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Kubrick: Uma Odisseia Cinematográfica – Kubrick e as suas particularidades

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Kubrick- Uma Odisseia Cinematográfica_1

“Não aprendi absolutamente nada na escola. Aprendi muito mais a ver filmes do que a ler grandes calhamaços sobre a estética do cinema. A melhor formação para fazer um filme é fazer um. Aconselho todos os aspirantes a realizadores a tentar fazer um filme sozinhos.” (1) disse Kubrick.

 

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Esta afirmação mostra claramente a genialidade de Kubrick e a sua enorme força de vontade em querer fazer cinema. Em querer inventar formas e em romper com elas, é este o cinema de kubrick. Este (o cinema de kubrick) mudou tudo, pelo menos desde o “Dr. Estranho Amor” que o cinema teve que se reinventar. Pode-se dizer que o cinema entrou numa nova fase, depois de Griffith, Chaplin e Welles.

 

Kubrick era lento a trabalhar, dava um passo de cada vez, pensando sempre no mínimo duas vezes antes de avançar. Daí ser um perfeccionista que gostava de retratar o imperfeito, levando tudo ao extremo, para obter cenas que parecessem reais. Tinha uns modos subtis e algum humor negro que faziam com que fosse bastante ousado. Era reservado e gostava de ver tudo como uma guerra, um jogo de xadrez, como se tudo fosse uma batalha. Era fascinado por explorar o psicológico e trabalhou-o de uma forma eximia onde muitos dos seus filmes retratam uma personagem que sofre um processo de desintegração psicológica que a leva muitas vezes à loucura.

 

As temáticas abordadas nos seus filmes trataram grandes temas que moldaram o mundo contemporâneo, como a guerra: 1a Grande Guerra (“Horizontes de Glória”), a guerra fria (“Dr. Estranho Amor”) e o Vietname (“Nascido para Matar”); a conquista do espaço (“2001…”); a violência e a loucura (“Laranja Mecânica” e “Shining”). Todos os filmes de Kubrick exploram a desumanização, o lado mais obscuro da natureza humana.

 

Veja-se por exemplo HAL, no “2001…”, o computador da nave, que mata a tripulação da nave, que apesar de ser uma máquina que foi programada para falar diz a coisa mais humana de todo o filme, ‘tenho medo’, quando está a ‘morrer’. Tornando-se assim na personagem mais humana do filme. Outro exemplo, o Alex, em “Laranja Mecanica”, que é um jovem vivaço que gosta de pornografia, música clássica e de violência, assalta com o seu bando “Droogs” uma luxuosa vivenda, onde acabam por estropiar um homem e violar a mulher, enquanto canta “Singinʼ In the Rain”, dando pontapés ao ritmo da canção. Ou ainda, em “O Iluminado”, Jack fica bloqueado na escrita do seu romance, pelo que começa a beber e a ter visões, o seu comportamento torna-se cada vez mais violento e agressivo, chegando ao ponto de querer matar a sua mulher e o filho.

 

E personagens destas há em quase todos os filmes de Kubrick, que conseguiu sempre contar histórias muito diferentes, com géneros bastante diferentes, tendo-os revolucionado de certa forma (comédia, terror, ficção científica e guerra), mas sempre abordando as mesmas questões da humanidade. Era a visão dele sobre o ser humano.

 

Os seus filmes, muitos adaptados de obras literárias, eram dotados de irreverência e imaginação, programando ciclos insólitos, misturando filmes historicamente consensuais com propostas arriscadas e marginais.

 

A música é uma parte importante dos seus filmes. Em todos os seus filmes temos sequências em que apenas existe música e imagem e ambas funcionam sempre em perfeita sintonia. Kubrick conseguia sempre escolher as músicas acertadas para os seus filmes. De tal forma que hoje não conseguimos ver o “2001…” sem ouvirmos o Danúbio Azul, de Johann Strauss, ou melhor ainda, falarmos sobre o universo e o espaço, sem termos esta música nos nossos ouvidos. Ou por exemplo, a belíssima música de Rossini em “Laranja Mecânica” na cena em que Alex luta com o seu bando “Droogs”, atirando-os para a água. Ou ainda, a composição “Sarabande” de Handel, na famosa cena de sedução entre Barry Lyndon e Lady Honoria, em “Barry Lyndon”. Todas estas músicas que aparecem nos filmes de Kubrick já eram apreciadas e reconhecidas pelo público, mas ficaram imortalizadas nas belíssimas cenas que Kubrick criara. Fizeram parte da banda sonora dos seus filmes, as composições clássicas de Liszt, Beethoven, Purcell, Chostakovich e Ligeti. Kubrick disse uma vez que “num filme, a melhor coisa é quando as imagens e a música criam o efeito.” (2).

 

“Stanley Kubrick impõe-se hoje como um dos dois ou três grandes inventores de formas da história da sétima arte. Intransigente perfecionista relativamente à imagem, manipulador incansável de todas as técnicas e de todos os géneros, colorista lírico, pintor barroco dos esplendores e dos horrores do mundo, analista minucioso dos nossos mitos e da nossa história, Kubrick projetou o universo à sua medida, não sem lhe descobrir, para além de uma meditação irónica sobre o homem, alguns terríveis mistérios. E aqui ele é , sem qualquer dúvida, um dos maiores artistas do nosso tempo” (3).

 

O que dizer mais sobre Kubrick? A única resposta é ver os filmes dele, tal como ele disse, “…aprendi muito mais a ver filmes do que a ler grandes calhamaços sobre a estética do cinema…”. E os filmes dele dizem bastante sobre ele como pessoa, sobre o cinema e sobre a humanidade.

 

Fontes:

1) Retirado do livro “Kubrick”, de Enrico Ghezzi, Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, Novembro de 2003, página 17;

2) Retirado do livro “Kubrick”, de Enrico Ghezzi, Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, Novembro de 2003, página 29;

3) Retirado do livro “Stanley Kubrick”, de Pierre Giuliani, Horiontes de Cinema 18;

 

Artigo escrito por: Eduardo Magueta e Tiago Resende

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