A 4ª edição do festival «Porto Femme» decorre até ao dia 5 de outubro, em vários espaços da cidade do Porto, durante os quais serão projetados 135 filmes, oriundos de mais de 25 países.
Reservar a tela para o trabalho desenvolvido por mulheres na sétima arte é o grande propósito do Porto Femme – International Film Festival, que nesta quarta edição volta a colocar em destaque as temáticas do feminino.
Tal como em edições anteriores, o Porto Femme homenageia artistas mulheres que se destacam ou destacaram no panorama cinematográfico, mas que são, igualmente, reconhecidas pelo inconformismo perante o papel de subal-ternidade conferido à mulher no meio artístico em geral. Em 2021, os destaques são as cineastas Margarida Gil e Cecilia Mangini, a atriz Cucha Carvalheiro e a companhia Escola de Mulheres – Oficina de Teatro.
MARGARIDA GIL: Nascida na Covilhã, foi em Letras que se formou, mas é como realizadora que se afirma e dá a conhecer. «Relação Fiel e Verdadeira», de 1987, é o seu primeiro filme, recentemente editado em DVD, e cuja exibição será um dos pontos altos da noite de homenagens em que Margarida Gil ocupa lugar de destaque. Docente na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Margarida Gil fez carreira na RTP, onde assinou diversos documentários, mas também se deu a conhecer como pintora e ceramista. Autora de diversas longa-metragens, «Mar» (2019) é a sua mais recente obra que conta com Maria de Medeiros no elenco.
CECILIA MANGINI: É uma mais do que merecida homenagem, a uma mulher que se dedicou ao cinema e às temáticas sociais e que deixou o mundo dos vivos no passado mês de janeiro, aos 94 anos. Nascida em 1927, foi anarquista, o que acabou por se refletir no seu olhar, primeiro, na fotografia e, depois, no cinema. Nome entre os maiores do documentário em Itália, Cecilia Mangini foi a primeira mulher italiana a realizar documentários no pós-Guerra, trabalhos que definia como “libertários”. Estreou-se no cinema com um pequeno documentário, no qual contou com a colaboração de Pier Paolo Pasolini, no texto de Ignotialla Cittá (1958).
CUCHA CARVALHEIRO: Começou pelo ensino, mas a paixão pela representação em 1979 fez com que se tornasse atriz profissional. “Ainda como atriz, gosto de ensinar, porque a ensinar aprende-se imenso”, disse numa entrevista. Para além dos muitos trabalhos na televisão e de dobragens, Cucha Carvalheiro passou pelo elenco das companhias Teatro do Mundo, Teatro do Século, Teatro da Comuna e Companhia Teatral do Chiado e ainda da Escola de Mulheres, da qual é co-fundadora. Entre 2009 e 2013 foi diretora do Teatro da Trindade, tendo participado, como atriz, em filmes como «Balada da Praia dos Cães», «Os Cornos de Cronos», «Cinco Dias, Cinco Noites» ou «O Fascínio».
ESCOLA DE MULHERES: Criada em 1995, em Lisboa, “por um conjunto de mulheres de gerações diferentes e experiências diversas e reconhecidas, mas com o sentimento comum do papel de subal-ternidade a que a mulher tem sido reduzida no Teatro português”, a Escola de Mulheres – Oficina de Teatro pretende privilegiar a criação e o trabalho feminino no teatro e promover e divulgar uma nova dramaturgia de temática e escrita femininas. Fernanda Lapa, falecida em 2020 e homenageada nesse mesmo ano pelo Porto Femme, foi a diretora artística, a par de Marta Lapa, que agora dirige a companhia com Ruy Malheiro, e o garante de uma linha artística baseada no «Manifesto da Escola de Mulheres» (1995), com que a companhia se deu a conhecer.
C O M P E T I Ç Õ E S
INTERNACIONAL As obras da competição INTERNACIONAL trazidas dos mais diversos países do mundo e das mais diferentes culturas, por cineastas que, elas próprias, têm vivências completamente diferentes do que é fazer um filme, alargam e aprofundam o grande propósito do festival: abordar, pela lente cinematográfica feminina, as questões sociais e políticas que afetam as mulheres em todo o mundo.
NACIONAL Incentivar a criação e divulgar o trabalho das cineastas portuguesas é, desde a primeira hora, um dos principais propósitos do Porto Femme. Por isso, a competição NACIONAL quer ser uma montra para a produção cinematográfica das realizadoras e autoras portuguesas.
A competição ESTUDANTES tem o objetivo de disponibilizar uma tela para novas cineastas, nacionais e internacionais, poderem iniciar-se na sétima arte. O incentivo passa ainda pelo momento em que os filmes, após exibição, são discutidos, avaliados e premiados por um júri. Uma aposta num futuro promissor do cinema no feminino em Portugal.
A competição XX ELEMENT está aberta a filmes realizados por homens ou co-realizados por homem e mulher, no entanto, a temática da obra tem que estar relacionada com o género feminino, com questões de género e/ou um dos papéis de destaque na criação seja assumido por uma mulher (por exemplo, produtora, argumentista, atriz principal ou diretora de fotografia).
Os filmes a concurso na competição TEMÁTICA nesta quarta edição terão que abordar o tema geral «Crises» que atingem as mulheres! Criações realizadas por pessoas que se identifiquem como mulheres, não havendo limite de idade ou de obras inscritas por realizadora ou restrição de países, e necessariamente feitas após 1 de janeiro de 2018 e não disponíveis na Web. O tema «Crises» surge, quase que naturalmente, em diálogo com o contexto atual em todo o mundo.