“Sábio é o que se contenta com o espectáculo do mundo” – epígrafe de “O Ano da Morte de Ricardo Reis”.
O realizador João Botelho vai adaptar o romance de José Saramago, “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, ao cinema. Segundo ele, a obra “ganha uma nova urgência com o regresso atual dos populismos”.
Uma alegoria que tem como pano de fundo a afirmação do Estado Novo e o surgimento da extrema direita na Europa, e nesse sentido, disse: “eu acho que, nos tempos que correm, estamos a viver umas épocas muito parecidas, muito estranhas, com o regresso dos populismos, nacionalismos, guerras religiosas em que parece que estamos na Idade Média e este texto é atual”.
Há, inclusive, uma frase no livro bastante fraturante, uma frase de Pessoa a Ricardo Reis: “o mundo ainda está pior do que quando o deixei”. O realizador, a esse respeito, acrescenta “indignação”, apontando para o seu próprio país que está a viver “um momento ímpar, que chega a ser surreal”, onde “a razão se perdeu”.
Nesse sentido, Pilar del Río, que preside à Fundação José Saramago, defende que é preciso ler, (não precisa de ser Saramago ou sequer literatura), mas “ler pensamento, filosofia, história”. Portanto: “ao ler, somos mais fortes. Se somos mais fortes, não seremos tão facilmente empurrados pelos ventos”, realça.
As filmagens vão decorrer até final de maio, sendo que grande parte do filme será rodado em Lisboa. Victoria Guerra, Catarina Wallenstein, Chico Díaz, Luís Lima Barreto e Rui Morisson integram o elenco principal.
Botelho já adaptou ao cinema autores importantes da literatura portuguesa, como Eça de Queirós, com “Os Maias: Cenas da Vida Romântica” (2014), Fernando Pessoa, com “Filme do Desassossego” (2010) e Agustina Bessa-Luís, com “A Corte do Norte” (2008).
“O Ano da Morte de Ricardo Reis” deverá estrear nas salas cinema portuguesas em novembro deste ano.