Estreou sob um manto de polémica no Festival de Cannes 2017, dividiu a crítica, mas foi aplaudido de pé pelo público. “Okja” de Bong Joon-ho (“Mother – Uma Força Única” (2009) e “Expresso do Amanhã“ (2013)), foi o primeiro filme da Netflix exibido em Cannes. Foi descrito como “divertido e inesperado; que é um filme maravilhoso e compararam-no ao filme E.T.”. “Okja” desilude. Não passa de produto para o grande público, um filme familiar que força o espectador com personagens caricaturadas. Esta grande produção da Netflix cumpre os requisitos da empresa, e certamente vai agradar a maioria dos seus clientes.
“Okja” é uma fábula ecológica que acompanha Mija, uma jovem camponesa que vive nas montanhas da Coreia do Sul que cuida do seu melhor amigo, Okja, um porco mutante, que é sequestrado por uma multinacional maléfica. Um grupo de ativistas junta-se a Mija para tentar resgatar Okja e denunciar a empresa.
A mensagem é forte e assume-se contra o capitalismo em ação, contra o consumo excessivo de carne, assim como os hediondos processos de fabrico de carne em massa, mostrando a importância do meio ambiente e dos animais. Com um orçamento muito mais avultado “Okja” não consegue aquilo que filmes como “Cowspiracy” (2014) e “Earthlings” (2005) atingem sem gastar muito. O problema e as ideias para chegar a uma solução estão lá. Estes conseguem mostrar como funcionam as quintas, fábricas e matadouros e mostrar o quanto a humanidade é dependente dos animais, assim como muitas industrias dependem dos animais para lucrar. Até os filmes de Miyazaki conseguem criar uma pegada ambiental com mais impacto e serem mais sérios que “Okja”.
O filme começa com um ambiente pacifico e terno para fazer com que o público se deixe hipnotizar pela relação amorosa entre a rapariga Mija e Okja. Os dois criam um forte laço de amizade e é isso que o realizador quer que o público compreenda, para que nos ‘obrigue’ a ver Okja como uma criatura amigável e amorosa. Joga com as emoções do espectador e depois de estarmos emocionalmente próximos destes dois protagonistas o filme ganha um ritmo acelerado e frenético culminando com um terceiro ato de horror e violência.
O final não nos leva a lado nenhum. Não nos dá ferramentas suficientes para encontrarmos uma solução. Não dá resposta e esforça-se o mínimo para as encontrar, preocupando-se mais em levar as personagens (como por exemplo os ativistas) a cairem na caricatura e no exagero. Tilda Swinton e Jake Gyllenhaal destacam-se nesta paleta de caricaturas e banalidades.
Consegue ser divertido e entretem, como pretende a Netflix. As imagens são vibrantes e os primeiros minutos levam a crer que estamos perante uma visão e uma aposta diferente da Netflix e de Bong, mas rapidamente percebemos que fomos enganados tal como Mija.
Bong Joon-ho sai-se bem na realização ao denunciar a industria das carnes e a ganância corporativa, mas falta força nas palavras, falta muito mais, falta uma visão mais crua de um tema tão sério como este. Uma coisa é certa, a Netflix está, aos poucos, a revolucionar o meio de distribuição dos filmes.
Realização: Bong Joon-ho
Argumento: Bong Joon-ho, Jon Ronson
Elenco: Tilda Swinton, Paul Dano, Seo-Hyun Ahn, Jake Gyllenhaal, Giancarlo Esposito
EUA/Coreia do Sul/2017 – Drama
Sinopse: Uma jovem arrisca tudo para impedir que uma gigantesca e poderosa multinacional rapte o seu melhor amigo – um enorme monstro chamado Okja.