Morreu António-Pedro Vasconcelos, um dos nomes incontornáveis do Novo Cinema Português

António-Pedro Vasconcelos (1939-2024) António-Pedro Vasconcelos (1939-2024)
António-Pedro Vasconcelos (1939-2024)

O cinema português perdeu uma das suas figuras mais carismáticas, António-Pedro Vasconcelos, um dos nomes incontornáveis do Novo Cinema Português. A notícia foi avançada por João Soares, na sua conta de Facebook. O produtor, crítico, professor e realizador faleceu esta quarta-feira em Lisboa, a poucos dias de completar 85 anos.

“Homem de Esquerda”, benfiquista ferrenho, defensor da democracia e de políticas públicas para a cultura e lutou contra a privatização da TAP, Vasconcelos foi sempre uma figura crítica e ativa na sociedade portuguesa. Autor de obras icónicas do cinema português, algumas delas com grande êxito de bilheteira nas salas de cinema em Portugal, e outras premiadas em festivais de cinema internacionais. “O Lugar do Morto” (1984), “Jaime” (1999), “Os Imortais” (2003) e “Call Girl” (2007) são exemplo disso.

João Soares lamenta a morte de Vasconcelos e recorda-o como “um homem de esquerda”, apoiante de Mário Soares: “Recebo com grande tristeza a noticia da morte de António Pedro Vasconcelos. Admirava o muito como cineasta, a obra que nos deixa é notavel. Também como cidadão cujas opiniões respeitava, e muitas vezes seguia. Um homem de esquerda, desde quase sempre próximo do PS. Teve um papel muito importante na campanha presidencial do meu pai em 1986. Foi amigo e apoiante sem falhas de Mario Soares, sempre. A honrar a sua memória aqui fica aquele trecho da letra do inesquecivel Rock da Liberdade que escreveu em 1986: “Para nós só há a Liberdade..”. A sua família os meus sentidos pêsames. Honra à memória de Antonio Pedro Vasconcelos.”

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Também a Academia Portuguesa de Cinema (APC), de quem António-Pedro era membro honorário e vencedor do Prémio Sophia de Carreira em 2020, demonstrou “profunda tristeza” pela morte do realizador. “Um lutador de causas cívicas, foi ainda professor na Escola de Cinema do Conservatório Nacional e coordenador da licenciatura em Cinema, Televisão e Cinema Publicitário da Universidade Moderna de Lisboa. A toda a sua família, colegas e amigos os nossos mais sinceros sentimentos.”, conclui a Academia em comunicado.

Segundo a APC, António-Pedro Vasconcelos foi um agitado defensor “de uma indústria cinematográfica com espaço para todos os géneros” e um proceloso envolvido “em campanhas políticas e em combates cívicos, ligados por exemplo à RTP e à TAP.”

“A par da realização foi produtor de cinema, tendo sido um dos fundadores da V.O. Filmes, Opus Filmes e da cooperativa Centro Português de Cinema, que produziu a maior parte dos filmes do Cinema Novo Português. Foi apresentador do programa Cineclube, na RTP2; fez crítica literária e cinematográfica, tendo chefiado a redação de O Cinéfilo (Suplemento de cinema e O Século) com João César Monteiro, foi colunista da Visão e director de A Semana, suplemento do Independente.”

A propósito de um ciclo de cinema em homenagem a Vasconcelos, em 2018, a Cinemateca Portuguesa escrevia: “Viajar pela obra de António-Pedro Vasconcelos é assim viajar por mais de meio século de cinema português e pelos debates levados a cabo no seio dele, desde um cinema muito próximo da vida e da vivência do autor (o lado autobiográfico que é também uma das suas vertentes Nouvelle Vague)”

Catarina Martins, dirigente nacional do Bloco de Esquerda, lembra o cineasta: “Os filmes, sempre os filmes, as conversas, os debates acessos sobre política cultural, os livros, a luta contra as privatizações que assaltam o país. O tanto que te devemos. Obrigada.”

Vasconcelos estudou direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e Filmografia na Universidade de Sorbonne, mas foi a partir dos anos 70 que, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e a criação do Centro Português de Cinema, o cineasta realizou a sua primeira longa-metragem “Perdido por Cem” (1973), fazendo assim parte do movimento do Novo Cinema Português, em pleno romper da Revolução de Abril.

Seguiu-se “Oxalá” (1980), também fortemente influenciado pela Nouvelle Vague, mas antes participou na realização do documentário coletivo pós-revolução “As Armas e o Povo” (1975).

Na década de 1980 seguiram-se alguns filmes de grande êxito comercial como “O Lugar do Morto” (1984) e “Jaime” (1999). Em 2007 estreia “Call Girl”, o seu filme mais visto nas salas de cinema, por mais de 232 mil espectadores, ocupando ainda o nono lugar do ranking dos filmes nacionais mais vistos entre 2004 e 2024. Seguiram-se outros sucessos de bilheteira como “A Bela e o Paparazzo” (2010), Os Gatos não Têm Vertigens” (2014) e Amor Impossível” (2015). Os seus últimos filmes foram Parque Mayer” (2018), protagonizado por Francisco Froes, Daniela Melchior e Diogo Morgado, e “KM 224” (2022), drama familiar que acompanha a história de um divórcio conflituoso”.

Na televisão realizou filmes e séries documentais, como o caso da co-produção luso-francesa “Aqui d’El Rei!” (1992) e “Mílu, a Menina da Rádio” (2007) e mais recentemente “A Voz e os Ouvidos do MFA” (2017).

Inconfundível e acarinhado pelo o público, Vasconcelos deixa-nos uma obra incontornável do cinema português.

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