A 8.ª edição do Porto Femme International Film Festival chegou ao fim, deixando no ar a certeza de que o cinema continua a ser um poderoso instrumento de visibilidade, inclusão e justiça social. Durante sete dias, o festival apresentou uma programação plural e vibrante, onde se cruzaram vozes, olhares e estéticas de diferentes geografias — todas com algo a dizer sobre o mundo em que vivemos.
Para além dos habituais prémios nas competições, esta edição prestou também homenagens e atribuiu distinções especiais, reforçando o seu papel enquanto espaço de celebração do cinema feito por mulheres e por pessoas de género não-binário.
No panorama português, a Competição Nacional consagrou “Natureza Humana” (2023), de Mónica Lima, como a melhor curta-metragem, com “Conseguimos Fazer um Filme” (2024), de Tota Alves, a receber uma menção especial. Em animação, venceu “Amanhã Não Dão Chuva” (2024), de Maria Trigo Teixeira, e, no documentário, foi premiado “A Mulher Que Morreu em Pé” (2024), de Rosa Coutinho Cabral. Na secção experimental, o júri distinguiu “Nocturno para uma Floresta” (2024), da realizadora Catarina Vasconcelos.
Já na Competição Internacional, o destaque entre as longas-metragens foi “Árni” (2023), da húngara Dorka Vermes, que conquistou o prémio de Melhor Filme. Já entre as curtas, o troféu ficou com “Berta” (2024), da espanhola Lucía Forner Segarra, enquanto a menção especial foi para “Washhh” (2024), da malaia Mickey Lai, numa coprodução com a Irlanda. O melhor documentário internacional foi “Please Step Aside!” (2024), de Raha Faridi, uma produção entre a Alemanha e o Irão; e a animação premiada foi “La Perra” (2023), assinada por Carla Melo Gampert, numa coprodução entre a Colômbia e a França. No campo do cinema experimental, venceu “The Root” (2024), da espanhola Isabel Sáez Pérez.
Prémios especiais
Entre os prémios especiais, o prémio “Lutas e Direitos das Mulheres” foi atribuído ao filme argentino “Me gusta cuando hablas” (2023), realizado por Silvina Estévez e Marlene Grinberg. O júri decidiu ainda destacar duas obras com menções honrosas: “Bulletproof: A Lesbian Guide to Surviving the Plot” (2024), de Regan Latimer, e “What If Women Ruled the World ?” (2023), de Giulia Magno.
O prémio “Sororidade” homenageou o trabalho da associação cultural Clube Safo, fundada em 1996 e dinamizada por um coletivo de mulheres lésbicas. A distinção reconhece o notável percurso da associação, o seu ativismo consistente e o compromisso permanente com a justiça social.
Já o prémio “A Voz das Mulheres”, atribuído em parceria com as Mira Galerias, distinguiu o documentário “Tão Pequeninas, Tinham o Ar de Serem Já Crescidas” (2024), da realizadora Tânia Dinis. A obra parte de um arquivo fotográfico e de testemunhos orais para construir um retrato comovente da experiência de várias mulheres oriundas de Trás-os-Montes, Beira, Alto e Baixo Minho, que entre as décadas de 1940 e 1970 se deslocaram para o Porto para trabalhar como criadas de servir.
Rita Azevedo Gomes
A cineasta Rita Azevedo Gomes foi a grande homenageada da 8.ª edição do Porto Femme, numa celebração da sua visão artística singular e do relevante contributo que tem dado ao cinema contemporâneo.
Ao atribuir-lhe esta distinção, a organização do festival destacou “uma carreira vasta, marcada pela experimentação, pela riqueza estética e por uma profunda reflexão sobre o cinema enquanto expressão artística.”
Autora de obras emblemáticas como “Correspondências” (2016), “A Portuguesa” (2018) e “O Trio em Mi Bemol” (2022), Azevedo Gomes estreou-se na realização de longas-metragens em 1989 com “O Som da Terra a Tremer”. Dez anos depois, regressaria com “Frágil Como o Mundo”, filme aclamado no Festival de Veneza, tanto pelo público quanto pela crítica. Desde então, tem mantido uma produção regular, caracterizada por uma linguagem cinematográfica própria, sensível e ousada.
No âmbito da homenagem, foi exibido “Altar” (2003), a sua terceira longa-metragem, considerada uma das obras mais representativas do seu percurso. Inspirada num conto de Hermann Hesse, a narrativa evoca as memórias de um amor de juventude, cruzando elementos da literatura, do teatro e da pintura — marcas evidentes da assinatura estética e conceptual da realizadora.
Balanço da edição
A edição de 2025 contou com a presença de mais de 1.700 pessoas nas sessões de cinema e com a participação de cerca de 1.600 pessoas nas atividades paralelas. Estiveram presentes mais de 80 profissionais da indústria cinematográfica, oriundos de 13 países: Alemanha, Brasil, Canadá, Espanha, França, Grécia, Irão, Itália, Líbano, Palestina, Polónia, Portugal e Reino Unido.
Sob o tema central “(In)visibilidades”, o festival procurou dar espaço a vozes, narrativas e experiências que habitualmente permanecem nas margens. As curadorias especiais reforçaram essa missão, com destaque para a “Mostra de Cinema Lésbico”, com curadoria de Joana de Sousa, que apresentou uma seleção de filmes produzidos entre as décadas de 1970 e 2020.
A mostra destacou-se também pela diversidade geográfica, com obras oriundas de países como Alemanha, Áustria, Brasil, Canadá, Estados Unidos, Japão, Líbano, Portugal e Reino Unido.
Os prémios das sessões competitivas foram entregues nas cinco categorias principais: Internacional, Nacional, Estudantes, XX Element e Temática, além do Prémio do Festival. A lista completa de premiados pode ser consultada de seguida.
COMPETIÇÃO INTERNACIONAL
Longa-Metragem
Melhor Filme: Árni, de Dorka Vermes — Hungria, 2023
Curta-Metragem
Melhor Filme: Berta, de Lucía Forner Segarra — Espanha, 2024
Menção Especial: Washhh, de Mickey Lai — Malásia e Irlanda, 2024
Documentário
Melhor Filme: Please Step Aside!, de Raha Faridi — Alemanha e Irão, 2024
Animação
Melhor Filme: La Perra, de Carla Melo Gampert — Colômbia e França, 2023
Experimental
Melhor Filme: The Root, de Isabel Sáez Pérez — Espanha, 2024
COMPETIÇÃO NACIONAL
Curta-Metragem
Melhor Filme: Natureza Humana / Human Nature, de Mónica Lima — Portugal, 2023
Menção Especial: Conseguimos Fazer um Filme / We Made a Film, de Tota Alves — Portugal, 2024
Animação
Melhor Filme: Amanhã Não Dão Chuva / It Shouldn’t Rain Tomorrow, de Maria Trigo Teixeira — Portugal, 2024
Documentário
Melhor Filme: A Mulher Que Morreu em Pé / The Woman Who Died Standing, de Rosa Coutinho Cabral — Portugal, 2024
Experimental
Melhor Filme: Nocturno para uma Floresta / Nocturne for a Forest, de Catarina Vasconcelos — Portugal, 2024
COMPETIÇÃO ESTUDANTES
Curta-Metragem
Melhor Filme: Chiquita Piconera, de Mey Montero — Espanha, 2024
Documentário
Melhor Filme: Sunflower / Girassol, de Isa Cancela — Portugal, 2024
Menção Especial: À Poings et À Cœurs, de Augustine Caille — França, 2024
Animação
Melhor Filme: Memory of a Displaced Body / Memoria de un Cuerpo Desplazado, de Mariana Mendivil — México, 2024
Experimental
Melhor Filme: You Are the Truck and I Am the Deer, de Max Ferguson — Bélgica, 2023
XX ELEMENT
Melhor Filme: Seeds from Kivu / Semillas de Kivu, de Néstor López e Carlos Valle — Espanha, 2024
COMPETIÇÃO TEMÁTICA
Melhor Filme: Neirud, de Fernanda Faya — Brasil, 2023
Menção Especial: Mums / Mares, de Ariadna Seuba — Espanha, 2025
PRÉMIO DO FESTIVAL
Melhor Filme: Como Entender o Ser em Sete Etapas, de Venância Matos — Portugal, 2024