O italiano Carlo Chatrian, um dos co-diretores da Berlinale desde 2019, tornou pública a decisão de renunciar ao cargo de diretor artístico após a edição de 2024 do festival. Isso ocorreu em meio a críticas recentes da nova Ministra da Cultura da Alemanha, Claudia Roth, que ocupa o cargo desde 2021.
Notícias na imprensa alemã deram conta que a decisão da ministra em desmantelar a gestão dupla do festival foi comunicada a Chatrian apenas dois dias antes da sua renúncia no sábado e lhe foi então oferecida a oportunidade de negociar um novo cargo no festival, que não a de diretor artístico. Um gesto de humilhação pública que sugere que ele não teve outra alternativa senão deixar o cargo.
O anúncio do italiano foi feito através de um breve comunicado no site da Berlinale neste sábado de manhã. Apesar de sua brevidade, a declaração insinua discretamente que houve turbulências na gestão interna do festival e que levaram a sua renúncia. Além disso, fica claro que a decisão de Claudia Roth de eliminar a estrutura de gestão dupla da Berlinale teve um papel significativo na escolha de Chatrian de renunciar.
No comunicado, Chatrian compartilhou: “Eu pensei que a continuidade poderia ser mantida se eu continuasse envolvido com o festival, mas, dadas as mudanças na nova estrutura, é evidente que não há mais espaço para mim como Diretor Artístico. A próxima edição do festival marcará o fim desta jornada gratificante.”
Esta renúncia segue o anúncio anterior de sua co-diretora, Mariette Rissenbeek, que já deixou claro que deixará o cargo de diretora executiva após a edição de 2024. Rissenbeek fez história como a primeira mulher a liderar o Festival de Cinema de Berlim e assumiu o papel de co-diretora ao lado de Chatrian em 2018. Ambos assumiram seus cargos em junho de 2019.
No sábado de manhã, o Twitter e a imprensa especializada em cinema foram inundados com mensagens de apoio à Chatrian e a sua visão artítica para o festival, já que diferentemente de Kosslick, que fora sempre “acusado” de ser um businessman, Chatrian sempre foi visto como um cinéfilo.
As críticas também caíram sobre a ministra da cultura Claudia Roth. Ela foi apontada como a grande responsável pelo caos atual do festival, depois de meses atrás, anunciar cortes significativos no orçamento do maior evento cultural de Berlim, o que levou a Berlinale a elaborar uma nova estrutura para 2024 com menos filmes e consequentemente, eliminando duas seções importantes do festival como a Perspektive Deutsches Kino focada em cineastas emergentes do cinema alemão e Berlinale Series que como o próprio nome sugere, apresentava novas séries ao mundo.
I can’t speak for the German cohort, but I don’t know a single international press attendee who doesn’t think Carlo’s programming represented a huge, horizon-expanding improvement.
— Jessica Kiang (@jessicakiang) September 2, 2023
Carlo brought new energy and programming rigour to a festival that had fallen into fixed patterns, and deserved many more years to make it his own. This is hugely disappointing news. https://t.co/ycYAEqkPrB
— Guy Lodge (@GuyLodge) September 2, 2023
Relatamos aqui no Cinema7Arte a saída polêmica do antigo diretor do festival em 2019, o alemão Dieter Kosslick, que comandou o festival por quase 20 anos e enfrentou críticas constantes durante a última década de sua gestão. Kosslick era alvo de críticas de grande parte da imprensa e da indústria cinematográfica alemã, especialmente devido à acusação de ter transformado a competição do festival em uma coleção de filmes medianos, o que fez com que o festival perdesse a sua relevância para competir com Cannes e Veneza.
Quando o italiano assumiu a direção artística após vários anos de sucesso em Locarno, muitos viram sua visão como uma lufada de ar fresco para o festival. Quase cinco anos depois, uma nova crise se instala, a direção dupla é desmantelada e o festival embarca em busca de um novo recomeço.
Enquanto o futuro do estimado festival continua em suspenso, ficamos no aguardo de alguma luz no fim desse túnel. Viel glück, Berlinale!