A Cidade e as Salas de Cinema, As Salas de Cinema e a Cidade – As Salas do Porto

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Depois de Paz dos Reis ter apresentado no Porto, em 1896, o cinematógrafo, foram feitas mais algumas projeções pela cidade durante os anos seguintes.

Nesse ano, foi apresentado no Teatro Sá da Bandeira, antigo Teatro Circo do Príncipe Real, o animatógrafo do eletricista Sr. Rousby, podendo considerar-se, assim, o primeiro espaço onde se exibiu cinema na cidade e no país.

No entanto, só no verão de 1906 é que se começou a massificar o número de espetáculos abertos ao público. Nesse ano, surgiu num barracão de madeira e zinco da feira de S. Miguel (atual rotunda da Boavista), o Salão High Life, que conquistou de imediato a atenção dos portuenses. Este foi o primeiro espaço público a projetar cinema na cidade. Era nestes contextos de espetáculos de feira para todas as classes sociais que eram realizadas as primeiras sessões contínuas de cinema, onde se passavam filmes curtos (quadros) a preços irrisórios. Foi pelas mãos de António Neves e Edmond Pascaud que nasceu este novo espaço na cidade. Mais tarde, viriam a formar a empresa Neves & Pascaud. O Salão ficou aqui apenas dois meses, tendo-se depois mudado para o jardim da Cordoaria. Aí permaneceu durante dois anos, tendo sido transferido para a atual praça da Batalha em 1908.

Com esta mudança, a sala pioneira de exibição cinematográfica do Porto ganhou um edifício moderno, passando a designar-se o Novo Salão High Life. Em 1913 passar-se-ia a chamar Cinema Batalha.

O local de exibição de cinema passaria rapidamente a mudar-se das feiras para os salões. A cidade do Porto assistiu ao aparecimento de novas salas dedicadas à arte do cinema, como o Salão Pathé (1907), o Salão Jardim Passos Manuel (1908) e o Salão Trindade (1913). A cidade e os portuenses sentiram rápida necessidade de construir mais espaços que exibissem cinema com melhores e maiores condições, pois a divulgação da sétima arte como espetáculo, divertimento e veículo de cultura aumentava a grande velocidade.

Pouco tempo depois, surgiriam outras salas como o Olympia, o Cine Foz, o Terço e espaços teatrais que passaram a exibir cinema, como o Águia D’Ouro, o Rivoli e o Carlos Alberto.

Cinema Águia D’Ouro, na Praça da Batalha. À direita, encontra-se o Salão High Life
Cinema Águia D’Ouro, na Praça da Batalha. À direita, encontra-se o Salão High Life

Nos anos 40, surgiram na cidade salas mais robustas, autênticos monumentos arquitetónicos. Salas como o Coliseu do Porto e o Cinema Vale Formoso são exemplos disso. Em particular, destaque para o Coliseu, que era composto por cerca de três mil lugares sentados e onde eram projetados filmes em 70 mm, devido às suas grandes dimensões.

Aqui foram projetados filmes como “E Tudo o Vento Levou” e vários filmes bíblicos de Hollywood, como “Os Dez Mandamentos”, a título exemplificativo. O Vale Formoso, que abriu ao público em 1949, apesar da fachada imponente, era considerado cinema de bairro. Durante vários anos, exibiu-se lá muito cinema indiano de Bollywood.

Outra sala que emerge nos anos 40 e que viria a tornar-se num símbolo da sétima arte no Porto é o Cinema Batalha, que inaugurou o seu novo edifício a 3 de junho de 1947. Projetado pelo arquiteto Artur Andrade, criou um dos mais emblemáticos cinemas da cidade.

O cinema era composto por “dois auditórios – um com capacidade para 950 lugares sentados (plateia 346, tribuna 222, balcão 382) – dois bares e um restaurante com esplanada. De notar que, devido à censura vigente na época, foi dada ordem para apagar o fresco de Júlio Pomar existente no interior, bem como para se retirarem os motivos do baixo-relevo de Américo Braga na fachada.”

Um ano depois, em 1948, viria a realizar-se a primeira sessão do cineclube do Porto.

Em 1975, é inaugurada a sala Bebé, com capacidade para 135 pessoas. Encerra no verão de 2000, embora a mesma mantenha atividade até meados de 2003. Em 2006, o Batalha reabre ao público sob gestão da Associação Comércio Vivo, uma parceria entre a Câmara Municipal do Porto e a Associação de Comerciantes.

O edifício é rentabilizado para diversas atividades que vão muito além da projeção de cinema. Contudo, a renda elevada e os custos das obras de requalificação levam a que, a 31 de dezembro de 2010, o Gabinete Comércio Vivo entregue novamente a gestão do edifício aos proprietários originais, fechando-se as portas ao Cinema Batalha novamente até aos dias de hoje.

Com o passar dos anos, tem-se procurado que o Cinema Batalha seja encarado como a “casa do cinema”, servindo eventos como o Fantasporto, entre muitas outras propostas de reabilitação.

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Cinema Batalha, auditório principal, com uma lotação de 950 lugares.

Também neste período dos “cinemas templos”, surgiu na cidade o Júlio Diniz, inaugurado nos anos 40 com plateia e balcão. Apesar da sua robustez arquitetónica, com uma das melhores salas da cidade, foi sempre rotulado como cinema de bairro, devido à sua localização (rua de Costa Cabral).

Nos anos 60 e 70, surgiram cinemas mais modernos, alguns dentro das chamadas galerias, com salas por vezes mais pequenas, mas com bons lugares, boa projecção de imagem e de som. O cinema do Terço surge em 1965, o cinema Passos Manuel em 1971 (este viria a revelar-se como uma grande referência na cidade até aos dias de hoje), o Estúdio Foco em 1973, o cinema Charlot em 1977, o Estúdio 400 em 1976, as salas Lumière em 1978, o Stop e o Pedro Cem, ambos no início dos anos 80.

Foi também na década de 70, depois do 25 de abril, que surgiram os primeiros cinemas pornográficos. É o caso do Estúdio 111, Júlio Diniz e o Teatro Sá da Bandeira.

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