Os sucessos financeiros do “Mundo Jurássico” e de “Star Wars: O Despertar da Força” (atualmente a quarta e a terceira maior bilheteira do mundo) revela que a tendência pelas sequelas está viva e a (re)visita a uma franquia bem estabelecida, com personagens e iconografias famosas e queridas a tantas pessoas, traduz-se em boas projecções financeiras. Das dez maiores bilheteiras mundiais atualmente, sete são sequelas. A produção de uma sequela não garante um sucesso financeiro (“Hora de Ponta 3” e “Quarteto Fantástico” são dois exemplos de um fracasso financeiro), mas o uso de iconografia e personagens bem conhecidas, como o Millennium Falcon e o dinossauro T-Rex, certamente ajuda, apesar do fracasso do enredo do filme.
Os dois filmes usam as iconografias famosas das suas respectivas franquias e, pela maior parte, usam as mesmas histórias dos primeiros filmes da franquia: dinossauros perigosos escapam das suas jaulas e aterrorizam uma ilha isolada, e um robô com planos secretos tem que ser retornado aos rebeldes para poderem destruir uma estação espacial que tem a capacidade de aniquilar um planeta. O ponto de divergência entre os dois filmes diz respeito às personagens, e isso é um dos pontos que produz o fracasso do “Mundo Jurássico” e o triunfo de “Star Wars: O Despertar da Força” como sequelas.
A inclusão dos atores Harrison Ford, Carrie Fisher e Mark Hamil nos seus papéis icônicos levou muitos a pensar se esta inclusão não seria uma distracção das histórias do Rey (Daisy Ridley) e do Finn (John Boyega), destacados como personagens principais nos trailers. Será que eles não ‘roubariam’ o filme da mesma maneira como os “Minions” o fizeram em “Gru – O Maldisposto” (2010)? O tempo limitado dessas personagens no filme faz com que a audiência invista mais emocionalmente com a Rey e o Finn. Indiscutivelmente esta é a melhor qualidade do filme porque a história justamente foca nas novas personagens e a ‘velha guarda’ de Ford, Fisher e Hamil servem simplesmente como apoio à Rey e ao Finn. Quem já viu a primeira trilogia já sabem quem são Han Solo, princesa Leia e Luke Skywalker, e suas inclusões nesse filme não distrai da história principal. Os papéis são tratados da mesma maneira como as iconografias e os efeitos especiais, com moderação para focar na história.
Infelizmente o “Mundo Jurássico” não utiliza essa mesma moderação. O filme introduz personagens novas sem ligação às personagens dos primeiros filmes. Um novo empresário construi um novo parque com nova equipa e povoa-o com novos dinossauros. Qualquer ligação emocional por parte da audiência com essas novas personagens é inexistente. Enquanto “Star Wars: O Despertar da Força” introduz-nos três personagens principais (Rey, Finn e Kylo Ren, interpretado por Adam Driver), “Mundo Jurássico” introduz várias personagens sem muito desenvolvimento emocional além das funções necessárias para manter a história num rumo previsível. As personagens são demasiadas superficiais e torna-se difícil de criar uma empatia com a audiência. O que resta para a audiência em termos de nostalgia são as referências à franquia.
O filme tenta homenagear a franquia de várias maneiras, como o ataque dos dinossauros ao veículo das crianças (Ty Simpkins e Nick Robinson) o logotipo, a música e várias outras referências ao filme original. Porem, ao invés de simplesmente homenagear a franquia e focar na história, o filme bombardeia a audiência com demasiadas referências e alusões ao filme original. Em vez de consertar o maior problema (ou seja, desenvolver personagens com quem a audiência se possa identificar) o filme lança mais cenas de acção repletas de efeitos especiais numa tentativa de esconder as superficialidades das personagens e o enredo previsível.
Embora ambos filmes tenham bons pontos (os efeitos especiais são extraordinários e são divertidos de assistirem), “Star Wars: O Despertar da Força” vence como sequela por causa da sua história e personagens bem desenvolvidas, enquanto que o “Mundo Jurássico” foca demasiadamente mais nos efeitos especiais e nas referências à franquia do que nas suas personagens. A magia resta, neste caso, numa galáxia muito, muito distante.