Caos na Berlinale: Diretor artístico Carlo Chatrian renuncia após humilhação pública

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BERLIN, GERMANY - JANUARY 23: Mariette Rissenbeek (L), Executive Director of the Berlinale International Film Festival, and Carlo Chatrian, Artistic Director of the festival, attend the opening press conference of 73rd Berlinale International Film Festival Press Conference at Haus Der Berliner Festspiele on January 23, 2023 in Berlin, Germany. (Photo by Sean Gallup/Getty Images)

O italiano Carlo Chatrian, um dos co-diretores da Berlinale desde 2019, tornou pública a decisão de renunciar ao cargo de diretor artístico após a edição de 2024 do festival. Isso ocorreu em meio a críticas recentes da nova Ministra da Cultura da Alemanha, Claudia Roth, que ocupa o cargo desde 2021.

Notícias na imprensa alemã deram conta que a decisão da ministra em desmantelar a gestão dupla do festival foi comunicada a Chatrian apenas dois dias antes da sua renúncia no sábado e lhe foi então oferecida a oportunidade de negociar um novo cargo no festival, que não a de diretor artístico. Um gesto de humilhação pública que sugere que ele não teve outra alternativa senão deixar o cargo.

O anúncio do italiano foi feito através de um breve comunicado no site da Berlinale neste sábado de manhã. Apesar de sua brevidade, a declaração insinua discretamente que houve turbulências na gestão interna do festival e que levaram a sua renúncia. Além disso, fica claro que a decisão de Claudia Roth de eliminar a estrutura de gestão dupla da Berlinale teve um papel significativo na escolha de Chatrian de renunciar.

No comunicado, Chatrian compartilhou: “Eu pensei que a continuidade poderia ser mantida se eu continuasse envolvido com o festival, mas, dadas as mudanças na nova estrutura, é evidente que não há mais espaço para mim como Diretor Artístico. A próxima edição do festival marcará o fim desta jornada gratificante.”

Esta renúncia segue o anúncio anterior de sua co-diretora, Mariette Rissenbeek, que já deixou claro que deixará o cargo de diretora executiva após a edição de 2024. Rissenbeek fez história como a primeira mulher a liderar o Festival de Cinema de Berlim e assumiu o papel de co-diretora ao lado de Chatrian em 2018. Ambos assumiram seus cargos em junho de 2019.

No sábado de manhã, o Twitter e a imprensa especializada em cinema foram inundados com mensagens de apoio à Chatrian e a sua visão artítica para o festival, já que diferentemente de Kosslick, que fora sempre “acusado” de ser um businessman, Chatrian sempre foi visto como um cinéfilo.

As críticas também caíram sobre a ministra da cultura Claudia Roth. Ela foi apontada como a grande responsável pelo caos atual do festival, depois de meses atrás, anunciar cortes significativos no orçamento do maior evento cultural de Berlim,  o que levou a Berlinale a elaborar uma nova estrutura para 2024 com menos filmes e consequentemente, eliminando duas seções importantes do festival como a Perspektive Deutsches Kino focada em cineastas emergentes do cinema alemão e Berlinale Series que como o próprio nome sugere, apresentava novas séries ao mundo.

Relatamos aqui no Cinema7Arte a saída polêmica do antigo diretor do festival em 2019, o alemão Dieter Kosslick, que comandou o festival por quase 20 anos e enfrentou críticas constantes durante a última década de sua gestão. Kosslick era alvo de críticas de grande parte da imprensa e da indústria cinematográfica alemã, especialmente devido à acusação de ter transformado a competição do festival em uma coleção de filmes medianos, o que fez com que o festival perdesse a sua relevância para competir com Cannes e Veneza.

Quando o italiano assumiu a direção artística após vários anos de sucesso em Locarno, muitos viram sua visão como uma lufada de ar fresco para o festival. Quase cinco anos depois, uma nova crise se instala, a direção dupla é desmantelada e o festival embarca em busca de um novo recomeço.

Enquanto o futuro do estimado festival continua em suspenso, ficamos no aguardo de alguma luz no fim desse túnel. Viel glück, Berlinale!

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