Criada em 2022, a Mutim – Mulheres Trabalhadoras das Imagens em Movimento, é uma associação que visa contribuir para a representação equitativa no setor audiovisual e cinematográfico, fomentando a paridade através do estudo, debate a apoio às mulheres e temáticas que as abrangem.
Tem como objetivos – entre outros – incentivar à criação de imagens reais, diversificadas e não estereotipadas das mulheres, contribuindo assim para a discussão pública e criação de um novo imaginário para futuras gerações; defender a igualdade de oportunidades e a presença paritária em cargos, administrações, comissões e júris (sobretudo dos organismos públicos deste setor); combater a discriminação e o assédio no meio do cinema e do audiovisual; e, promover, apoiar e divulgar estudos sobre o panorama das mulheres no que respeita ao desenvolvimento dos pontos anteriores.
Surge neste seguimento o mais recente relatório português, “A Condição da Mulher nos Sectores do Cinema e do Audiovisual em Portugal”, um estudo MUTIM, em parceria com a XX Element Project – Associação Cultural, que conta com apoio do ICA, da Netflix e da APIT (Associação Portuguesa de Produtores Independentes), executado pelo Centro de Estudos de Comunicação e Cultura (CECC) da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa. Iniciado em novembro de 2022, é coordenado por Catarina Duff Burnay e elaborado pelos investigadores Nelson Ribeiro, João Félix e a investigadora Isadora de Ataíde Fonseca.
Os dados preliminares agora divulgados demonstram que:
- 22.3% dos indivíduos têm contrato de trabalho sem termo e 39.8% trabalham com recibos verdes sem contrato;
- 54,2% dos homens inquiridos afirma ter começado a trabalhar na área ainda antes da conclusão da sua formação, tendência que, no caso das mulheres é inversa (41,9%);
- 59% das mulheres que responderam têm um rendimento até 14.999€ brutos, contrastante com 40% dos homens;
- sobre a necessidade de desistir/abdicar de trabalho por causa da conciliação com a maternidade/paternidade, 51.9% responde afirmativamente, com mais mulheres a sentirem esse imperativo (60.2%) do que homens (39%);
- quanto às perspetivas de evolução na carreira, a maioria encontra-se “insatisfeita”, com as mulheres a manifestarem de forma mais acentuada do que os homens esse desagrado;
- sobre o grau de satisfação com o momento atual dos sectores de atividade, 31.8% referiu sentir-se “satisfeito” ou “muito satisfeito”, enquanto que 68.2% referiu sentir-se “insatisfeito” e “muito insatisfeito”;
- a indefinição em relação à existência de trabalho no mês seguinte fez com que 66.3% dos indivíduos afirmassem que era uma causa de stresse e de ansiedade, independentemente do género;
- confrontados com um conjunto de afirmações relativas a vivências e percepções, a maior parte dos respondentes escolheu:
- “a maioria dos cargos de chefia é ocupado por homens” (66.3%);
- “os homens têm mais facilidade de/maior acesso a cargos de chefia do que as mulheres” (61.5%);
- “nas equipas de trabalho em que costumam estar inseridos/as, há mais homens do que mulheres” (57.4%);
- numa divisão por género, percebe-se que tanto as mulheres como os homens assinalaram e corroboram estas afirmações;
- do total das mulheres que responderam, 41.6% foram vítimas de discriminação de género, 37.6% foram vítimas de assédio no local de trabalho e/ ou no desempenho de funções, 7.5% foram vítimas de xenofobia e 1.4% foram vítimas de racismo.
Nas palavras de Mariana Liz, professora na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e associada fundadora da MUTIM, “este estudo vem complementar a investigação histórica e teórica que tem sido feita sobre a situação das mulheres no cinema e audiovisual em Portugal. Ao oferecer dados quantitativos atualizados é também um instrumento fundamental para o desenho de políticas públicas para o setor, que há muito requerem um novo olhar e medidas concretas no que diz respeito à igualdade de género“. O relatório com dados e análise finais tem data de conclusão prevista para o último trimestre de 2023.