No próximo dia 30 de Outubro, a Filmin estreia, em exclusivo, o Ciclo Jacques Rozier, uma retrospetiva dedicada a um dos nomes decisivos — e, paradoxalmente, tantas vezes esquecidos — da Nouvelle Vague. Composta por cinco longas-metragens, a selecção traça um percurso pela obra singular de um cineasta que se manteve sempre à margem da indústria, mas cujo impacto permanece incontornável.
Rozier, nascido em 1926, foi um pioneiro cuja filmografia se caracterizou pela improvisação delicada, pela musicalidade intrínseca da linguagem cinematográfica e por uma ternura profunda em relação à vida quotidiana. Nas palavras de Jean-Luc Godard, ele encarnava um dos verdadeiros expoentes do movimento:
“Quando morreu Agnès Varda, pensei que só restávamos dois autênticos representantes da Nouvelle Vague: eu e… Jacques Rozier, que até começou um pouco antes de mim.”
Nos filmes de Rozier, as personagens não se submetem a modelos nem a discursos preestabelecidos: movem-se por impulsos, percorrem itinerários, cantam, enganam-se, ajudam-se, apaixonam-se. É uma coreografia espontânea em que o que, à primeira vista, parece anedótico revela-se essencial.
A sua abordagem cinematográfica emanava liberdade absoluta. Trabalhando com intérpretes não profissionais, reescrevendo cenas em pleno set e postergando rodagens até que o tom certo se revelasse, Rozier encarava o acto de filmar como a regência de uma orquestra, em busca do tempo perfeito. E, sem dúvida, era mestre em capturar esse tempo fugidio, conferindo aos seus filmes uma cadência inimitável.
Ciclo Jaques Rozier
O ciclo inaugura-se com a primeira longa-metragem de Rozier, “Adeus Philippine” (1962), uma obra-prima incontestável que estreou no Festival de Cannes, na primeira edição da Semaine de la Critique, precedida por uma apresentação entusiástica de Jean-Luc Godard, que a descreveu como, simplesmente, o melhor filme francês dos últimos anos.

Segue-se um itinerário pelos títulos fulcrais da sua filmografia: “As Praias de Orouet” (1973), centrado nas férias de três jovens na costa; “Os Náufragos da Ilha Tortuga” (1976), uma comédia de aventuras protagonizada por Pierre Richard; “Maine Océan” (1986), que observa o encontro de personagens diversas numa viagem de comboio; e, finalmente, “Fifi Martingale” (2001), praticamente inexplorada pelo grande público após a sua passagem pela Mostra de Veneza.

Estes títulos revelam um cineasta essencial, cuja grandeza e influência transcendem a leveza aparente da sua obra, a liberdade dos actores e o encanto sinuoso das suas narrativas. O ideal cinematográfico que ele encarna é, simultaneamente, uma concepção de vida, delicada, imprevisível e profundamente humana.


