25 de Abril

Locarno 2023: Ausência de longas brasileiras em Locarno é chocante

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Não adianta procurar nem com lupa. Ainda em consequência da política do ex-presidente Bolsonaro, não há filmes brasileiros de longa-metragem nas principais mostras do 76.º Festival Internacional de Locarno, com início dentro de três semanas.

Felizmente, a presença brasileira é assegurada por dois curtas na mostra “Leopardos de Amanhã”, feitos em colaboração com a Inglaterra e a Alemanha. Nos meus trinta anos de cobertura do Festival de Locarno nunca presenciei essa ausência. Ao contrário, o cinema brasileiro tinha presença e destaque em todas as mostras do Festival.

O projeto entreguista de Bolsonaro com uma gradativa privatização das atividades culturais, levaria, se Bolsonaro tivesse sido reeleito, a uma liquidação de todas as empresas brasileiras dedicadas ao setor cultural: publicação de livros, promoção e realização de shows, direção e montagem de peças teatrais, produção e realização de filmes. O resultado esperado era o de despolitizar todas as atividades culturais, transformando-as em passatempos, do que se aproveitariam grupos, nem sempre nacionais. para investirem em produtos alienantes, como musicais, shows teatrais e filmes dentro do padrão gospel, sobrenatural e espiritualismo, mas nunca de crítica social.

Os dois curtas brasileiros em Locarno

“Pássaro Memória”, de Leonardo Martinelli, na mostra “Pardos de Demain” (Leopardos de Amanhã) em coprodução com a Inglaterra. O realizador Martinelli já foi premiado nesta mesma mostra, há dois anos, com o primeiro prémio, “Pardinho de Ouro”, pelo curta-metragem “Fantasma Neon”, um filme sobre entregadores e a uberização do trabalho. Numa entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, ele havia denunciado o abandono do cinema pelo governo Bolsonaro.

Leonardo Martinelli tem colecionado prémios em diversos festivais e, em novembro de 2018, ganhou o prémio do Portal Rede Sina com seu curta-metragem “Vidas Cinzas”.

Por ocasião do prêmio, Martinelli concedeu uma oportuna entrevista à Rede Sina, da qual transcrevemos um trecho premonitório –

“Acredito que todo brasileiro está preocupado com o futuro de nosso país, seja por uma razão ou outra. Inevitavelmente há um clima de medo pela possível ascensão de um governo anti-democrático. Historicamente, o candidato Bolsonaro apresenta todas as características de um possível fascista. Seus eleitores estão cegos por uma camada de notícias falsas e sensacionalistas, e levados pelo desespero da recessão econômica. Em sua maioria, não são pessoas más, só desinformadas e relutantes em aceitar qualquer interferência externa a sua própria perspectiva. Tentamos dialogar com estes temas para uma conscientização político-social em nosso trabalho”.

O outro curta é “Du bist so wunderbar” (Você é tão maravilhosa), curta-metragem em coprodução com a Alemanha, dos cineastas Leandro Goddinho e Paulo Menezes, diretor de fotografia.

Goddinho é um cineasta brasileiro que vive em Berlim, dedicado às questões LGBTQ+. Formado em cinema e teatro, já fez os curtas “Darluz” e “Piscina”, premiado em diversos festivais. Foi selecionado para a mostra Berlinale Talentos em 2018.

Há também um destaque especial, na mostra História do Cinema, para o cineasta brasileiro Rogério Sganzerla, um dos representantes do cinema marginal, com a exibição de dois de seus filmes: “Abismu” (1977) e “Documentário” (1966).

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