Inaugurado a 24 de maio de 1952, com desenho de Cassiano Branco, o edifício do Cinema Império é “um marco arquitetónico e cultural de Lisboa, com um legado profundamente enraizado na história do cinema e das artes da cidade.”, descreve a Academia Portuguesa de Cinema (APC) em comunicado. Um edifício que possui uma sala monumental com capacidade para 1.676 espectadores e é um “exemplo único do modernismo português, combinando imponência estética com uma história repleta de momentos icónicos.”
Em comunicado, a APC lança um apelo urgente para que se salve o Cinema Império, pois o seu fim é uma “ameaça real e alarmante”. A associação deseja que esta sala não tenha o mesmo fim que muitas outras salas de cinema em Lisboa e um pouco por todo o país tiveram, como “o Monumental, Condes, Éden, Odeon, Olympia, Europa, Paris, Londres Mundial e Quarteto apenas para mencionar algumas.”
A comunicação social tem noticiado a Câmara Municipal de Lisboa desclassificou o edifício como equipamento cultural, passando-o para “uso religioso” e que estão previstas obras “que ignoram o seu valor cultural”, deixando “antever mais uma perda irreparável para a cidade.” Segundo o jornal Público, o Cinema Império é usado como templo da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) desde 1992 e o Município de Lisboa aprovou recentemente o “projecto de arquitectura para as obras de alteração, com ampliação, do edifício classificado como Imóvel de Interesse Público.”
“Portugal não pode continuar a abdicar dos seus marcos culturais e históricos. O desaparecimento de espaços como o Cinema Império é um reflexo de políticas que negligenciam o património cultural da cidade e o direito dos cidadãos ao acesso à arte e à memória coletiva.”, sublinha a APC.
A Academia Portuguesa de Cinema considera que “é urgente que as entidades responsáveis, desde o Governo à Câmara Municipal, intervenham para preservar este espaço. A população também não pode permanecer indiferente: é tempo de exigir a salvaguarda do Cinema Império e de reconhecer o seu papel insubstituível na identidade cultural de Lisboa e do país.”
A Academia lembra que não se trata apenas de salvar um edifício, mas de “proteger a memória, a história e o futuro cultural da cidade.” Um edifício que ao longo de décadas foi palco de acontecimentos históricos como: em 1958 ter acolhido o 1.º Festival da Canção, onde Simone de Oliveira se estreou; ou onde se fundou a companhia Teatro Moderno de Lisboa; ou onde se estreou depois do 25 de Abril o clássico soviético “O Couraçado Pontemkin” (1925) de Serguei Eisenstein e centenas de filmes marcantes que passaram no ecrã do Império. “Durante décadas, foi um local de referência para grandes estreias, sessões clássicas, quinzenas e festivais de cinema, mantendo-se sempre fiel à sua missão de levar a arte cinematográfica ao público de forma grandiosa.”
Não é nova a ideia de antigas e históricas salas de cinema no país terem passado para o controlo da Igreja, como é o caso do Cine-Teatro Vale Formoso, no Porto, encerrado em 1993, tendo sido comprado também pela IURD.
A APC lançou ainda uma petição pública que pretende recolher 7500 assinaturas, para ser levada à Assembleia da República.