Memórias do Natal: 6 filmes para celebrar a data

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O Natal é uma época mágica, cheia de esperança e celebração. É o momento em que as famílias se reúnem para celebrar o amor e a união. Os filmes natalícios são uma parte essencial desta tradição, ajudando-nos a mergulhar no espírito da quadra.

Imagine uma família aconchegada no sofá, a assistir a um filme de Natal. As crianças riem e vibram de alegria, enquanto os adultos se emocionam com histórias de amor e esperança. O ambiente é caloroso e festivo, unindo todos em momentos de felicidade partilhada.

Essa é a magia dos filmes natalícios: transportam-nos para um mundo de fantasia e alegria, onde tudo parece possível. Não apenas nos fazem sentir bem, mas também nos recordam o que realmente importa na vida, inspirando-nos a ser pessoas melhores.

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Ao longo dos anos, o cinema produziu inúmeros clássicos natalícios. De comédias leves a grandes obras festivas, passando por comédias românticas e animações encantadoras, todos esses filmes têm algo em comum: à medida que o dia 25 de Dezembro se aproxima, ganham destaque, seja na televisão ou nas plataformas de streaming.

Serviços como a Netflix, a Amazon Prime Video e a Disney+ tornam-se vitrinas natalinas, oferecendo títulos imperdíveis como “Sozinho em Casa”, “O Grinch”, “O Amor Acontece” e “The Nightmare Before Christmas”.

Este ano, nós, amantes do cinema, preparámos uma lista especial com recomendações que vão além dos filmes tradicionais da época. Incluímos também os chamados “filmes afectivos” — aquelas produções que marcaram a quadra natalícia para muitas pessoas, seja por surgirem frequentemente na televisão ou por serem revisitadas inúmeras vezes, criando memórias únicas.

Por exemplo, o nosso colaborador Francisco Quintas escolheu “Gladiador”. Embora não seja um filme natalício clássico, associa-o sempre a esta quadra, pois é frequentemente transmitido na televisão durante o Natal, deixando uma marca especial mesmo para quem não se sente particularmente ligado ao espírito natalício.

Confira as nossas recomendações e inspire-se para celebrar a magia do Natal:

Cátia Santos recomenda “Os Excluídos” (2023), de Alexander Payne

Comentário: “De um Natal com todos os ingredientes para se tornar trágico, Alexander Payne resgata o espírito do mesmo modo que resgata os seus tristes personagens para uma vida depois do Natal. Transformando-os em pessoas com anseios e traumas, dá-lhes uma esperança que vai mais além da época em que um conjunto de pessoas foi forçado a permanecer na escola de onde todos queriam fugir. “Os Excluídos” é um belíssimo exercício de humanidade que não esquece um pouco de humor ácido, essencial para se sobreviver com sucesso às festas. Se há bom exemplo de como unir uma série de pessoas ligeiramente danificadas sob a égide do famoso espírito de Natal, este é certamente um dos melhores”.

Francisco Quintas recomenda “Gladiador” (2000), de Ridley Scott

Comentário: “Escolher um filme de Natal merece especial atenção. Tanto podemos falar de uma história que decorra durante o período festivo, independentemente do público-alvo, como de uma história adequada para a época, mesmo que não se passe durante o Natal, pelo seu tom familiar e agregador de público, na sala de cinema ou na sala-de-estar. No meu caso, pelo menos nos últimos anos, um filme que me tende a vir à cabeça por esta altura, mais pela sua transmissão na tv portuguesa, é o ‘Gladiador’ (2000), de Ridley Scott. Algo me diz que os nobres e escravos romanos não trocavam prendas chegados a Dezembro. Contudo, é-me impossível negar a vontade de ver e rever lutas sangrentas no Coliseu ou escutar a banda sonora do Hans Zimmer por esta altura, ainda mais no rescaldo da recente sequela ou na lembrança das várias ressacas que já curei no dia 25 de Dezembro ou no Ano Novo, conforme me encolhia no sofá e me virava para o ecrã da televisão, com cinema do mais inesquecível só para mim.”

Vanderlei Tenório recomenda “Mrs. Doubtfire” (1993), de Chris Columbus

Comentário: “Não sou exatamente o maior fã do espírito natalício. Mas, convenhamos, o que seria do Natal sem as repetições, os clichês e as futilidades dos filmes natalícios norte-americanos, com as suas fórmulas batidas e qualidade média? É, o Natal só faz sentido mesmo quando começamos a ver aquela programação repetitiva de filmes, anunciando a tal grelha especial de feriado. E é claro que, dentro dessa grelha, não faltam os “clássicos” — aqueles filmes que, mesmo sabendo-os de cor, não conseguimos evitar assistir. Dito isso, este ano, tal como o Francisco, decidi recomendar um filme que tem um lugar especial: “Mrs. Doubtfire”. Como mencionei no início, não sou grande fã do clima natalício, mas admiro a forma como ele consegue tocar tantas pessoas, ano após ano. E, embora este filme não seja temático, acredito que consegue transmitir como poucos a essência do que é estar em família e partilhar amor sem limites, mesmo que seja apenas por uma noite. Lançado nos anos 90, “Mrs. Doubtfire” é um desses filmes que não perde o encanto, não importa quantas vezes o vejamos. A história de um pai que dá tudo de si para estar presente na vida dos filhos é tão genuína e emocionante que é impossível não se deixar tocar. É o tipo de filme que nos faz lembrar que, apesar de todos os percalços, o amor e a dedicação à família são capazes de superar qualquer obstáculo. Uma ótima escolha para quem quer uma dose de humor e emoção nesta época tão especial”.

Rúben Fonseca recomenda “Klaus” (2019), de Sergio Pablos

Comentário: “Klaus conta a história de Jesper, um carteiro que tem em mãos uma tarefa árdua: em plena cidade de Smeerenburg, o local mais infeliz do mundo, tem de entregar seis mil cartas num ano. O sucesso da tarefa parece ter os dias contados até que Jesper conhece Klaus, um velho fabricante de brinquedos. Aliando esforços, eles vão levar alegria aos habitantes da cidade. O filme apresenta uma narrativa muito bem escrita e revela-se inovador nos cenários, o que lhe confere uma beleza ímpar. Klaus é a primeira e única obra do realizador Sérgio Pablos e também a primeira obra com a temática do Natal a ser nomeada para o Óscar de melhor filme de animação. Esta proeza ganha ainda mais significado, visto tratar-se de uma produção da Netflix e não da poderosa Disney”.

Wellington Almeida recomenda “De Olhos Bem Fechados” (1999), de Stanley Kubrick

Comentário: “Poucos filmes de Natal começam com a confissão de um desejo sexual reprimido e terminam com um hedonista let’s fuck. Ainda que pareça um sacrilégio categorizar o último filme do mestre americano como um “filme natalino”. 25 anos depois, é ainda mais evidente que “De Olhos Bem Fechados” nunca buscou conforto ou reconciliação. Enquanto Hollywood ainda insistia em romances improváveis e harmonia familiar, Kubrick transformava o Natal num cenário de infidelidades, segredos e numa descida ao inconsciente freudiano. Talvez não seja o filme ideal para acompanhar o panetone, mas se até a IndieWire o incluiu na sua lista dos “filmes mais sexies do Natal”, quem somos nós para discordar? Sob a superfície de uma narrativa sobre ciúmes conjugais inspirada no romance austríaco de Arthur Schnitzler, “Traumnovelle” (que, curiosamente, ganhou uma outra adaptação este ano), Kubrick ambienta sua obra em uma Nova York sombria e quase atemporal. Tom Cruise e Nicole Kidman, os american sweethearts que, na época, era um dos casais mais icônicos do cinema, interpretam o par perfeito que entra numa crise quando a revelação de uma infidelidade imaginada instala o caos e expõe as fissuras de um relacionamento fragilizado. Tendo o Natal como cenário de fundo, com as suas luzes e vitrines festivas, Kubrick parece querer desestabilizar o ideal de harmonia natalina, revelando um submundo de desejos reprimidos e disfarces sociais – um baile de máscaras literal e metafórico. Não se trata apenas de subverter o conceito cristão de monogamia burguesa, mas de expor a fragilidade da intimidade e os códigos das relações. É nesse contraste entre o brilho superficial das celebrações e o escuro labirinto dos desejos que o diretor atinge o ponto alto de sua carreira. É aqui que ele elabora o seu mais feroz conto moral que transforma o mundano no quase metafísico. Com um simbolismo preciso e uma tensão erótica sem pudores, “De Olhos Bem Fechados” é mais do que um comentário sobre desejos ou infidelidades; é um filme que transcende o cinema: um ensaio filosófico mascarado de narrativa, um pesadelo vestido de festa”.

Cláudio Azevedo recomenda “Música no Coração” (1965), de Robert Wise

Comentário: “Não existe Natal sem um forte sentimento de nostalgia ou melancolia. A verdade é que nenhum outro momento do ano me activa, com tanta intensidade, o poder afectivo que existe no mundo simbólico da memória; creio profundamente que apenas aí reside tudo o que podemos chamar magia. A magia que pode estar contida num objecto, num signo, numa imagem, num filme que têm o poder de nos trazer um momento, um espaço, e sobretudo, alguém que vivificou esse espaço e esse tempo e que já não está presente. O filme “Música no Coração” tem esse poder mágico de me trazer uma memória afectiva de pessoas e lugares: da minha família e da casa dos meus avós. Algo me fascinava naquela história: uma freira a transbordar de alegria e de vida, que conseguia trazer a inocência, a ternura e a música de volta a um grupo de crianças que, até à sua chegada, vivia de tristeza e de leis; num um regime inspirado pelas más companhias que frequentavam a casa e que tinham os pés demasiado pesados para conseguirem chegar à leveza necessária para dançar. Este filme traz-me não só esta memória nostálgica do Natal na minha infância, mas também a melancolia de um cinema que desapareceu, um cinema que conseguia estar à altura da criança que fomos; que ainda transmitia o calor, inocente e humano, que entre tanto vanguardismo se dissipou. E confesso: percebo hoje muito menos de cinema do que quando era uma criança que via o movimento das imagens com a mesma inocência e entusiasmo com que um gato persegue um pequeno foco de luz”.

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