A Berlinale revelou os 20 títulos selecionados para a sua Competição Oficial de 2024, apresentando uma promissora seleção de filmes neste que é o último programa organizado pelo diretor artístico Carlo Chatrian. Um curioso e surpreendente mix de nomes desconhecidos e vacas sagradas competem pelo cobiçado Urso de Ouro, que será entregue pelo júri liderado pela atriz Lupita Nyong’o, a primeira presidente do júri negra na história do festival.
Dos 20 títulos apresentados na manhã de ontem, 2 são primeiras obras e 19 são estreias mundiais. A impressão inicial é de uma seleção que, embora típica de Berlim, ainda conseguiu impressionar com vários títulos que se especulava irem parar em Cannes ou Veneza.
O filme de abertura, “Small Things Like These” realizado por Tim Mielants e protagonizado por Cillian Murphy e Emily Watson foi anunciado alguns dias atrás e também compete pelo urso. Segundo Chatrian relatou à revista Variety na manhã de segunda-feira, a produção foi assegurada com o apoio de Matt Damon, um dos produtores executivos do filme.
Entre os nomes de peso na competição, destacam-se “L’Empire” de Bruno Dumont e “Dahomey” de Mati Diop — dois dos filmes que se especulava iriam estrear em Cannes este ano, “Hors du Temps” do francês Olivier Assayas e “A Traveller’s Need” do prolífico Hong Sang-Soo, com Isabelle Huppert no elenco. O sul-coreano é talvez o realizador com presença mais assídua na competição de Berlim. A seleção também assinala o tão aguardado regresso de Abderrahmane Sissako com “Black Tea”, após o seu muito elogiado “Timbuktu”, ter competido em Cannes e depois ter sido nomeado para um óscar de melhor filme internacional em 2015.
Outro título de destaque na competição este ano é “My Favourite Cake”, dos realizadores iranianos Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha. Ambos enfrentam restrições de viagem impostas pelas autoridades iranianas e estão a ser julgados neste momento pelas gravações, ilegais segundo as autoridades iranianas, deste mesmo filme. No último mês de dezembro, os meios de comunicação locais relataram que as forças de segurança iranianas haviam realizado uma operação na casa do editor do filme, apreendendo material relacionado à sua produção. A última colaboração de Moghaddam e Sanaeeha, “Ballad of a White Cow”, estreou em competição em Berlim em 2021.
Outros títulos aguardados figuram em secções não competitivas do festival, com destaque para o novo filme de Kristen Stewart, que presidiu o júri de Berlim no ano passado, e que regressa com o thriller queer “Love Lies Bleeding”, realizado por Rose Glass. O filme centra-se numa funcionária reclusa de um ginásio que se apaixona intensamente por uma fisiculturista bissexual. O filme estreou em Sundance esta semana, recebendo críticas entusiasmadas da crítica e do público.
As presenças portuguesas e brasileiras
A Encounters, segunda secção competitiva introduzida por Chatrian em 2020, revelou-se um dos grandes destaques do festival, de onde saiu as melhores coisas vistas o ano passado em Berlim. Como por exemplo, “Samsara” do galego Lois Patiño, “Orlando, Minha Biografia Política” de Paul B. Preciado, e a segunda parte do díptico de João Canijo “Mal Viver/Viver Mal”, eleito pela equipa do Cinema Sétima Arte como um dos melhores filmes de 2023.
A seleção deste ano é composta por 15 filmes. Dentre eles, “Mãos no Fogo”, o novo filme da realizadora Margarida Gil, que é a única entrada portuguesa numa secção competitiva dessa edição da Berlinale. Junta-se a ela a realizadora brasileira Juliana Rojas, que co-realizou com Marco Dutra “As Boas Maneiras”, prémio especial do júri em Locarno em 2017, e que trará a Berlim o novo “Cidade; Campo”, uma co-produção com a Alemanha e a França.
“Dormir de Olhos Abertos”, outra co-produção entre Brasil, Argentina, Taiwan e Alemanha, realizado por Nele Wohlatz, completa a dupla de filmes falados em português da Encounters.
Outros filmes brasileiros, espalhados pelas diversas seções paralelas no festival incluem “Betânia”, de Marcelo Botta (Panorama), “Quebrante”, de Janaína Wagner (Forum Expanded) e a curta-metragem “Lapso”, de Carolina Cavalcanti (Generation). A 74.ª edição do Festival de Cinema de Berlim decorre de 15 a 25 de fevereiro.
Competição
Small Things Like These de Tim Mielants – filme de abertura
Another End de Piero Messina
Architecton de Victor Kossakovsky
Black Tea de Abderrahmane Sissako
La Cocina de Alonso Ruizpalacios
Dahomey de Mati Diop
A Different Man de Aaron Schimberg
L’Empire de Bruno Dumont
Gloria de Margherita Vicario
Hors du temps de Olivier Assayas
In Liebe, Eure Hilde (From Hile, With Love) de Andreas Dresen
Keyke Mahboobe Man (My Favourite Cake) de Behtash Sanaheeha & Maryam Moghaddam
Langue Étrangère de Claire Burger
Mé el Aïn (Who Do I Belong To), Meryam Joobeur
Pepe de Nelson Carlos De Los Santos Arias
Shambhala de Min Bahadur Bham
Sterben de Matthias Glasner
Des Teufels Bad (The Devil’s Bath) de Severin Fiala & Veronika Franz
Vogter (Sons) de Gustav Möller
Yeohaengjaui Pilyo (A Traveler’s Needs) de Hong Sangsoo
Encounters:
Arcadia, Yorgos Zois
Cidade; Campo, Juliana Rojas
Demba, Mamadou Dia
Direct Action, Guillaume Cailleau & Ben Russell
Dormir de Olhos Abertos (Slept With Your Eyes Open), Nele Wohlatz
The Fable, Raam Reddy
Une Famille, Christine Angot
Favoriten, Ruth Beckermann
Ivo, Eva Trobisch
Khamyazeye Bozorg (The Great Yawn), Aliyar Rasti
Kong Fang Jian li de nu ren (Some Rain Must Fall), Qiu Yang
Mãos no Fogo, Margarida Gil
Matt and Mara, Kazik Radwanski
Through the Graves the Wind is Blowing, Travis Wilkerson
Tu Me Abrasas, Matias Pineiro