Em 2024, o realizador norte-americano tinha sido diagnosticado com um enfisema pulmonar, depois de “muitos anos a fumar”. Morreu esta quinta-feira aos 78 anos. Realizador, produtor, músico e artista, David Lynch fez mais 80 filmes, entre os quais figuram alguns clássicos do cinema como “O Homem Elefante” (1980), “Veludo Azul” (1986), “Mulholland Drive” (2001) e co-criador da série de culto aplaudida pelo público e pela crítica “Twin Peaks” (1989-1991).
A sua família anunciou a notícia numa publicação no Facebook, dizendo: “É com profundo pesar que nós, a sua família, anunciamos o falecimento do homem e artista, David Lynch. Gostaríamos de ter um pouco de privacidade neste momento. Há um grande buraco no mundo agora que ele já não está entre nós. Mas, como ele diria, “fique de olho no donut e não no buraco”. Está um dia lindo com sol dourado e céu azul durante todo o caminho.”
Nascido em 1947, estudou cinema na década de 1960 na Filadélfia e estreia-se nas longas como realizador em 1977 com “Eraserhead – No Céu Tudo É Perfeito”, depois de ter realizado algumas curtas-metragens. Anos mais tarde viria a ganhar um prémio no Fantasporto com este filme que faz uma viagem ao mundo das imagens e dos sons.
De “Eraserhead” Lynch passa para a escala de Hollywood com “O Homem Elefante” (1980), protagonizado por dois grandes atores, John Hurt e Anthony Hopkins, e com uma fotografia a preto e branco marcantes. O drama tocante sobre a “beleza escondida nos feios” de uma aberração de circo na Inglaterra vitoriana arrecadou oito nomeações aos Óscares. Em 1981, George Lucas propõe que realize o terceiro filme da primeira trilogoa de “A Guerra das Estrelas”, mas Lynch recusa.
Depois de duas obras aplaudidas, Lynch é convidado a realizar o sci-fi “Dune – Duna” (1984), protagonizado por Kyle MacLachlan, mas o filme torna-se num grande fracasso de bilheteira e de crítica. “Eu provavelmente não deveria ter feito aquele filme, mas vi toneladas e toneladas de possibilidades para coisas que eu amava, e esta era a estrutura para fazê-las”, afirmou Lynch numa entrevista recente à Far Out.
Protagonizado por Kyle MacLachlan, David Lynch volta a trabalhar com o ator no seu filme seguinte, “Veludo Azul”. A MacLachlan juntam-se Isabella Rossellini, Laura Dern e Dennis Hopper a um drama surrealista com estilo noir que marcou a década de 1980. O filme tornou-se na sua primeira grande obra prima.
Em 1990 estreia “Um Coração Selvagem”, uma comédia negra e estilo road-movie, que lhe valeu a sua primeira e única Palma de Ouro, no Festival de Cannes. Voltaria a ter um filme nomeado em 1992 com “Twin Peaks: Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer”, em 1999 com “Uma História Simples” e em 2001 com “Mulholland Drive”, sendo que com este último venceu o prémio de melhor realização, empatado com Joel Coen por “O Barbeiro” (2001).
Ao longo da sua vida realizou várias curtas-metragens, tendo feito uma a convite do Festival de Cannes para integrar o filme “Cada Um o Seu Cinema” (2007). Participou em vários documentários como “Harry Dean Stanton: Em Parte Ficção” (2012), “David Lynch: The Art Life” (2017) e “Lynch/Oz” (2022).
“Lumière et compagnie” (1995), “Lost Highway: Estrada Perdida” (1997) e “Inland Empire” (2006) são também alguns dos seus trabalhos mais reconhecidos.
Ocasional interpretava pequenos papéis em filmes como na série “Twin Peaks”, ou no seu próprio filme “Lost Highway: Estrada Perdida” (1997), assim como em “Lucky” (2017) e recentemente fez de John Ford, um dos seus “heróis”, em “Os Fabelmans” (2022), de Steven Spielberg.
Em 2018 o cineasta foi o rosto do cartaz oficial da 12.ª edição do LEFFEST e contou com uma exposição fotográfica do artista.
Recebeu em Veneza um Leão de Ouro pelo Conjunto da sua Obra em 2006 e um Óscar Honorário em 2019.