25 de Abril

Berlinale faz história ao nomear primeira mulher como diretora artística: Tricia Tuttle

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O festival alemão fez história, entre os três maiores festivais do mundo, carinhosamente apelidado de “Big 3”, composto por Cannes, Veneza e Berlim, ao apontar a norte-americana Tricia Tuttle como a sucessora do italiano Carlo Chatrian, depois de uma campanha turbulenta cheia de controvérsias e humilhação pública.

Tricia Tuttle foi nomeada como a nova diretora do Festival Internacional de Cinema de Berlim. O anúncio oficial foi feito esta terça-feira, 12 de dezembro, numa conferência de imprensa presidida por Claudia Roth, ministra da cultura da Alemanha.

Antes deste cargo, Tuttle liderou o BFI, o Festival de Cinema de Londres durante cinco edições até 2022 e atualmente desempenha o papel de chefe do departamento de ficção na Escola Nacional de Cinema e TV do Reino Unido. Ela é a primeira mulher a dirigir um dos festivais de cinema mais importantes do mundo. Num artigo recente, a revista Variety incluiu Tuttle numa lista das 500 pessoas mais influentes na indústria global de mídia.

A norte-americana foi recomendada por um comitê de seleção composto pelo vencedor do Oscar, Edward Berger (realizador de “All Quiet on the Western Front”), pela atriz Sara Fazilat, pela diretora-geral da Academia Alemã de Cinema, Anne Leppin, pelo produtor Roman Paul, assim como por Florian Graf, chefe da chancelaria do ministério da cultura de Berlim, e pela própria ministra Claudia Roth.

O comunicado enviado à imprensa, após o anúncio na conferência, destaca que um dos feitos de Tuttle foi ter expandido o alcance do BFI London Film Festival em mais de 50% nos últimos anos. Isso foi conseguido através da introdução de exibições por todo o Reino Unido, aumentando o acesso digital aos eventos e estabelecendo o programa “LFF For Free”, que ofereceu exibições e eventos gratuitos.

Uma saída controversa para Chatrian

Tuttle substitui a atual dupla de diretores, composta por Carlo Chatrian e a diretora executiva Mariette Rissenbeek, que deixam o cargo após a edição de 2024. Eles estavam à frente do festival desde 2019.
Curiosamente, o nome de Tuttle nunca surgiu nas
bolsas de apostas e rumores que dominaram as conversas no Twitter e na indústria cinematográfica alemã nas últimas semanas. Todos esperavam que o novo diretor, ou diretora, fosse de cidadania alemã, ou de um país de língua alemã, especialmente porque uma das críticas dirigidas ao atual diretor era que a sua falta de domínio da língua poderia dificultar a realização de acordos com a indústria local.

Chatrian deixa o festival não propriamente pela porta dos fundos, mas com as relações estremecidas, após um episódio de humilhação pública que o impediu de continuar com a sua função de diretor artístico.
No início de Setembro, a imprensa alemã noticiava a decisão da ministra Roth de desmantelar a dupla gestão do festival, devido a restrições orçamentais e, segundo rumores, às escolhas artísticas de Chatrian, que dificultava a Berlinale de se firmar como um dos “3 grandes” festivais de cinema do mundo. O italiano foi acusado de ter uma visão artística demasiado experimental, e de nicho, para um festival do porte da Berlinale. Uma mesma crítica que foi várias vezes atribuída ao seu antecessor, Dieter Kosslick, que dirigiu o festival por quase 20 anos.

Sendo assim, ficou no ar a desconfortável impressão de que Roth considerava o italiano inadequado para assumir o cargo sozinho a partir de 2025.  Uma oferta para relocar Chatrian para uma nova função dentro do festival até foi lhe oferecida, mas aí já era tarde demais e o italiano respondeu apresentando a sua demissão num comunicado que dizia que “as condições para continuar como diretor artístico do festival já não existem mais”.

A forma como a saída de Chatrian foi orquestrada por Roth provocou uma violenta reação em cadeia em alguns setores da indústria cinematográfica, com mais de 400 profissionais do cinema, incluindo Martin Scorsese, assinando uma carta aberta protestando contra o comportamento “não profissional e imoral” da ministra.

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História trágica com final feliz?

No entanto, a escolha de Tuttle parece ter apaziguado os ânimos e foi vista por muitos como uma saída inteligente, e positiva, para uma crise na Berlinale que parecia estagnada num beco sem saída.
Em seu discurso na coletiva de imprensa, a ministra falou com entusiasmo sobre a sua escolha final: “Tricia Tuttle traz consigo 25 anos de experiência em cinema e festivais de cinema. Sob a sua liderança, o BFI London Film Festival não só registou um aumento no número de audiências, como também ganhou um perfil e significado internacional. Ela convenceu-nos com as suas ideias claras sobre as suas perspectivas artísticas para a Berlinale, uma gestão que deve ser moderna, com apoio sustentável a jovens talentos e modelos de patrocínio contemporâneos. Estou extremamente satisfeita por termos conseguido conquistar Tricia Tuttle para a direção da Berlinale. Ela é a escolha certa para liderar um futuro de sucesso”.

Tuttle assumirá oficialmente a direção da Berlinale a 1 de abril de 2024.

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