O Nascimento do Cinema
120 Anos, 120 Filmes
Hoje comemoram-se os 120 anos do nascimento do cinema, que se realizou a 28 de dezembro de 1895, no Grand Café de Paris, pela câmara dos irmãos Lumière; e que foi, também, a primeira sessão de cinema paga de que há registo. Nessa dia, foram exibidos vários filmes com duração aproximada de dois minutos, entre eles “A Chegada do Comboio à Estação Ciotat” e “A Saída dos Trabalhadores da Fábrica Lumière”, ambos realizados pelos Lumière, os pioneiros do cinematógrafo.
A partir desta data deu-se uma revolução cultural que mudou para sempre a forma como vivemos e sentimos as histórias: das imagens mudas a preto e branco a imagens faladas e a cores, da celuloide ao digital. O cinema, ainda uma arte recente, criou uma linguagem própria que permitiu aos realizadores moldá-la de diversas formas.
Relembrando as palavras de Bresson: “Prefiro que as pessoas sintam o filme antes de o perceber.” O cinema é acima de tudo sentimentos, sensações, expressões e emoções projetadas em imagens em movimento. “No cinema, a arte consiste em sugerir emoções, e não em relatar factos. O cinema cria uma vida surreal.” O cinema transporta-nos para um sonho. “O cinema é sonho. É um sonho artificial. O cinema não será também ele um sonho? Vou ao cinema do mesmo modo que adormeço.” O cinema gera emoções e sonhos.
Em gesto de homenagem e comemoração, o Cinema 7.ª Arte pretende assinalar esta data histórica com a criação de uma lista composta por 120 filmes que ilustram os 120 anos do cinema. Nove membros do Cinema 7.ª Arte (André Rui Graça, Eduardo Magueta, Helena Morais Soares, Nuno Oliveira, Leonor Reis, Regina Machado, Sérgio Miguel Silva, Sofia Correia Pinto, Tiago Resende) votaram nos filmes que mais os marcaram. Partilharam os seus gostos e formas diferentes de ver e pensar o cinema.
Não se pretende com esta lista ignorar ou menosprezar os restantes filmes que ficaram de fora. Todos têm o seu merecido valor e um papel na história do cinema. Não existe apenas uma história do cinema. Existem várias. Esta lista tenta contar uma dessas histórias.
Esta foi realizada através de um processo de votação (de 1 a 5 pontos) que cada membro atribuiu aos filmes. No total foram submetidos 680 filmes. No final, os filmes com maior pontuação integraram a lista.
“A Paixão de Joana d’Arc” (1928), de Carl Dreyer, foi o filme que obteve maior pontuação (33 pontos), seguindo-se “O Mundo a Seus Pés” (1941), de Orson Welles, com 31 pontos e “2001: Odisseia no Espaço” (1968), de Stanley Kubrick, com 28 pontos. Estes três foram os únicos filmes a conseguir reunir mais membros a votar (7 membros). O quarto mais votado foi “Viagem a Tóquio” (1953), com 24 pontos, e em quinto lugar ficou “O Padrinho” (1972), com 22 pontos.
Entre os realizadores com mais filmes votados está Stanley Kubrick e Andrei Tarkovsky com quatro filmes cada um. Com três filmes encontram-se os realizadores: Ki-duk Kim, Jean-Luc Godard, Akira Kurosawa, Roberto Rossellini, Alfred Hitchcock, Charlie Chaplin, Robert Bresson, Orson Welles e Hayao Miyazaki. A década de 1950 é a que está representada com mais filmes, vinte e três ao todo.
Quanto ao cinema português, os membros do Cinema 7.ª Arte seleccionaram várias obras de realizadores nacionais, como as de Manoel de Oliveira, Fernando Lopes, Manuel Mozos, Paulo Rocha, João Botelho, João César Monteiro, Abi Feijó ou Miguel Gomes. Mas, no final, apenas o cineasta Pedro Costa conseguiu reunir mais votos, tendo aliás conseguido dois filmes na lista final, “No Quarto da Vanda” (2000) e “Cavalo Dinheiro” (2014).
“O cinema é o espelho da vida e não só é o espelho da vida como não há outro. O único espelho da vida é o cinema. Sendo o espelho da vida, é também a memória da vida.” Manoel De Oliveira.
Lista dos 120 Filmes:
- Nascimento de uma Nação (The Birth of a Nation, 1915), de D.W. Griffith
- O Gabinete do Dr. Caligari (Das Cabinet des Dr. Caligari, 1920), de Robert Wiene
- O Garoto de Charlot (The Kid, 1921), de Charlie Chaplin
- Nanook, o Esquimó (Nanook of the North, 1922), de Robert J. Flaherty
- Nosferatu, o Vampiro (Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens, 1922), de F.W. Murnau
- O Couraçado Potemkin (Bronenosets Potemkin, 1925), de Sergei M. Eisenstein
- Metropolis (1927), de Fritz Lang
- O Cantor de Jazz (The Jazz Singer, 1927), de Alan Crosland
- A Paixão de Joana D’Arc (La Passion de Jeanne d’Arc, 1928), de Carl Theodor Dreyer
- Uma Noite Aconteceu (It Happened One Night, 1934), de Frank Capra
- O Triunfo da Vontade (Triumph des Willens, 1935), de Leni Riefenstahl
- Tempos Modernos (Modern Times, 1936), de Charlie Chaplin
- O Grande Ditador (The Great Dictator, 1940), de Charlie Chaplin
- O Mundo a Seus Pés (Citizen Kane, 1941), de Orson Welles
- Relíquia Macabra (The Maltese Falcon, 1941), de John Huston
- Casablanca (1942), Michael Curtiz
- Roma, Cidade Aberta (Roma Città Aperta, 1945), de Roberto Rossellini
- Ladrões de Bicicletas (Ladri di Biciclette, 1948), de Vittorio De Sica
- Alemanha Ano Zero (Germania Anno Zero, 1948), de Roberto Rossellini
- Crepúsculo dos Deuses (Sunset Blvd., 1950), de Billy Wilder
- Às Portas do Inferno (Rashômon, 1950), de Akira Kurosawa
- Brincadeiras Proibidas (Jeux Interdits, 1952), de René Clément
- Humberto D (Umberto D., 1952), de Vittorio De Sica
- Viagem em Itália (Viaggio in Italia, 1953), de Roberto Rossellini
- Viagem a Tóquio (Tôkyô Monogatari, 1953), de Yasujirô Ozu
- Johnny Guitar (1954), de Nicholas Ray
- A Estrada (La Strada, 1954), de Federico Fellini
- O Intendente Sansho (Sanshô Dayû, 1954), de Kenji Mizoguchi
- A Palavra (Ordet, 1955), de Carl Theodor Dreyer
- Noite e Nevoeiro (Nuit et Brouillard, 1955), de Alain Resnais
- Fúria de Viver (Rebel Without a Cause, 1955), de Nicholas Ray
- A Desaparecida (The Searchers, 1956), de John Ford
- Os Sete Samurais (Shichinin no Samurai, 1957), de Akira Kurosawa
- O Sétimo Selo (Det Sjunde Inseglet, 1957), de Ingmar Bergman
- Meu Tio (Mon Oncle, 1958), de Jacques Tati
- A Sede do Mal (Touch of Evil, 1958), de Orson Welles
- A Mulher que Viveu Duas Vezes (Vertigo, 1958), de Alfred Hitchcock
- Os 400 Golpes (Les Quatre Cents Coups, 1959), de François Truffaut
- O Carteirista (Pickpocket, 1959), de Robert Bresson
- Bom Dia (Ohayô, 1959), de Yasujirô Ozu
- Sombras (Shadows, 1959), de John Cassavetes
- Hiroshima, Meu Amor (Hiroshima mon Amour, 1959), de Alain Resnais
- O Acossado (À Bout de Souffle, 1960), de Jean-Luc Godard
- Psico (Psycho, 1960), de Alfred Hitchcock
- Lawrence da Arábia (Lawrence of Arabia, 1962), de David Lean
- A Infância de Ivan (Ivanovo Detstvo, 1962), de Andrei Tarkovsky
- O Homem que Matou Liberty Valance (The Man Who Shot Liberty Valance, 1962), de John Ford
- Fellini Oito e Meio (8½, 1963), de Federico Fellini
- O Desprezo (Le Mépris, 1963), de Jean-Luc Godard
- Os Pássaros (The Birds, 1963), de Alfred Hitchcock
- Doutor Estranhoamor (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, 1964), de Stanley Kubrick
- A Máscara (Persona, 1966), de Ingmar Bergman
- Peregrinação Exemplar (Au Hasard Balthazar, 1966), de Robert Bresson
- O Bom, o Mau e o Vilão (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo, 1966), de Sergio Leone
- História de um Fotógrafo (Blowup, 1966), de Michelangelo Antonioni
- Amor e Morte (Mouchette, 1967), de Robert Bresson
- 2001: Odisseia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968), de Stanley Kubrick
- A Quadrilha Selvagem (The Wild Bunch, 1969), de Sam Peckinpah
- Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1971), de Stanley Kubrick
- O Padrinho (The Godfather, 1972), de Francis Ford Coppola
- F de Falso (F for Fake, 1973), de Orson Welles
- O Espelho (Zerkalo, 1975), de Andrei Tarkovsky
- Taxi Driver (1976), de Martin Scorsese
- Annie Hall (1977), de Woody Allen
- O Caçador (The Deer Hunter, 1978), de Michael Cimino
- Stalker (1979), de Andrei Tarkovsky
- Apocalypse Now (1979), de Francis Ford Coppola
- A Vida de Brian (Life of Brian, 1979), de Terry Jones
- Shining (The Shining, 1980), de Stanley Kubrick
- O Touro Enraivecido (Raging Bull, 1980), de Martin Scorsese
- Fitzcarraldo (1982), de Werner Herzog
- Sans Soleil (1983), de Chris Marker
- Nostalgia (Nostalghia, 1983), de Andrei Tarkovsky
- Paris, Texas (1984), de Wim Wenders
- Ran – Os Senhores da Guerra (Ran, 1985), de Akira Kurosawa
- Vem e Vê (Idi i Smotri, 1985), de Elem Klimov
- Veludo Azul (Blue Velvet, 1986), de David Lynch
- As Asas do Desejo (Der Himmel über Berlin, 1987), de Wim Wenders
- O Túmulo dos Pirilampos (Hotaru no Haka, 1988), de Isao Takahata
- Histoire(s) du Cinéma (1988), de Jean-Luc Godard
- O Meu Vizinho Totoro (Tonari no Totoro, 1988), de Hayao Miyazaki
- Cinema Paraíso (Nuovo Cinema Paradiso, 1989), de Giuseppe Tornatore
- O Clube dos Poetas Mortos (Dead Poets Society, 1989), de Peter Weir
- O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs, 1991), de Jonathan Demme
- Lista de Schindler (Schindler’s List, 1993), de Steven Spielberg
- Querido Diário (Caro Diario, 1993), de Nanni Moretti
- O Rei Leão (The Lion King, 1994), de Roger Allers, Rob Minkoff
- Pulp Fiction (1994), de Quentin Tarantino
- Os Condenados de Shawshank (The Shawshank Redemption, 1994), de Frank Darabont
- Chungking Express (Chung Hing Sam Lam, 1994), de Kar-wai Wong
- Era Uma Vez um País (Underground, 1995), de Emir Kusturica
- Toy Story: Os Rivais (Toy Story, 1995), de John Lasseter
- A Vida é Bela (La Vita È Bella, 1997), de Roberto Benigni
- Fogo de Artifício (Hana-bi, 1997), de Takeshi Kitano
- Titanic (1997), de James Cameron
- A Princesa Mononoke (Mononoke-hime, 1997), de Hayao Miyazaki
- A Barreira Invisível (The Thin Red Line, 1998), de Terrence Malick
- Clube de Combate (Fight Club, 1999), de David Fincher
- Tudo Sobre a Minha Mãe (Todo Sobre Mi Madre, 1999), de Pedro Almodóvar
- Uma História Simples (The Straight Story, 1999), de David Lynch
- Disponível para Amar (Fa Yeung Nin Wa, 2000), de Kar-wai Wong
- O Bordel do Lago (Seom, 2000), de Ki-duk Kim
- No Quarto da Vanda (2000), de Pedro Costa
- A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no Kamikakushi, 2001), de Hayao Miyazaki
- O Senhor dos Anéis – A Irmandade do Anel (The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring, 2001), de Peter Jackson
- O Quarto do Filho (La Stanza del Figlio, 2001), de Nanni Moretti
- A Arca Russa (Russkiy kovcheg, 2002), de Aleksandr Sokurov
- O Pianista (The Pianist, 2002), de Roman Polanski
- Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles, Kátia Lund
- Primavera, Verão, Outono, Inverno… e Primavera (Bom Yeoreum Gaeul Gyeoul Geurigo Bom, 2003), de Ki-duk Kim
- O Despertar da Mente (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004), de Michel Gondry
- Ferro 3 (Bin-Jip, 2004), de Ki-duk Kim
- Ninguém Sabe (Dare mo Shiranai, 2004), de Hirokazu Koreeda
- Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos (Little Miss Sunshine, 2006), de Jonathan Dayton, Valerie Faris
- A Origem (Inception, 2010), de Christopher Nolan
- O Mágico (L’illusionniste, 2010), de Sylvain Chomet
- A Árvore da Vida (The Tree of Life, 2011), de Terrence Malick
- Amor (Amour, 2012), de Michael Haneke
- Interstellar (2014), de Christopher Nolan
- Cavalo Dinheiro (2014), de Pedro Costa