«Mulherzinhas» – Greta Gerwig cria o filme que Louisa May Alcott gostava de ter visto

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Mais uma versão cinematográfica do livro “Mulherzinhas”, da escritora norte-americana Louisa May Alcott (1832-1888), chega aos cinemas nesta quinta-feira (30). Desta vez, a história ganha o brilhante e inteligente olhar da realizadora e argumentista Greta Gerwig (nomeada aos Óscares por “Lady Bird”).

Cada adaptação captou algo do livro para a época específica em que foi feita. Entre as mais famosas: “As Quatro Irmãs” (1933), de George Cukor, surgiu depois da Grande Depressão, mostrando uma relação difícil das irmãs March com dinheiro; “Mulherzinhas” (1949), de Mervyn LeRoy, destaca o tema do serviço militar por causa da 2ª Guerra Mundial; já “Mulherzinhas” (1994), da realizadora Gillian Armstrong, é o que mais se aproxima – mesmo que pouco – da versão de Gerwig, ao focar no lado criativo e intelectual de Jo March como escritora.

No “Mulherzinhas” de Gerwig, a trama já começa com Jo (Saoirse Ronan) a trabalhar em Nova Iorque, e vai desenvolvendo-se com flashbacks de sua adolescência ao lado das irmãs Meg (Emma Watson), Amy (Florence Pugh) e Beth (Eliza Scanlen) na casa de sua mãe Marmee (Laura Dern) no Massachusetts, EUA, em plena Guerra Civil Americana. Ao contrário das outras versões, neste filme o espectador fica a conhecer ao mesmo tempo as personagens adultas e as características que elas carregam da infância. Por exemplo, Meg, a irmã mais tradicional, aparece a contar moedas para comprar um vestido em vez de um casaco para o marido antes de a vermos como uma rapariga ansiosa para fazer parte da alta sociedade.

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Tudo acontece mais naturalmente e é mais verossímil aqui do que nos outros filmes. Como raparigas normais deveriam ser, as March falam todas ao mesmo tempo, são hiperativas, cada uma com seu interesse (o teatro, a escrita, a música, a pintura) e com sua personalidade (uma mais tímida, outra mais vaidosa, ou mais independente). E como irmãs normais, elas desentendem-se, brigam aos tapas e reconciliam-se. Essa dinâmica chama a atenção do vizinho rico Laurie (Timothée Chalamet), que logo se torna íntimo da família March.

Todos os actores estão perfeitos em seus papéis. Meryl Streep arranca muitos risos como a Tia March, mas quem se destaca com certeza é Florence Pugh. Amy ganha uma cena em que faz um discurso fortíssimo sobre como o casamento é sim uma questão económica (ainda mais no século 19) e sobre como assumir que se casará com um homem rico não é futilidade, mas uma estratégia.

Outro aspecto maravilhoso do filme é como Gerwig faz uma homenagem a Louisa May Alcott, adicionando detalhes biográficos, como o facto de Jo ser ambidestra como Louisa; Jo negociar os direitos autorais de seu livro como Louisa; e Jo alterar o desfecho da obra como Louisa o fez para vendê-lo (“a mulher tem que ou casar ou morrer no final”, diz seu editor). Por isso tudo, “Mulherzinhas” de Gerwig é o filme que provavelmente Louisa May Alcott gostava de ter visto por ser o que mais leva a sério e respeita as mulheres e suas ambições.

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