Greta Gerwig, “Lady Bird” (2017), une-se novamente com o colega, co-escritor, Noah Baumbach, “Mistress America” (2015) e “Frances Ha” (2012), para a exibição de um dos filmes mais aguardados do ano, “Barbie” (2023).
Precipitando a composição matizada, característica da boneca mais conhecida na simbologia cultural do mundo, e com uma publicitação apressada e de certo modo abrupta, tal permitiu, antes do próprio público o poder conhecer, entregar-se subitamente ao filme. Considero que seria difícil não haver tal entrega, Greta pegou num objeto comum a todos, e “brincou” com ele, ou ela, para poder criar o seu universo feminista, ou julgo que assim seria o seu objetivo.
No entanto, pegar na boneca que representa a mulher e o feminino da forma mais estereotipada, para o poder, de certa forma, criticar e torná-lo num cómico quase que burlesco e espampanante, conceptualiza “Barbie” (2023) num filme agradável e divertido, ficando, na verdade, um pouco longe do que se esperaria.
Admite-se ser um filme animado que mantém o público atento durante toda a ação. Cenários cativantes, esteticamente prazerosos, caprichando no guarda-roupa, onde se reconhece o profissionalismo de Jacqueline Durran, “Atonement” (2007), “Little Women” (2019) e “Beauty and The Beast” (2017).
Uma banda sonora especificamente concebida para o conceito do filme, e perfeitamente adequada para a sua representação cultural, pop e carismática, o que atrai facilmente o espectador para o momento do filme.
Um elenco jovem que defende as personagens com qualidade, do qual se destaca Ryan Gosling, numa escolha que acredito ser óbvia, interpretando uma masculinidade rúptil, que, numa primeira instância, transparece ser submisso a Barbie (Margot Robbie), como assim seria de esperar. Contudo, Ken revela ser, na verdade, mais do que isso. Uma personagem cómica, na descoberta pela sua identidade e propósito, encontrando-as, ao que tudo indica, numa realidade que diverge da sua, num universo patriarcal, espelhando elementos que o caracterizam num clichê ridículo.
Os objetos integrantes associados ao homem e à masculinidade “forte” não são os únicos clichês que Greta conceptualiza, na verdade, todo o discurso presenteado pela personagem de America Ferrera, Gloria, numa manifestação pela pouca ou falta de mudança na imagem da mulher no setor profissional, fica, na minha opinião um pouco aquém do que seria de esperar.
Um discurso que, não deixando de ser emotivo, e de gerar em mim, enquanto mulher, tristeza e alguma inquietação, ainda assim é um discurso que vai ao encontro, de certa forma, do estereótipo de discursos feministas, criando alguma confusão com o objetivo final da realizadora.
Será que este conceito escapou a Greta Gerwig, ou esta comercialização de estereótipos de género foi uma intenção de ridicularizar o pseudo-intelecualismo e criar apenas um hora e meia de filme agradável sobre a beleza da emoção e do sentimento humano.
Acho que estava à espera de algo mais, algo que, na verdade, Greta já me tinha habituado. Sucedeu-se, ainda assim, um bom momento para o público que se dirigiu em massa para uma sala fora de casa, e para o próprio cinema, que conseguiu assim demonstrar que não irá sucumbir tão rapidamente aos serviços de streaming.