Double Bill Filmin é uma rubrica inspirada no fenómeno da indústria cinematográfica em que as salas de cinema exibiam dois filmes pelo preço de um. Double Bill dá a conhecer dois filmes a ver na plataforma de streaming Filmin. Dois Filmes, uma Filmin.
O sétimo episódio do Double Bill Filmin é dedicado ao cinema político com dois documentários: “O Silêncio dos Outros, de Robert Bahar e Almudena Carracedo, e “No Intenso Agora”, de João Moreira Salles.
Este é um retrato da luta das vítimas do franquismo, em Espanha, e sobre o processo judicial internacional para julgar os criminosos franquistas que ficaram impunes devido à vergonhosa Lei da Amnistia (também conhecida por ‘pacto do esquecimento’, aprovada por todos os partidos em 1977). É um documentário tocante e sensível que presta homenagem às vítimas da ditadura de Francisco Franco e que enfrentam uma amnésia imposta pelo Estado espanhol perante crimes contra a Humanidade num país, que após quatro décadas de democracia, continua dividido. O filme debruça-se sobre os 38 anos de fascismo questionando o presente e futuro de um país que durante a Guerra Civil sepultou milhares de pessoas em valas comuns. Uma das cenas mais emotivas e derradeira, é o momento em que uma senhora velha encontra o cadáver do seu pai, no fundo as ossadas dele. Ao fim de muitos anos o que aquela senhora só queria era saber onde estava o seu pai, o que restava dele, bastava. Justiça foi feita e pôde finalmente ter um lugar onde descansar e terminar o luto. É o que milhares de pessoas procuram, saber onde os seus familiares e amigos foram sepultados, pois em Espanha há valas comuns espalhadas por todo o país e muitas são desconhecidas. Realizado ao longo de seis anos por Almudena Carracedo e Robert Bahar, e produzido por Pedro Almodóvar, o filme conquistou o Goya de Melhor Documentário e venceu o Prémio do Público da secção Panorama no Festival de Berlim. É um filme político e ativista que quebra o silêncio de décadas e dá voz às vítimas.
Um ensaio sobre o espírito poético e revolucionário do Maio de 68, que João Moreira Salles realizou na primeira pessoa. Através de filmes amadores que a sua mãe registou como turista numa viagem à China durante a Revolução Cultural de Mao Tse Tung, o realizador brasileiro faz um ensaio onde compara imagens do Maio de 68, em Paris, passando pela Primavera de Praga, indo até à morte de um estudante no Brasil que levou a uma revolta estudantil. Salles estuda a efemeridade dos momentos vividos com grande intensidade emocional. Ele interroga-nos como é que aquelas pessoas que participaram naqueles acontecimentos, vividos intensamente, com alegria, exaltação e melancolia, seguiram com as suas vidas depois da paixão ter desaparecido, do desalento, da desilusão. É um filme sobre o viver intensamente, sobre pessoas que levaram a vida de uma forma agitada, absorvente e que depois perderam essa capacidade de serem felizes, intensamente. Melancólico, poético e nostálgico, é um filme fundamental para compreendermos aqueles momentos intensos que constituem aquele que é talvez o movimento social mais importante do século XX na Europa. Um filme atual sobre o poder da imagem, que nos questiona constantemente sobre as várias leituras que estas podem ter; sobre como viver intensamente e sobre aqueles homens e mulheres que lutaram apaixonadamente. É um filme que vive no intenso agora.