“Alfama em Si”: o musical de fado convertido a prémio duma batalha judicial

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Uma ópera intrinsecamente lisboeta, um filme inteiramente bairrista que consolida a extinção gradual desse espírito em nome do progresso. “Alfama em Si” tinha tudo ao seu alcance para se tornar numa obra singular do nosso panorama, que resumidamente seria um musical à base do fado.

Diogo Varela Silva (“Zé Pedro Rock’n’Roll” [ler crítica]) produz e realiza (como também assina o argumento ao lado de Luís Marques Cruz) este conjunto de seis histórias, todas povoadas no tradicional bairro da capital – Alfama – que defronta os mais ávidos inimigos do seu modo de vida, desde o turismo em massa até à invasão da EMEL. O projeto conta com direção artística do cantautor José Mário Branco (1942 – 2019), contando com as participações de Celeste Rodrigues (avó do realizador e irmã mais nova de Amália Rodrigues) Camané, Ana Moura Katia Guerreiro e Rão Kyao, que depositam a alma musical ao lado de atores como José Raposo, Márcia Breta, Isac Graça, Pedro Caeiro e São José da Lapa.

Contudo, o projeto encontra-se atualmente num “processo litigioso”, envolvido numa disputa judicial e no qual aguarda-se fim. Para Diogo Varela Silva, esta espera é penosa visto que alguns dos envolvidos, como a sua avó, Celeste Rodrigues (1923 – 2018), João Mário Branco ou José Mário Barreto não terão a oportunidade de verem o filme em sala, visto já não pertencerem a este mundo. De momento, não existem quaisquer sinais de arranque: “esse projeto já está parado há algum tempo, em consequência de uma ‘trafulhice tal’ da produtora (Blackmaria) em questões de pagamento. Por isso, nem sei como isso arrancará (…) Os tribunais já estão metidos nisto. É só aguardar”, declarou ao Cinema Sétima Arte.

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Gerardo Santos / Global Imagens

Tudo começou em finais de 2017, no calor da digressão mundial de “O Ornitólogo”, de João Pedro Rodrigues, filme da sua alçada produtiva e da produtora Blackmaria, quando as notícias romperam os espaços dos jornais. Diogo Varela Silva recusou terminar o filme, justificando que nem ele, nem os atores e equipa técnica têm sido pagos pelo seu trabalho e esforço, desconhecendo a razão pelo sucedido.

Do outro lado, o coprodutor João Figueiras, defendeu-se à LUSA (em dezembro de 2017), que Diogo Varela Silva é o único responsável pela situação, fazendo os possíveis para “atrasar ou evitar” o seu lançamento, enquanto a exibidora e distribuidora NOS “adiou a estreia”, tendo percebido “que estas questões levantadas pelo Diogo (Varela Silva) estavam a criar problemas”. Apesar da sua situação, “Alfama em Si” teve estreia marcada para o ano seguinte (2018), o que acabou por não acontecer. Segundo o produtor, a obra está concluída, estando somente a faltar o genérico.

Na altura, o ICA revelou ter “conhecimento da existência de uma situação de litígio entre o produtor e o realizador da obra ‘Alfama em Si’. Por esse motivo, promoveu reuniões entre os intervenientes, com os respetivos mandatários, na procura de um entendimento entre ambos que venha a permitir a boa conclusão da obra”.

Recordamos que o mais recente trabalho de Diogo Varela Silva, “Zé Pedro Rock’n’Roll”, um documentário biográfico e intimista do acarinhado guitarrista de “Xutos e Pontapés”, encontra-se em exibição desde o dia 30 de julho. Segundo os dados do ICA, o filme já foi visto por mais de 1100 espectadores desde a sua estreia.

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