Morreu esta quinta-feira, aos 75 anos, a atriz norte-americana Shelley Duvall, estrela de filmes como “Shining” (1980), de Stanley Kubrick, e “Nashville” (1975) e “Popeye” (1980), ambos de Robert Altman. A atriz morreu aos 75 anos de idade, de complicações de diabetes na quinta-feira em Blanco, Texas.
Carreira
Duvall estreou-se no cinema em “Brewster McCloud” (1970), de Robert Altman, realizador com quem viria a trabalhar em mais seis filmes ao longo da sua carreira, interpretando personagens excêntricas, como o western “A Noite Fez-se Para Amar” (1971), “Todos Somos Ladrões” (1974), “Buffallo Bill e os Índios” (1976) e “Três Mulheres” (1977), filme pelo qual ganhou o prémio de Melhor Atriz na 30.ª edição do Festival de Cannes, bem como uma nomeação para os BAFTA.
No musical e clássico “Nashville” (1975) viria a ganhar atenção em Hollywood.
No entanto, no musical “Popeye” (1980), no papel de Olívia Palito, ao lado de Robin Williams no papel do marinheiro Popeye, o filme foi muito mal recebido pela crítica tendo conquistado seis prémios nos Stinkers Bad Movie Awards, incluindo o de pior filme.
Snining
Foi pelo papel de Wendy Torrance, em “Shining” (1980), que Shelley Duvall ficou mundialmente conhecida, onde protagonizou ao lado de Jack Nicholson.
O filme é lembrado pelas famosas cenas de sequência, técnica recorrente na cinematografia de Kubrick, e pela icónica cena da casa de banho em que a personagem de Jack dá machadadas na porta, enquanto a personagem de Shelley está do outro lado da porta aterrorizada com uma faca na mão para se defender.
Kubrick levou quase dois anos a terminar as filmagens, devido ao seu perfeccionismo, e a sua relação com a atriz Shelley Duvall foi bastante difícil durante a rodagem, discutindo frequentemente com a atriz no set sobre as falas do guião e as suas técnicas de representação.
Apesar das intrigas e difícil relação entre a atriz e o realizador, o filme foi concluído e tornou-se num enorme sucesso comercial em todo o mundo.
No mundo infantil
Em meados da década de 1980, Duvall teve uma carreira próspera como atriz versátil e fundou sua própria produtora, a Think Entertainment, que produziu séries de TV para crianças, incluindo a série “Faerie Tale Theatre” (Teatro dos Contos de Fadas, na tradução), lançada em 1982.
Criada e protagonizada por Duvall, a série tinha como objetivo recontar alguns dos contos de fadas clássicos em versões quase cinematográficas, com cenários e figurinos requintados, além de um elenco estelar.
A série contou com a participação de nomes como Anjelica Huston, Alfre Woodard, Sofia Coppola, Jeff Bridges, Malcolm McDowell, Mick Jagger, Tatum O’Neal, Robin Williams, Christopher Lee, Susan Sarandon, Helen Mirren, Jeff Goldblum, Christopher Reeve, Gena Rowlands, Alan Arkin, Vanessa Redgrave, entre outros.
Uma característica marcante do programa era a frase dita pela criadora da série: “Olá, eu sou Shelley Duvall. Bem-vindos ao Teatro de Contos de Fadas.” Em seguida, ela apresentava a história que seria contada.
Além dos filmes de Altman e do clássico de Kubrick, Shelley Duvall destacou-se em diversas outras produções. Em tributo ao seu legado, apresentamos uma seleção de quatro filmes em que ela participou.
“Retrato de uma Senhora” (1996), de Jane Campion
Baseado no romance de Henry James, com Nicole Kidman no papel de Isabel Archer, “Retratos de uma Senhora” retrata a vida de uma jovem americana decidida que visita parentes na Europa durante a década de 1870. Determinada a explorar o mundo e descobrir-se antes de se casar, Isabel é cortejada por vários pretendentes. No entanto, os seus planos sofrem uma reviravolta quando uma herança inesperada e um envolvimento com um homem sedutor entram em cena.
Sob a realização de Jane Campion, o filme atinge o seu auge ao criar cenas esteticamente impactantes, beneficiado por uma reconstituição detalhada da época e pela fotografia envolvente de Stuart Dryburgh. Campion não apenas adapta o romance num drama requintado que capta o ponto de vista feminino, mas também enriquece a narrativa com interpretações modernas e até surreais do texto original.
“Roxanne” (1987), de Fred Schepisi
“Roxanne” é uma comédia romântica que reinterpreta a peça Cyrano de Bergerac, com Steve Martin no papel principal de um chefe de bombeiros de espírito livre numa comunidade de esqui. Ele personifica o bom humor, deslizando pelas encostas íngremes como Fred Astaire, embora o seu nariz proeminente seja uma característica distintiva.
Apesar disso, o seu humor autodepreciativo é a sua defesa infalível, com piadas prontas sobre rinoplastia que revelam a sua autoaceitação.
Na tradição literária e na vida real, uma loira deslumbrante interpretada por Daryl Hannah entra na sua vida e redefine os seus horizontes. Durante um resgate noturno, quando ela se vê trancada fora de casa e desprovida de roupa, Martin fica imediatamente cativado por ela.
“Frankenweenie” (1984), de Tim Burton
A curta-metragem de Burton é uma paródia e um sincero tributo ao clássico filme “Frankenstein” de 1931, baseado na obra de Mary Shelley.
A história centra-se em Victor, um rapaz que tem um amor profundo pelo seu cãozinho, Sparky. Após um trágico acidente que tira a vida do animal, Victor fica profundamente desolado. No entanto, depois de assistir a uma fascinante aula de ciências sobre a ressurreição de um sapo, Victor sente-se inspirado a tentar trazer o seu amigo de volta à vida.
Enquanto Victor se empenha no experimento em casa, a descoberta de que a Feira de Ciências da escola está próxima acaba envolvendo toda a turma em uma série de confusões hilariantes.
“Annie Hall” (1977), de Woody Allen
Em “Annie Hall”, Woody Allen retrata o encontro e desencontro entre Alvy Singer, um humorista judeu divorciado em análise há mais de uma década, e Annie Hall, uma cantora iniciante com uma personalidade intrigante. O relacionamento entre eles evolui rapidamente para convivência, mas logo surgem as primeiras crises conjugais.
A essência do filme gira em torno de diálogos e monólogos. Alvy e Annie passeiam e conversam, sentam-se juntos para falar, frequentam psiquiatras, compartilham refeições, fazem amor e discutem, às vezes quebrando a quarta parede para falar diretamente com a câmera ou embarcando em monólogos introspectivos.
* Escrito com Tiago Resende