O Festival de Cinema de Sundance já começa a levantar o véu sobre a sua última edição em Park City, que vai decorrer de 22 de janeiro a 1 de fevereiro de 2026. Esta edição será, mais do que nunca, uma homenagem à cidade que recebeu o festival durante décadas e ao seu fundador, Robert Redford, que nos deixou em setembro, aos 89 anos.
Redford fez de Utah a sua casa desde o final dos anos 60 e transformou Park City num ponto de referência para o cinema independente em todo o mundo.
Para assinalar o legado de Robert Redford, o festival vai exibir “Downhill Racer” (1969), de Michael Ritchie, parcialmente rodado em Boulder, Colorado, local que a partir de 2027 receberá a nova sede do Sundance. 
O filme desenha o retrato de um jovem esquiador de temperamento indomável e egoísmo marcado, que rapidamente se confronta com a disciplina e as ambições da delegação americana prestes a competir nos Jogos Olímpicos de Inverno. A interpretação de Redford, de intensidade magnética, é celebrada pela crítica como uma das mais icónicas da sua carreira.
Eventos especiais
Para além da exibição de “Downhill Racer”, o festival preparou uma série de eventos especiais em homenagem a Robert Redford, incluindo Celebrando o Sundance Institute: Uma Homenagem ao Fundador Robert Redford, e um brunch exclusivo para realizadores no Sundance Mountain Resort.
Entre 27 e 30 de janeiro, a secção Park City Legacy destacará clássicos que marcaram a história do festival. O público poderá assistir a “Saw – Enigma Mortal”, de James Wan, restaurado em 2024, um thriller de narrativa não linear centrado no misterioso assassino Jigsaw, que testa a vontade de viver das suas vítimas, submetendo-as a “jogos” mortais nos quais devem infligir dor extrema a si próprias para sobreviver.
A programação inclui também a estreia mundial da versão restaurada de “Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos”, icónica comédia dramática do casal Jonathan Dayton e Valerie Faris, que acompanha uma família desajustada unida pelo sonho de levar Olive a um concurso de beleza, vinte anos após o lançamento original.
Outros destaques incluem “Half Nelson”, drama que rendeu a Ryan Gosling uma nomeação ao Óscar de Melhor Actor, na pele de um professor do ensino básico que cria uma inesperada amizade com um aluno viciado em drogas, e a recente restauração de “Mysterious Skin – Pele Misteriosa”, de Gregg Araki, com a presença dos cineastas e de parte do elenco.
Serão ainda exibidos “American Dream”, de Barbara Kopple, que celebra 35 anos desde que o documentário venceu o Óscar, retratando a greve frustrada da Hormel em 1985-86 no coração dos Estados Unidos, um confronto emblemático contra a corporação Hormel Foods; “Humpday”, de Lynn Shelton, numa homenagem sensível a cineastas falecidos; e a comédia cult “House Party”, de Reginald Hudlin, que acompanha o adolescente Kid na ousada tentativa de escapar de casa para se infiltrar numa grande festa na residência do seu melhor amigo, Play.
Após cada sessão, o público terá oportunidade de interagir com o elenco e a equipa técnica em sessões de perguntas e respostas, proporcionando uma visão aprofundada do processo criativo por detrás de cada obra.
Segredo até que venha o outono
Quanto às estreias mundiais, o segredo mantém-se. Espera-se cerca de meia dúzia de novos filmes por dia, com anúncio oficial previsto para o final do outono. Eugene Hernandez, do IndieWire, lembra que todas estas iniciativas refletem o espírito de Redford: “todo o mundo tem uma história”.
Para encerrar, no dia 30 de janeiro, haverá um evento dedicado aos habitantes de Park City que apoiaram o festival ao longo das décadas, reforçando a ligação entre a comunidade e o Sundance.
No fim, esta última edição em Park City é mais do que o fim de um capítulo geográfico do festival. É também um tributo à identidade que Redford ajudou a criar e ao impacto que ele e os cineastas do Sundance imprimiram no cinema independente mundial.
