25 de Abril

«Ghost of the Golden Groves» – Os fantasmas divertem-se no incógnito da existência

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Quão bom é essa liberdade?”

O habitante do remoto vilarejo questiona ao “estranho” que o aborda. Pelas trajes, higiene e a sua constante expressão de repúdio e reprova para com os demais daquele meio rural, denuncia as suas origens de um meio oposto, o da Cidade. Não poderia estar mais certo, aqui Promotho (Joyrak Bhattacharjee), o que será o protagonista da primeira das duas histórias, aparentemente distantes de “Ghost of the Golden Groves”, tinha chegado há um dia de Calcutá, aventurando-se pela selva de Bengala, tentado decifrar o mistério que o atormentava desde a sua estadia.

Eram as estranhas luzes, misteriosas entidades cintilantes que o incomodava. Tal como o próprio insinua, de tons esverdeados, um esforço que o espectador terá que fazer perante a fotografia monocromática e o constante negacionismos dos que povoam aquelas terras. Ao encontro desse fenómeno inexplicável, Promotho embate numa aldeia intocável pelo tempo, com as constantes citações dos mestres da nova vaga japonesa dos anos 60 – “Seijun Suzuki, Kaneto Shindo, Teshigahara” – ou pela indiferença com que estes “espectros” encaram a sua visita e o seu modo vivente. A partir daqui, o mistério adensa ainda mais, com os espíritos polimorfos, assim como são descritos, a o convidar para os seus incómodos rituais.

Objeto concretizada a quatro mãos por Aniket Dutta e Roshni Sen, “Ghost of the Golden Groves” é no seu instante um exercício de exotismo e de um misticismo ancestral que coloca-nos à prova, enquanto espectador ocidental, das suas próprias idiossincrasias, sem com isto abdicar do seu quê de estranheza.

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Sim, esta é uma história de fantasmas e espíritos arcaicos prometidos a assombrar “forasteiros” ao som de um tecno dance que contrasta com certos elos de slow-cinema, porém, nada são mais do que meras aparências. Se é bem verdade que diante da sua natureza eclética, o seu surrealismo pacato que o calcifica como um ensaio experimental de puro júbilo estético e sonoro, encontramo-nos uma prova de um ascendente nicho de cinema indiano (já ano passado [2019], o Festival Slamdance recebeu um dos mais interessantes deste conjunto – “Cat Sticks”, de Ronny Sen), autoral que desbrava por esses “novos mundos” [os festivais de cinema] para enriquecer a visão antibollywood (ou das grandes indústrias que comumente chegam a nós).

Tudo parte da sua estranheza, e com essa, o nosso convite de embarque para um filme diversificado de paladares e de referências obtusas e de simbolismos refugiados da sua exposição. Não é crime nenhum desconhecer, como os aldeões que não saborearam, de forma alguma, a liberdade vendida pelos o de fora. Aqui, presos às suas superstições e às vidas predestinadas, passo a passo, conhecendo apenas o abstrato o qual outros denominam de existência. E um pouco de abstrato nunca nos fez mal!

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3.5
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