabalha cada projeto com base na dramaturgia e nos processos criativos das artes cénicas. Mais recentemente, o seu campo de investigação tem-se centrado na discussão das práticas educativas, na receção do cinema pelo público e no papel do espectador.

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A produtora TERRATREME, criada em 2008 por um grupo de jovens cineastas, é uma das presenças mais fortes, entre as produtoras portuguesas, nos principais festivais de cinema do mundo (Cannes, Berlim, Locarno, Nyon, Marselha, Roterdão, San Sebastian, Buenos Aires, Rio de Janeiro, Brasília, Chicago, Nova York, Toronto), tendo no seu catálogo dezenas de filmes, entre os quais os mais recentes “Lobo e Cão” de Cláudia Varejão ou “Fogo-Fátuo” de João Pedro Rodrigues.

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