A edição de 2025 do Porto/Post/Doc terá lugar entre 20 e 29 de novembro em vários espaços do Porto com uma programação centrada no documentário contemporâneo e na discussão dos temas que marcam a vida dos nossos tempos.
Como filme de abertura do festival, Carla Simón entrega com “Romaria” um filme que habita o limiar entre a autobiografia e o mito familiar — um retrato delicado daquilo que permanece por dizer.
A realizadora regressa aos seus temas mais pessoais — perda, identidade, os vazios deixados por pais ausentes — e propõe uma narrativa que é tanto procura como invenção. Estreado no Festival de Cannes, “Romaria” estreia em Portugal na abertura do Porto/Post/Doc.
A protagonista é Marina, uma jovem de 18 anos órfã desde tenra idade, que se desloca a Vigo no ano de 2004 para obter um documento com vista a candidatar-se a uma bolsa universitária. Lá, conhece pela primeira vez a família paterna que nunca conhecera e enfrenta os silêncios, as culpas e as contradições do passado — da adição à heroína à vergonha social, do estigma do SIDA às memórias que se perdem ou se recontam de maneira diferente.
O filme de encerramento, “Pai Mãe Irmã Irmão”, de Jim Jarmusch, surge como um tríptico suavemente excêntrico — três histórias curtas, ligadas tematicamente, sobre filhos adultos que gravitam em torno da órbita emocional de pais distantes. Cada capítulo decorre num país diferente, condensando momentos banais em pequenos choques reveladores. Uma estreia nacional a fechar a edição deste ano do festival.
As interpretações são o coração do filme. Cate Blanchett, Adam Driver, Vicky Krieps, Charlotte Rampling e Tom Waits habitam os ritmos deadpan de Jarmusch com uma reserva fria, pontuada por súbitas erupções de emoção.
A crítica destacou Blanchett e Rampling pela capacidade de mexer nas culpas familiares com precisão cirúrgica, transformando conversas elípticas em verdadeiras detonações emocionais. Em certos momentos, a quietude da interpretação é tão rigorosa que se torna dolorosamente vulnerável.
Dedicada exclusivamente ao cinema falado em português, a secção competitiva Cinema Falado do Porto/Post/Doc 2025 apresenta um conjunto de curtas e longas-metragens recentes que promovem e divulgam a língua portuguesa em toda a sua diversidade, bem como as cinematografias dos vários países lusófonos. Através de olhares singulares e abordagens formais distintas, os filmes exploram identidades, memórias coletivas e vivências contemporâneas que atravessam fronteiras culturais e geográficas.
Competição Cinema Falado: seleção de 2025
“A Última Colheita”
Nuno Boaventura Miranda
FIC, 2024, CPV, PRT, 22’
“Cartografia das Ondas”
Heloisa Machado Nascimento
FIC, 2025, BRA, 85’
“Claridade”
Mariana Santana
FIC, 2025, PRT, 12’
“Deuses de Pedra”
Iván Castiñeiras
DOC, 2025, ESP, FRA, PRT, 85’
“Infinito Infinito, Na Imaginação Da Matéria”
Mariana Caló, Francisco Queimadela
DOC, 2025, PRT, 65’
“Ku Handza”
André Guiomar
DOC, 2025, PRT, MOZ, 75’
“Maria Henriqueta Esteve Aqui”
Nuno Pimentel
FIC, 2025, PRT, 13’
“Samba Infinito”
Leonardo Martinelli
FIC, 2025, BRA, FRA, 15’
“Sechiisland: A Vida como Obra de Arte”
Cláudia Do Canto, João Paulo Miranda Maria
DOC, 2025, BRA, 78’
“Um Filme de Terror”
Sergio Oksman
FIC, 2025, ESP, PRT, 71’
“Zizi (ou oração da jaca fabulosa”)
Felipe M. Bragança
DOC, 2025, BRA, 29’

