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A Minha Viagem ao Cinema do Leste Europeu (Cinema Polaco)

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O meu interesse pelo cinema europeu nasce através dos grandes autores literários que me acompanharam durante a minha adolescência e continuam a acompanhar nos dias de hoje. Os grandes autores russos, polacos e checos eram meus autores de cabeceira e graças a eles eu fui introduzido a esse mundo particular da cultura Eslava.

Atualmente vivo em Cracóvia, a segunda cidade mais importante da Polónia, berço de escritores, poetas, pintores e de grandes nomes do cinema, o interesse pela cultura e produção artística da região e de seus arredores em mim só faz aumentar.

Nesta serie de artigos, “A Minha Viagem ao Cinema do Leste Europeu”, eu vou leva-los a uma viagem através da historia dos principais países do leste europeu redescobrindo as suas historias e viajando numa time-line infinita permeada por seus artistas que contribuíram com a historia do cinema, não só local mas que foi capaz de influenciar pessoas de todo o mundo.

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Neste primeiro artigo apresento a Polônia e seu cinema histórico, politico e realista através da ótica de seus cineastas do passado e do presente

Muitas pessoas que conhecem ou ja tiveram algum contato com o cinema Polonês talvez nem imaginem o qual importante foram os desdobramentos e desenvolvimentos que os Polacos trouxeram para a invocação da industria do cinema e da televisão. A historia do cinema polonês se inicia antes de uma industria propriamente dita ter sido criada, polacos pioneiros e com espirito inovador como inventores e empresários fizeram parte da historia do cinema e da sua evolução e contribuíram, para que o cinema e a televisão se tornassem o que conhecemos hoje.

Um fato curioso e o de que já no século XIX, vários inventores, entre eles Piotr Lebiedziński, Jan Szczepanik e Kazimierz Prószyński, criaram suas próprias câmeras de filme enquanto Edson criava e desenvolvia o Kinetoscópio para gravar em fita e Augustie e Louis Lumiere patentearam o cinematografo.

Os mentores e pioneiros do cinema polonês do período eram empresários judeus. Eles investiram na nova indústria que estava a despontar e, assim, promoveram seu desenvolvimento. Filmes em iídiche eram uma parte importante do cinema polonês antes da Segunda Guerra Mundial. Uma estatística interessante, 70 dos 170 filmes judeus lançados entre 1910 e 1950 foram feitos na Polônia. A Polônia é um dos três principais centros de cultura iídiche do mundo, junto com os Estados Unidos e a União Soviética.

Apesar dos crescentes problemas econômicos e do agravamento da situação política (incluindo o crescente anti-semitismo), a população judaica contava três milhões na Polônia e o país tornou-se um centro para o cinema judeu.

Outro fato histórico interessante foi a participação desse judeus Poloneses na construção de fatos estudio em Hollywood entre 1930 e 1940. O crescente anti-semitismo nas décadas de 1920 e 1930 levou vários empresários e artistas judeus a deixar a Polônia. Hollywood estava entre os destinos mais populares, em Los Angeles, os judeus poloneses montaram os maiores e mais importantes estúdios de cinema, a MGM e a Warner Brothers os judeus poloneses também tiveram grande influência na criação da  Broadway com os irmãos Shubert da cidade de Wejherowo, na Polônia.

A cinematografia polaca data do final da Primeira Guerra Mundial, quando a Polónia recuperou a independência após mais de 120 anos de ocupação. A grande maioria dos filmes produzidos pela indústria florescente eram melodramas e filmes patrióticos, os mais famosos e importantes foram com os atores Krystyna Ankwicz e Mieczysław no filme “Cham” e Jan Nowina em “Przybylski” no ano de  1931.

A cinematografia polaca desenvolveu-se dinamicamente durante o período entre guerras. Mais de 150 estúdios de cinema foram criados, entre os quais os mais importantes foram Sfinks, Leo e Falanga.

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O cinema Polones também produziu grandes estrelas, uma delas foi a atriz Pola Negri (Apolonia Chałupiec) uma imigrante Polonesa. Ela foi uma das maiores estrelas da época do cinema mudo. Pola estreou em 1914 no seu primeiro filme entitulado “Niewolnica Zmysłow” (Slave to her Senses), dirigido por Jan Pawłowski. Durante a Primeira Guerra Mundial, o filme de Alexander Hertz, estrelado por Pola Negri, foi parar no mercado alemão onde a atriz começou a ter visibilidade internacional. Pola Negri ficou conhecida como a vampira que roubou o coração de Charles Chaplin, em viagem para a Europe, Chaplin foi perguntado o que ele tinha encontrado de interessante em sua viagem. Ele respondeu ‘Pola Negri’. Com a ajuda de Chaplin, Negri se tornou uma estrela de Hollywood, mas como muitas das estrelas do cinema mudo a sua carreira teve fim na chegada do cinema falado.

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A Escola de Cinema de Łodz.

Um grande acontecimento que interviu diretamente na evolução e na criação e definição de um cinema de características enraizadas polonesas foi a criação da famosa escola de cinema na cidade de Łodz, a “Leon Schiller filme nacional, escola de teatro e televisão” seu original nome, localizada no centro do pais foi como imã que atraiu os principais cineastas e grandes nomes do cinema polonês e mundial impulsionando e reinventando o cinema polonês através do principais movimentos do cinema Polaco, a escola de Łodz é uma das mais prestigiadas escolas de cinema do mundo. Três de seus ex-alunos ja ganharam um Óscar. Pela escola de Łodz passaram nomes como Andrzej Wajda, Krzysztof Kieslowski, Roman Polanski, Andrzej Munk, Krzysztof Zanussi e Marek Koterski.

O renascimento do cinema na Polônia depois da Segunda Guerra Mundial está intimamente ligado à Escola de Cinema de  Łodz, que abriu as portas em 08 de outubro de 1948. O pós-guerra na Polônia desdobrou se lentamente e com ele veio a censura. Neste contexto, a Escola de Cinema de Łódź é progressista e inovadora, um verdadeiro bastião de liberdade artística. Professores e estudantes acompanharam as tendências dos avant-garde europeu, leram as obras do Teatro do Absurdo, e reverenciado a análise psicológica profunda de Gombrowicz (grande autor literário polonês) e Franz Kafka. A escola de Łodz foi um dos poucos lugares no país em que filmes estrangeiros eram exibidos, clássicos europeus e as mais recentes obras da escola neo-realista italiana. Suas salas de cinema mal podiam conter as massas de estudantes e visitantes que queriam ver algo único e que estava acontecendo por todos os lugares da Europa.

O pos-guerra no cinema Polones.

Desde sua invenção o cinema nunca mais se separou dos acontecimentos mundanos e de tudo que seria parte da nossa historia, os acontecimentos seguintes a guerra foram de grande importância para o cinema polonês, logo após a guerra ter sido decidida, o regime comunista via o cinema como uma ferramenta de propaganda que seria fundamental na construção de um pais verdadeiramente socialista.

Os trabalhos de documentaristas e cineastas foram marcados pelo realismo social. O primeiro filme polonês que foi fiel ao realismo social e exibiu uma visão de socialismo favorável à classe dominante foi “Jasne łany” de Eugeniusz Cękalski. Havia muitos outros: “Uczta Baltazara” de Jerzy Zarzycki e Jerzy Passendorf de 1954, e “Przygoda na Mariensztacie” de Leonard Buczkowski de 1953 (o primeiro filme polonês de technicolor).

Os primeiros filmes dos grandes também foram afetados pelo dogma do realismo social: “Celuloza” de Jerzy Kawalerowicz, “Generation” de Andrzej Wajda ou “Piątka z ulicy Barskiej” de Aleksander Ford que é um dos melhores filmes dos anos 50 que mereceu um premio no  Festival de Cinema de Cannes de 1954.

Por toda a Europa, anos de dolorosa guerra haviam produzido a necessidade de filmes que curassem feridas. Na Polônia, o “Zakazane piosenki” (Canções Proibidas) de Leonard Buczkowski, que mostrava a vida cotidiana na Varsóvia ocupada, atendeu ao chamado. Também muito popular em toda a Europa foi o drama de guerra de Aleksander Ford de 1948, “Ulica graniczna”. A história tratou de crianças judias e polonesas durante a Segunda Guerra Mundial. Este filma alcançou quase um milhão de espectadores na França.

O nascimento dos movimentos e cinema poloneses “Escola de cinema Polonesa”

Durante os anos 50 uma nova geração de filmmakers surgia com força em uma nova corrente que foi chamada de “Escola de Cinema Polonesa, a proposta principal era a de criar obras que ajudariam a chegar a um acordo com a guerra, a maioria dos que faziam parte dessa nova corrente eram de pessoas que tinham nascido na década de 1920. A guerra tinha deixado marcas profundas nessas pessoas retirando delas grande parte das sua adolescência e vida adulta, e esses novos diretores eram inflexíveis em mostrar suas consequências diante das cameras. A corrente foi representada por vários diretores: Andrzej Wajda, Andrzej Munk, Jerzy Kawalerowicz e Wojciech Jerzy Has, esses realizadores são os repensáveis pela época de ouro do cinema polonês, eles tiveram grande notoriedade ao passar do tempo quando as mudanças e o clima politico permitiram que a “Escola de Cinema Polonesa” aparecesse.

Os artistas rejeitaram completamente as marcas ainda profundas que o comunismo deixara com a influencia dos resquícios do realismo social e o que ele representava, com outro objetivo em mente cresce então uma vertente do cinema Polonês que privilegia o uso do romantismo e o uso de mitos nacionais, grandes exemplos dos principais filmes desta escola embrionária  incluem “Canal” de Andrzej Wajda de 1956, premiado no Festival de Cinema de 1957, “Ashes and Diamonds” de 1958 e “Lotna”  de 1959, bem como filmes de Andrzej Munk, “Man on Tracks” de 1956, “Eroica” de 1957 e “Bad Luck” de 1959.

Ambos os diretores analisaram os mesmos assuntos em suas criações, pois as ambições e sofrimentos eram muito parecidos. Eles expuseram a história da Polônia, mostram a derrota nacional, falaram de honra, patriotismo e responsabilidade para com a pátria. Ao expressar sua crença nesses valores, eles simultaneamente os questionaram e deram ao publico polonês uma forte ferramenta para que eles pudessem olhar ao seu redor e entender o mundo e o ambiente onde viviam.

A “Escola Polonesa de Cinema” também é conhecida por criar filmes mais profundos, psicológicos e existenciais. Estes incluem Wojciech Jerzy Has, “The Noose” de 1957, “Farewells”  de 1958 e “Roomers” de 1959, bem como “Real End” de 1957 de Jerzy Kawalerowicz, “Night Train” de 1959 e “Mother Joan of the Angels”  de 1960, confesso ser um dos meus favoritos, na mesma linha está “The Last Day of Summer” de 1958 de Tadeusz Konwicki e “All Souls Day” de 1961.

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Andrzej Wajda é o diretor mais amado, talvez o que tenha conquistado o maior reconhecimento nacional, nas conversas diárias sobre cinema com os amigos e até com os mais velhos o nome de Wajda sempre é relembrado, seus filmes ainda tem lugar nas tardes de domingo em canais das televisões poloneses, realmente não existe uma discussão sobre o cinema polonês que não passe por Wajda, ele fistulou por todos os principais movimentos do cinema polonês e foi parceiro, professor e por anos foi a voz de uma geração.

Seu estilo cinematográfico era como livros de historia transformados em filmes com toda a poma e elegância que eles precisassem. No início de sua carreira, seus filmes trataram da guerra e mais tarde, com os filmes “Man of Marble”, “Man of Iron” e “Man Of Hope” Andrzej Wajda’s solidificou a sua trilogia da Solidariedade, onde ele mostrou o papel que desempenhou o comunismo sufocante. Ele recebeu reconhecimento mundial e tem seguidores fiéis ate no Japão. Em 2000, ele ganhou um Óscar pelo Lifetime Achievement.

Andrzej Wajda foi um dos cineastas mais emblemáticos da Polônia e, juntamente com Krzysztof Kieslowski, ajudou a definir a Polônia como um centro de cinema de arte na Europa Oriental.

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Andrzej Munk foi outra figura importante da Escola de Cinema Polonesa. Wajda usou histórias de heroísmo e romantismo para ajudar os poloneses a se recuperarem da guerra. Munk, por outro lado, usou o racionalismo para criticar o romantismo polonês.

Munk, disse uma vez em uma entrevista: “Queríamos mostrar como espalhar o ideal de ser um herói a todo o custo, influenciar indivíduos que não são heróis naturais e com isso poder os transformar em heróis”

Munk era um documentarista acima de tudo, antes de se tornar famoso por “Eroica” e “Bad Luck, Munk era na verdade um documentarista que respeitava as diretrizes da doutrina realista social, ele filmou as condições de trabalho dos ferroviários e dos mineiros em tom de denuncia.

Com apenas três longa metragens ele se tornou o mais importante cineasta de seu tempo ao lado de Wajda, seus filme “Man of Tracks” é muita vezes referido como o Cidadão Kane polonês, em “Eroica” e “Bad Luck” ele utilizou a ironia e objetividade para discutir os recentes eventos sociais poloneses, o trauma de guerra e a reverencia do heroismo.

Seu filme “Eroica” foi considerado um filme “anti-heroico”.

Nos anos 60, jovens artistas entram em cena.

Juntamente com a Escola de cinema Polonesa, uma nova corrente surge no final dos anos de 1950 e inicio dos anos de 1960, essa corrente foi apelidado de “O Terceiro Cinema Polonês”. Apos os esforços feitos no pós-guerra e a resolução de contas da “Escola de Cinema Polonesa”, era a hora dos novos artistas entrarem em cena.

Artistas esses que haviam sido criados depois da guerra e portanto so haviam experimentado a realidade do pós-guerra. Era o fim da era stalinista, fato que modificava a historia de todo o mundo dada a importância da Russia em suas vitorias e sua grande influencia no oriente e no ocidente. Mesmo com toda a atenção voltada para o desenrolar da das atividades na União Sovietica e seu bloco comunista que mais tarde se desencadearia em uma nova guerra a guerra fria, esses jovens cineastas poloneses estavam muito mais interessados em falar sobre as suas vidas cotidianas, escolhas morais, oportunismo e medo da vida adulta, pois o horizonte que apresentava frente a eles era ainda obscuro demais.

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Jerzy Skolimowski, era o líder representativo dessa nova geração de cineastas Poloneses. Além de realizador era também, roteirista, ator, poeta e pintor, Skolimowski é muitas coisas e em sua juventude ele era um boxeador.

Skolimowski era também um ótimo parceiro, ele escreveu todo o roteiro  de “Innocent Sorcerers” que foi dirigido por Wajda e foi o autor do roteiro para “Knife in the Water” de Roman Polański.

Skolimowski dirigiu o seu primeiro filme em1964, “Identification Marks: None” utilizando um método inovador, ele compilou todos curta metragens de seus estudantes em um longa metragem.

Skolimowski foi também inovador por romper com o realismo em seu terceiro filme “Barrier” embora permanecendo fiel aos princípios defendidos pelo “Terceiro Cinema Polonês”, Skolimowski substituiu o realismo e utilizou uma linguagem dos símbolos, ao contrario de seus outros filmes “Barrier” que é menos pessoal por causa da interferência dos censores. Problema que só não foi maior do que com o seu proximo filme que foi “Hands Up!” de 1967, os censores não concordaram com a fotografia dos membros da União da Juventude Polonesa (uma jovem organização afiliada com o partido Comunista).

Em uma cena, os alunos estão colocando um cartaz de Stalin e erroneamente dão dois pares de olhos. Como resultado, “Hands Up!” foi banido por muitos anos, apenas para ser lançado em 1981.

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O segundo grande nome dessa geração é sem duvida Wojciech Jerzy Has o criador de universos visuais únicos e inesquecíveis é tido como o mais visionário realizador do cinema Polonês, Has criou um mundo próprio que se revelava em total poesia em seus filmes, não há nenhuma preocupação com protagonistas que eram completamente secundários, o ambiente visual era sempre de maior importância para Has onde ele criava seus mundos próprios que existiam em um labirinto de tempo com uma peculiaridade narrativa muito particular, alguns o relacionam ao Russo Andrey Tarkovsky por certas semelhanças nos temas que tratava, especialmente quando abordava o mundo fantástico dos sonhos.

Has evitou temas politicos ou comerciais em seu trabalho, atitude que sempre o afastava da industria cinematográfica por seus filmes não serem tão “comerciais”, Has produziu a maioria dos filmes no auge da famosa Escola de cinema Polonesa mas seus filmes eram estilisticamente diferentes, Has era um homem que falava através de seu cinema, em sua vida privada ele era extremamente solitário e pouco comunicativo.

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Jerzy Kawalerowicz, foi o mais universal da Escola de Cinema Polonesa, nos seus primeiros filmes Kawalerowicz estava mais proximo da onda italiana do neo-realismo, ele utilizou o estilo para poetizar a realidade cotidiana de seu pais, Kawalerowicz era reconhecido pelo seu poder de observar a realidade quotidiana e as vezes frugal e retrata-la através de personagens autênticos e imagens visuais sensíveis.

Um de seus filmes mais conhecidos é Mother Joan of the Angels, (ganhador do Prémio do Júri Especial da Palma de Prata, em 1961, na Cannes IFF) e Faraó (indicado ao Oscar em 1967). Ambos os filmes são determinantes para se compreender o estilo único de Kawalerowicz. Enquanto seus colegas Poloneses estavam se referindo ao passado da Polonia jovem e o romantismo exagerado Kawalerowicz explorava uma diversidade de assuntos, ha uma particularidade que fácil se identifica nos filmes de Kawalerowicz uma oposição profunda a qualquer emocionalidade individual e coletiva desenfreada. Kawalerowicz foi possivelmente o primeiro cineasta polonês a rejeitar a vertente romântica que habitava na Escola de Cinema Polonesa marcando assim um ponto de diferenciação entre os pessoal do Terceiro Cinema Polonês e o pessoal da Escola de Cinema Polonês.

O Cinema da Ansiedade Moral

Os grandes nomes dessa geração são conhecidos mundialmente e por muitos é a grande geração que tornou o cinema polonês um cinema internacional com temas diversos, com extrema criatividade na forma de filmar e originalidade em seus roteiros. Essa foi a geração que realmente conseguiu mostrar o cinema Polonês para alem da cortina de ferro e dos arredores das republicas Socialistas Soviéticas, muitas parcerias com realizações francesas, inglesas e americanas foram feitas e ajudaram a impulsionar o nome desses realizadores.

Grandes mudanças ocorreram na cinematografia polonesa nos anos 70, os tópicos ligados a politica e ao socialismo ja não estavam mais em primeiro plano e os cineastas poloneses começaram a perseguir os aspectos psicológicos da realidade cotidiana no pais, mais do que apenas falar sobre assuntos relacionados a historia passada e como alguns eventos modificaram e influenciaram a vida das pessoas, esses cineastas estavam voltados muito mais para o que o pais tinha para mostrar alem da historia que acontecia em primeiro plano, eles começaram a falar sobre a vida nas pequenas cidades e no campo, da corrupção, do nepotismo e do choque entre ideais comunistas.

Foi através de um grande nome da “Escola Polonesa de Cinema” o realizador Andrzej Wajda e um nome que era novo mas já conhecido pelos alunos da universidade de Łodz Krzysztof Zanussi que  durante o Filmmakers Forum em Gdańsk, em 1975, marcou o início da nova corrente que seria a responsável de fazer com que os poloneses se voltassem para si próprios e enxergassem a marca de seu passado e de seu presente dentro deles próprios com uma perspectiva do que poderia ser o próprio futuro numa Polônia em constantes mudanças. Neste discurso os cineastas acusaram os lideres comunistas de sufocar a liberdade artística e impedir a possibilidade de realizar um debate público sobre questões sociais e politicas.

O termo “Cinema da ansiedade moral” que deu nome a essa nova onda do cinema Polonês foi dado por Janusz Kijowski, que explicou que a ansiedade moral é a base do cinema porque “a ansiedade é conflito, conflito de interesses”e o filme que estreava o “Cinema da ansiedade moral” foi “Personnel” de Krzysztof Kieślowski’s 1976. Foi também a sua estreia no cinema. No entanto, a corrente estava no auge após o lançamento de “Man of Marble”, de Andrzej Wajda.

As obras mais importantes do Cinema da Ansiedade Moral são “Provincial Actors” e “Lonely Woman” de Agnieszka Holland“Camouflage”, “Illumination” e “The Constant Factor” de Krzysztof Zanussi; “Top Dog” de Feliks Falk; “Rough Treatment” de Andrzej Wajda e finalmente o maravilhoso filme “Blind Chance” de Krzysztof Kieślowski.

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Krzysztof Zanussi não estava diretamente ligado ao “Cinema da Ansiedade Moral”, nem seus filmes podem ser considerados ao longo de qualquer trilha ou tendencia claramente definida no cinema polonês ou internacional.

Nos anos 70, Zanussi fez “Familly Life”, “Behind The Wall”, “Ilumination”, “Camuflage”, e “Spiral”. Todos esses filmes tiveram um protagonista construído na mesma linha, um homem que se depara com uma escolha entre valores e a tentação de ter que rejeitá-los.

Zanussi é sempre sitado entre os grandes nomes do “Cinema da Ansiedade Moral” por seus filmes possuírem temas muito distintos dos seus predecessores dos últimos movimentos do cinema polonês. Os filmes de Zanussi eram perfeitos exemplos do que ficou conhecido como “Cinema de Autor”, Zanussi escreveu os roteiros de quase todos os seus filmes, explorando temas como o amor, a morte a felicidade e a consciência. Por Zanussi não se assumir diretamente um realizador parte do “Cinema da Ansiedade Moral” alguns críticos de cinema comumente o comparavam com os artistas da Nouvelle Vague francesa pelo conteúdo existencial de seus filmes.

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Krzysztof Kieślowski é um dos diretores poloneses mais conhecidos do mundo, seu trabalho teve repercução mundial e ele é celebrado em festivais de cinema em toda parte. Mas ele nem sempre quis ser cineasta, em trechos de um documentário onde o próprio Kieślowski fala de seu trabalho e de sua vida ele diz: “Para dizer a verdade, eu nunca quis ir à escola”. “Eu queria ser um foguista” (Um fogueiro ou foguista é um profissional que opera caldeiras a vapor). Quando ele finalmente decidiu se matricular na Escola de Cinema de Łódź, levou três tentativas para ser aceito “Eu era realmente teimoso… Se os filhos da puta não me querem, eu vou mostrar eles entrando”.

Na escola ele conheceu pessoas que ele poderia admirar Kazimierz Karabasz, palestrante e documentarista e Jerzy Bosak eram seus grandes parceiros.

Depois de se formar, ele começou a trabalhar para a Wytwórnia Filmów Dokumentalnych i Fabularnych (Companhia de Produção de Documentários e Longas Metragens) em Varsóvia. Naquela época Kieślowski era mais interessado em documentários, ele falava com os adolescentes nas escolas, os velhos nas ruas e os trabalhadores sobre a vida na Polônia e o lado negro do socialismo, suas perspectivas, sonhos e desejos para o futuro, o grande sucesso de seus filmes acabaram por obscurecer seus documentários que permanecem atuais.

O ano de 1985 seria crucial para a ascensão de Kieślowski, neste ano nasce a colaboração que duraria anos com o renomado advogado Krzysztof Piesiewicz na produção de roteiros dos seus principais filmes, juntos eles fizeram: “No End”, “Short Film About Killing”, “Short Film About Love”, “The Decalogue”, “The Double Life of Veronique” e “Three Colours trilogy”. A importância de Piesiewicz na carreira e vida de Kieślowski é tão grande que juntos eles produziram os filmes responsáveis por tornar a carreira do talvez futuro foguista Kieślowski, no cineasta polonês de reconhecimento e prestigio mundial.

Depois de completar a “Trilogia das Três Cores” durante 1993 e 1994, Kieślowski anunciou que estava abandonando a profissão de cineasta. Durante os últimos meses de sua vida, ele trabalhou com Piesiewicz em um roteiro de um tríptico composto por obras intituladas Paradise, Purgatory and Hell. Em 2002, o longa-metragem do diretor alemão Tom Tykwer, “Heaven”, produzido na Alemanha e na Itália, foi baseado no roteiro de Kieślowski e Piesiewicz para a primeira parte da trilogia inacabada.

Polanski 14

Roman Polański, com toda certeza o mais controverso e reconhecido realizador polonês, iniciou a carreira ainda criança no teatro de Cracóvia, mas o futuro iria coloca-lo por de traz das cameras sendo reconhecido não só em toda a Europa mas no disputado cinema americano durante as décadas de 1960 e 1970. Polański e o merecido e disputado Oscar de melhor realizador em 2003 com o filme “The Pianist”, depois de sua carreira ter sofrido uma perigosa e controversa reviravolta anos antes.

Polański foi descoberto por Antoni Bohdziewicz, um diretor e pedagogo que viu Polański no palco pela primeira vez em 1953. Ele lhe ofereceu um papel no filme “Trzy opowieści” (Três Histórias). Não muito tempo depois, o futuro diretor interpretou o grande filme de estréia de Andrzej Wajda – Geração. O filme marcou o início do caminho de Polanski porque lhe deu um incentivo para estudar cinema. Ele foi para a Escola de Cinema de Łódź.

Desde o início, os filmes de Polański eram difíceis de categorizar pelos padrões poloneses. Ele não estava preocupado com os mesmos tópicos que os outros diretores próximos. Seus filmes não lidaram com traumas e história nacionais. Ele criou seu próprio mundo cinematográfico, lidando com a solidão e a memória, a sexualidade como ferramenta de dominação e a relação entre impulsos humanos e papéis sociais.

Depois de “Knife in The Water”, em 1962, Polański partiu para a França. Seus filmes receberam prêmios em festivais internacionais em Veneza, menções especiais em Teerã e Panamá e uma indicação ao Óscar de filme estrangeiro em 1963 que ficou com Fellini por 8 1/2.

Depois de filmar “Repulsion” e “Cul-de-Sac”, Polański foi para Hollywood, onde criou as obras-primas “Rosemary’s Baby” e “Chinatown” carimbando o nome de Polanski de vez no mural dos grandes realizadores poloneses e mundiais com um reconhecimento dentro e fora da Polônia, mas depois das comemorações e celebrações de suas vitorias, Polanski foi preso nos EUA em março de 1977 e acusado de seduzir e estuprar Samantha Geimer, então menor de idade. Depois de um ano de batalha no tribunal, onde Polanski dizia ser abusado pelo o juiz, Polański disse em uma entrevista “fui tratado como um rato com o qual um enorme gato entediado simplesmente brinca”, depois de uma batalha cruel com a corte americana ele fugiu dos EUA horas antes da proclamação oficial da sentença, para nunca mais voltar. Desde então, ele filmou principalmente na França: “The Tenant”, “Tess”, “Frantic”, “Venus in Fur”.

Em 2003, ele recebeu um Óscar de Melhor Diretor por “The Pianist” concorrente com Rob Marshal (“Chicago”), Martin Scorsese (“Gangs of the New York”) e Pedro Almodovar (“Talk to Her”) e apresentado por Harrison Ford na 75º premiação da academia.

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As mulheres também tiveram seu espaço como realizadoras na historia do cinema polonês, Agnieszka Holland talvez seja o maior nome feminino entre as realizadoras polonesas e a desbravadora de um cinema que abriu as portas para que outras mulheres mostrassem suas ideias e visões de mundo através do cinema.

Juntamente com Polański e Pawlikowski, Agnieszka Holland é o segundo realizador polonês vivo a trabalhar predominantemente fora da Polônia e ao contrario da maioria dos realizadores poloneses que estudaram na escola de Lodz, Agnieszka se formou na Escola de Cinema de Praga em 1971, depois de se formam ela voltou para a Polonia e trabalhou com Zanussi e mais tarde com Stanisław Latałło. Ela também trabalhou com Andrzej Wajda em seu X Film Studio e também escreveu vários roteiros em parceria com Wajda antes de dirigir seus próprios filmes, que logo foram premiados em festivais. Na Polônia, ela ganhou notoriedade como parte da nova onda polonesa. Seu avanço internacional veio com “Angry Harvest” (indicado ao Óscar em 1985), “Europa, Europa; Olivier, Olivier”, “The Secret Gardem” e “Washington Square”.

Agnieszka é uma renomada realizadora que faz parte de coproduções internacionais dirigindo episódios de series na TV Americana como “Wire”, “The Killing” e “Cold Case”.

Seus filme “In Darkness”, sobre um trabalhador de esgoto que decide salvar vidas de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, recebeu uma indicação ao Oscar em 2012.

Os grandes nomes da atualidade.

Na virada do século a Polônia ainda continuou a produzir cinema de qualidade, um dos pontos fortes dessa nova leva de realizadores é com certeza a sua versatilidade e a possibilidade de tratar de temas diversos. O cinema Polonês é muito rico e abrangente, associado a uma grande variedade de gêneros, estilos criativos e sempre inovador que se manifestaram através de três pilares que sustentam o cinema Polonês a Politica, Poesia e a Polarização. A idade de ouro do cinema Polones é frequentemente ligada a principais realizações dos realzadores mais famosos da “Escola de cinema polonesa” nos anos 50 e 60, grandes nomes como, Wajda, Munk, Kawaleroeicz, Has, Konwicki, ou com o movimento que ficou conhecido pelo “Cinema de Ansiedade Moral” que ocorreu durante os anos 70 e o inicio dos anos 80 com Zanussi e Kieślowski.

Mas esses novos diretores dos quais apresento abaixo vieram para mostrar o quanto o cinema atual Polonês continua vivo e pulsante.

Paweł Pawlikowski 16

“Ida” é, sem dúvida, o filme de maior sucesso na história recente do cinema polonês, e o único na história que recebeu um Óscar de Melhor Filme Estrangeiro.

O que atraiu tanto o público quanto a crítica internacional para a história de Anna, uma jovem freira na década de 1960 que está procurando sua verdadeira identidade com sua tia.

Com uma impressionante e austera cinematografia a preto e branco, a sua cenografia ascética e o seu formato 4:3 ao longo de todo o filme, “Ida” poderia facilmente ser uma das obras de Dreyer ou Bresson. É difícil acreditar que este filme, que nem é vintage, mas está completamente em oposição ao cinema moderno, tenha sido lançado em 2013.

Este filme retrata a diversidade na mistura de linguagens adotada por Paweł Pawlikowski e as influencias que o cineasta polonês recebeu de cineastas internacionais, mas sem perder a sua essência e a suas referencias. Pawlikowski nasceu em Varsóvia em 1957 e deixou a Polônia aos 14 anos. Sua imaginação e modo de ilustrar estão mais próximos das tradições da Europa Ocidental do que as adotadas pela “Escola de Cinema Polonesa” ou o “Cinema da Ansiedade Moral”. Ele estudou literatura e filosofia em Londres e Oxford e entrou no ramo de filmes aos trinta anos e fez seu primeiro longa aos quarenta anos de idade. Ele começou como documentarista na BBC Community Program Unit e fez seu nome com “From Moscow to Pietushki” em 1990. Pawlikowski é vencedor de diversos prémios incluindo um Oscar de melhor filme estrangeiro por “Ida”, o premio de critica no Festival de Cinema de Londres, e um premio BAFTA por “My Summer of Love”.

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Andrzej Jakimowski, estreiou nos cinema com “Squint Your Eyes” em 2003, filme que ele dedicou a sua filha,  com quem disse que aprendeu sobre o conceito de tempo, “Imagine” de 2012 foi dedicado a sua esposa, Jakimowski queria lembra-la que a proximidade está em descobrir e compreender o mundo juntos, é desta forma que Jakimowski cria seu cinema extremamente pessoal e particular. O que permeia Jakimowski é a sua visão de mundo totalmente diferente de seus antecessores cineastas poloneses, com cada novo filme ele constroi mundos cinematográficos compostos de memórias, dramas humanos e seus personagens são sempre carregados de muita intuição e sentimentos.

Jan Jakub Kolski 19

Jan Jakub Kolski, Kolski deu os primeiros passos na indústria cinematográfica quando jovem, quando trabalhava no State Film Studio em Wroclaw. Mais tarde trabalhou como assistente de câmara na secção regional da Televisão Estatal polaca em Breslávia e finalmente foi para a Escola de Cinema de Łódź. Lá, ele primeiro estudou cinematografia e depois dirigiu, antes de se formar em 1985. Ele fez inúmeros curtas, documentários e filmes educativos.

Como diretor de filmes de autores, Jan Jakub Kolski cria mundos mágicos e surrealistas que ele chama de Jañcioland (Janland) – um nome que deriva de um dos protagonistas de Kolski e também faz referência ao próprio nome do diretor. Ele adaptou romances de Witold Gombrowicz “Pornography” em 2003, um dos maiores escritores dentre gigantes da literatura polonesa, contou histórias de contos de fadas “Johnnie Aquarius” em 1993, “The History of Cinema in Popielawy” em 1998 e filmou dramas psicológicos de guerra “Keep Away from the Window” em 2000.

Małgośka Szumowska 20

As mulheres também marcam presença nessa nova era do cinema polonês Małgośka Szumowska, na ultima década emergiu como um dos diretores contemporâneos mais interessantes. Explorando temas que são inerentes das mulheres, ela trouxe sua historia materna sobre a maternidade, um drama que é sofrido por muitas mulheres e que Małgośka  soube imprimir com sensibilidade nas telas sem deixar de lado a sua critica a respeito dos papeis prescritos que a sociedade tenta nos enquadrar.

O filme que demonstrou seu grande potencial foi “33 scenes from Life” em 2008, o filme é uma historia autobiográfica sobre um jovem artista lutando contra a morte dos pais. Małgośka iria surpreender ainda mais a historia do cinema polonês a partir de 2011 com seu filme “Elles” de 2011 que contou com a renomada atriz Juliette Binoche como Anne e  “In the name of…” de 2013 onde ela toca em temas tabus sociais falando sobre prostituição de estudantes e a vida erotica dos clérigos.

Curiosidades

Para quem se interessou e quer saber ainda mais sobre o cinema Polonês, Martin Scorsese apresenta “Masterpieces of Polish Cinema” uma lista de 21 filmes selecionados pelo próprio Scorsese que é um grande entusiasta do cinema Polonês.

https://www.youtube.com/watch?v=Za9NuYSV9Ug

E para voce que chegou ate aqui no final deste longo artigo uma recompensa, um compilado dos melhores filmes poloneses da nova geração de cineastas.

  1. Hi, TessaRobert Gliński – 2001
  2. Day of the Wacko – Marek Koterski – 2002
  3. The Cathedral – Tomasz Bagiński – 2002
  4. Symmetry – Konrad Niewolski – 2003
  5. The Collector – Feliks Falk – 2005
  6. Time to Die – Dorota Kędzierzawska – 2007
  7. Four Nights with Anna – Jerzy Skolimowski – 2008
  8. Reverse – Borys Lankosz – 2009
  9. In Darkness  Agnieszka Holland – 2011
  10. The Mill and The Cross – Lech Majewski – 2011
  11. Ida – Paweł Pawlikowski – 2013
  12. Papusza  Krzysztof Krauze, Joanna Kos-Krauze – 2013
  13. Hardkor Disko – Krzysztof Skonieczny – 2014
  14. Gods – Łukasz Palkowski – 2014
  15. Body – Dan Berk, Robert Olsen – 2015

Referências:
Lodz Film School – https://www.filmschool.lodz.pl/en/
Instituto de Cinema Polones – http://en.pisf.pl
Polish National Film Archive – www.fn.org.pl/
Culture Poland – https://culture.pl/en
Livro: Polish Cinema Now! – goo.gl/Snz8rQ