Mistida, curta metragem realizada pelo jovem cineasta Falcão Nhaga, produzida pela Escola Superior de Teatro e Cinema, foi seleccionada pela La Cinef, a secção competitiva do Festival de Cannes dedicada a filmes de escola do mundo inteiro e novas vozes do cinema independente.
É a segunda vez em duas décadas que Portugal é representado na La Cinef (anteriormente Cinéfondation) e a segunda vez na história da competição que uma produção inteiramente portuguesa é seleccionada.

Pode ler-se em comunicado do realizador: “Aspiro desesperadamente contar esta história especial, uma linda especificidade na geografia do meu ser: nascido nesta terra, bem assim sou descendente de pais imigrantes. Sou sabido dos seus dias à míngua e no limiar da pobreza, enquanto a indignidade da sua circunstância, pelos anos cadentes da sua vida, significara o desapossar de esperança, de regressar à bem-querida terra, avistar um futuro à luz da decência, de nos ver à roda de amor e família. Se amonta o peso da imigração, da indigência, do sacrifício, da saudade e de ser negro. Mas o amor em Mistida não é emudecido pelo pesar. Pela hereditariedade da dor, são os filhos que acodem os pais, levando consigo a mesma origem desvantajosa, mas também os sonhos resplandecentes do passado que ainda cintilam neles – enquanto este passado tem sido pesaroso até então, enfim, o futuro pode-se tornar mais leve.
Partilhei esta história, o meu coração e o meu espírito com os meus colegas da Escola Superior de Teatro e Cinema. Acredito que o carinho e paixão que dedicaram ao filme foi o que tornou-lhe completo – seja pela naturalidade das conversas entre mãe e filho, que ganharam forma na montagem; pela cinematografia que nos orienta pelos bairros com tamanha gracilidade; ou pelo ambiente sonoro das crianças e do jogo da bola, que acompanham estes momentos com um leve tingir nostálgico, tão necessário quanto todo o resto. É indescritível que da nossa inicial inexperiência e vontade que, por fim, chegamos à concretização do nosso último projecto escolar. “
O filme com argumento de Pedro Cabral e Falcão Nhaga, e distribuição da Portugal Film – Portuguese Film Agency conta com Bia Gomes e Welket Bungué na história de “uma mãe imigrante (Bia Gomes), aflita das costas, liga ao filho (Welket Bungué) para que ele a ajude a carregar os sacos de compras para casa. Durante o percurso, os dois conversam sobre o futuro através do passado, numa revinda às suas amarguras e alegrias”.