Vencedor do Grande Prémio no Festival de Cannes 2023 e concorrente em cinco categorias dos Óscares, o filme “A Zona de Interesse”, do realizador Jonathan Glazer, vem conquistando público e crítica.
Para além desses dois polos, o lendário Steven Spielberg, realizador de dezenas de sucessos, entre eles o aclamado “A Lista de Schindler”, afirmou recentemente a Scott Feinberg, do The Hollywood Reporter, que “A Zona de Interesse” é o melhor filme sobre o Holocausto que ele assistiu desde o seu próprio.
Para Spielberg, o filme está fazendo um excelente trabalho de conscientização, especialmente sobre a banalidade do mal.
Sobre sua obra, ele observou:
“É o melhor filme que já fiz. Não digo que seja o melhor filme que farei, mas, no momento, é o trabalho do qual mais me orgulho.”
O que é lúcido de sua parte reconhecer, já que se trata do filme sobre o Holocausto de maior sucesso já feito, tendo conquistado sete Óscares em sua 66ª edição.
Spielberg
Durante a entrevista, Spielberg, cuja família judia teve perdas no Holocausto e enfrentou intenso anti-semitismo em sua juventude, manifestou sua inquietação em relação ao ressurgimento do anti-semitismo nos tempos atuais.
Ele disse:
“Desde 2016, o anti-semitismo se uniu ao racismo, à xenofobia, à homofobia e a todas estas doenças e aflições culturais que combinam no ar ao nível dos olhos. Acho que veio para ficar – e acho que é bom que tenha vindo para ficar. Todo mundo quer que isso desapareça porque é desconfortável lidar com isso. Precisa ser desconfortável, porque a única maneira de encontrarmos uma solução para a forma como as pessoas tratam os judeus é fazer com que isso sempre faça parte da conversa”.
A Lista de Schindler
Lançado há 25 anos, o filme de Spielberg, narra a história real de Oskar Schindler, um empresário alemão que salvou a vida de mais de mil judeus durante o Holocausto.
Inicialmente, Schindler viu na mão de obra judia uma solução barata e viável para lucrar com seus negócios durante a guerra. Com sua forte influência dentro do Partido Nazista, ele conseguiu as autorizações necessárias para abrir uma fábrica.
No entanto, o que poderia parecer uma atitude oportunista se transformou em um dos maiores atos de heroísmo da história. Schindler testemunhou as atrocidades cometidas contra os judeus e, movido pela compaixão, decidiu usar sua fortuna e influência para salvá-los.
Ele subornou oficiais nazistas, falsificou documentos e arriscou sua própria vida para proteger os judeus que trabalhavam em sua fábrica. Schindler sacrificou tudo o que tinha para dar a essas pessoas a chance de sobreviver.
A Zona de Interesse
Em Auschwitz, a área conhecida como Zona de Interesse, ou ‘interessengebiet’ em alemão, designava o local onde os judeus recém-chegados eram submetidos à triagem no campo de concentração.
Essa triagem determinava se seriam enviados para o trabalho forçado ou se seriam imediatamente encaminhados para as câmaras de gás.
A visão do algoz
Ao invés de focar nas vítimas, o filme acompanha a vida de um oficial nazista e sua família que vivem em uma confortável casa ao lado do campo de concentração de Auschwitz. Através da perspectiva do oficial, testemunhamos a normalização do horror, a desumanização das vítimas e a indiferença da população alemã.
“A Zona de Interesse” não é um filme fácil de assistir. É um retrato brutal e honesto da banalidade do mal que nos força a confrontar a nossa própria complacência.
O filme nos leva a questionar como algo tão horrível como o Holocausto pôde acontecer e o que podemos fazer para evitar que algo semelhante se repita.