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“Mickey 17”: O retrato (pouco subtil) do sistema

“Mickey 17” é o novo filme de ficção científica do coreano Bong Joon-ho, baseado no romance “Mickey7” de Edward Ashton. A história centra-se no “descartável” Mickey Barnes, interpretado por Robert Pattinson, que embarca numa missão ao planeta gelado Niflheim
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“Mickey 17” é o novo filme de ficção científica do coreano Bong Joon Ho, baseado no romance “Mickey7” de Edward Ashton. A história centra-se no “descartável” Mickey Barnes, interpretado por Robert Pattinson, que embarca numa missão ao planeta gelado Niflheim, onde é constantemente sujeitado a condições desumanas, que levam muitas vezes à sua morte, sendo depois novamente clonado, mantendo as suas memórias da vida anterior. Após 16 mortes, Mickey começa a questionar a sua existência até descobrir uma nova versão de si mesmo que não morreu.

O mais recente filme de Bong Joon Ho apresenta algumas qualidades que merecem destaque. Em primeiro lugar, a liberdade criativa que parece ter sido concedida pela Warner Bros. ao realizador permitiu-lhe construir um blockbuster digno e ambicioso, no qual expõe, de forma incisiva, diversas problemáticas do sistema contemporâneo. Esta abordagem é reforçada pelas interpretações excêntricas e caricaturadas de personagens que facilmente evocam figuras do mundo político atual. Do elenco, e sem surpresas, é Robert Pattinson quem mais se destaca, assumindo não um, mas dois papéis de grande complexidade e, ao longo das duas horas de duração da obra, o ator flutua, com muita mestria, entre diferentes registos, tirando pleno partido da multiplicidade inerente à sua personagem. Mark Ruffalo e Toni Collette, por sua vez, também oferecem desempenhos memoráveis, elevando ainda mais a qualidade do filme.

No entanto, apesar de garantir um elevado nível de entretenimento, a obra falha em aprofundar os temas a que se propõe explorar e, quando comparado à filmografia anterior do realizador, este projeto fica aquém em termos de densidade temática e algumas sequências caem facilmente no esquecimento pela fórmula simplista escolhida na abordagem. Desta forma, embora Bong Joon Ho posicione a narrativa entre as propostas mais ousadas do cinema comercial, o argumento não desenvolve, com a mesma eficácia, as temáticas do capitalismo, a relação entre a vida pessoal e a carreira profissional, e o poder daqueles que governam e moldam o nosso futuro.

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Tal como aconteceu com “Okja”, o filme que Bong Joon Ho realizou para a Netflix, também “Mickey 17” se inscreve num registo que paira no campo do patético, apostando fortemente em dinâmicas entre caricaturas com o objetivo de construir uma sátira social. Seria sempre uma tarefa difícil para o realizador atingir o patamar de “Parasitas”, que acabou por sair vencedor do Óscar de Melhor Filme nos prémios da Academia de Hollywood, mas também sabemos que não é para isso que ele trabalha.

O filme estreia dia 6 de Março nas salas de cinema portuguesas.

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“Mickey 17”: O retrato (pouco subtil) do sistema
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