Agora que 2015 chegou ao fim, está na hora de fazer a matemática mental para equacionar quais os dez filmes que mais me marcaram.
Fica o aviso de que “Whiplash – Nos Limites ” e “Birdman” ficaram de fora do top 10. Embora fossem ocupar o pódio dos melhores filmes que por cá estrearam em 2015, quando os vi ainda decorria 2014, decidi, portanto, deixa-los de fora em prol de filmes mais recentes que tenha, de facto, visto em 2015.
10.º – Táxi, de Jafar Panahi (Irão)
“Nada me pode impedir de fazer filmes…” disse Jafar Panahi antes da estreia de “Táxi” no Festival de Berlim, e a verdade é que depois de ter sido proibido pelo governo iraniano de fazer filmes durante vinte anos, este é o terceiro filme que exibe.
Apesar de não estar ao nível de “Isto Não É um Filme” (2011) ou “Pardé” (2013), a relevância de “Táxi” encontra-se, sobretudo, no retrato de Teerão através das viagens do próprio Panahi pela cidade e do diálogo com os seus passageiros sobre a vida política, artística e religiosa da capital.
9.º – Uma Rapariga Regressa de Noite Sozinha a Casa, de Ana Lily Amirpour (EUA)
Tudo neste filme é fortemente estilizado, tal como em “Drive – Risco Duplo”, de Nicolas Winding Refn, mas bebe muito do spaghetti western de Sergio Leone. Este é um filme onde se funde pársi com a paisagem californiana. É este tipo de misturas que me agradam e é bom ver que filmes destes continuam a aparecer pelo menos uma vez por ano.
8.º – Vai Seguir-te, de David Robert Mitchell (EUA)
“Vai Seguir-te” procura um estilo clássico de cinematografia, banda sonora e narrativa para se aproximar dos clássicos filmes de terror de Hollywood, dando-lhes uns pequenos ajustes aqui e ali para criar algo novo e interessante. O filme agarra-nos logo no primeiro plano e a partir daí não nos larga mais, mesmo após perder alguma força perto do final.
7.º – Timbuktu, de Abderrahmane Sissako (França)
Não é por acaso que este filme está nomeado ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Destes dez filmes, é o mais simples e genuíno.
“Timbuktu” centra-se nas gentes do Mali após um casal ter sido morto pelas milícias de um grupo fundamentalista islâmico. O filme é como uma brisa que agita os pensamentos e as opiniões, procurando compreender a fúria que se alastra não só pelo Médio Oriente, mas por quase todo o continente africano.
6.º – Love & Mercy, de Bill Pohlad (EUA)
Bill Pohlad passou anos em Hollywood a produzir filmes para alguns dos melhores realizadores (“12 Anos Escravo”, “A Árvore da Vida”, “O Segredo de Brokeback Mountain, entre outros”) e isso é evidente em “Love & Mercy”, o seu primeiro filme como realizador. O filme é uma obra biográfica do músico Brian Wilson, a mente criativa por detrás dos The Beach Boys.
A forma como Paul Dano e John Cusack captaram as vulnerabilidade de um Brian Wilson cada vez mais perturbado pelos seus problemas psicológicos é de se tirar o chapéu, principalmente Paul Dano, por revelar o cariz peculiar do processo criativo do músico sem nunca cair no cliché do artista excêntrico.
Também com grandes interpretações, embora em papeis secundários, estão Paul Giamatti e Elizabeth Banks.
5.º – O Que Fazemos nas Sombras, de Jemaine Clement e Taika Waititi (Nova Zelândia)
Este filme é talvez a melhor comédia de 2015. Quatro vampiros vivem numa casa nos subúrbios de Wellington, na Nova Zelândia, mas regem-se por regras pouco convencionais. Três desses vampiros, Viago, Vlad e Deacon, aceitam que uma equipa faça um documentário sobre o seu dia a dia.
A partir daqui entra um agradável absurdo. Os vampiros tentam ser aceites pelas camadas mais jovens da sociedade, entrar em discotecas, travar amizades com humanos e aprender a usar a tecnologia humana; tudo isto enquanto procuram humanos para se alimentar e, claro está, sempre restringidos por aquelas incómodas regras: nada de luz solar, a sua natureza é secreta, e rivalidades com bruxas e lobisomens.
4.º – Sicário – Infiltrado, de Dennis Villeneuve (EUA)
Villeneuve realizou dois filmes que adoro: “Maelström” (2000) e “Polytechnique” (2009). Quanto a este último, o realizador deu cartas que é perfeitamente capaz de filmar a violência de uma forma humana e menos blockbusteriana (entenda-se por isto filmar a violência em si e deixar de lado o drama psicológico).
É um filme que é mais thriller do que acção. Para além disso, o elenco conta com nomes como Emily Blunt, Josh Brolin e Benicio Del Toro.
3.º – É Difícil Ser um Deus, de Aleksey German (Rússia)
Aleksey German demorou mais de uma década a filmar este filme e acabou por morrer antes de assistir à estreia do filme no Festival de Cinema de Roma 2013. Depois disso, o filme passou um ano a transitar de festival em festival até que em 2015 começou a chegar às salas de cinema de vários países europeus.
Em “É Difícil Ser um Deus”, um grupo de cientistas viaja até um planeta semelhante à Terra em tudo menos numa coisa: a sociedade de Arkanar, o planeta, é em tudo igual à nossa, exceto que se encontra presa na Idade Média. Isto porque sempre que um intelectual, seja ele artista, cientista ou académico, tenta expor as suas ideias, é imediatamente executado e todas as suas obras são destruídas.
Para compreender melhor aquele mundo, um dos cientistas muda-se permanentemente para Arkanar, onde passa a ser conhecido como Don Rumata, na companhia de uma jovem mulher e o príncipe do reino. A partir desse momento, Don Rumata passa a ser venerado por muitos como um Deus, mas odiado por outros por causa das suas ideias e curiosidade.
German usa cada minuto do filme para construir uma relação entre o espectador e o mundo de Arkanar, criando alegorias sobre a nossa sociedade e ideologias e seduzindo-nos, sobretudo, com a sua belíssima cinematografia a preto e branco.
2.º – Ex Machina, de Alex Garland (Reino Unido)
Antes de Domhnall Gleeson e Oscar Isaac estarem em lados opostos da Força no episódio sete de “Star Wars”, protagonizaram, juntamente com Alicia Vikander, um dos mais interessantes filmes de ficção científica desta década.
Garland avança para este filme com ideias que, apesar de recorrentes (o que faz de nós humanos e será possível recriar-mo-nos artificialmente?), são sempre interessantes à medida de que os avanços da ciência vão trazendo respostas; tudo isto acompanhado por meia dúzia de momentos cómicos e uma edição de som fundamental para mergulharmos no filme (e dou, por exemplo, o som discreto que AVA, a androide, faz ao deslocar-se).
1.º – Mad Max: Estrada da Fúria, de George Miller (EUA)
Não houve em 2015 filme mais espetacularmente caótico do que este. George Miller regressou com todo o fogo, sangue, poeira e gasolina que conseguiu reunir durante os anos em que passou a trabalhar em filmes sobre porquinhos falantes e pinguins dançantes e criou aquela que seria a sua derradeira obra.
Um filme feito inteiramente de emoções e imagens que nos atingem como uma enorme parede de betão armado e o resultado é uma das melhores experiências cinematográficas dos últimos anos.