Em “Força Maior” (2014), o realizador sueco Ruben Ostlund, explorou a solidariedade e como em situações de grande dificuldade até os mais chegados podem ser egoístas. Na sua mais recente obra, “O Quadrado”, e premiada com a Palma de Ouro no Festival de Cannes 2017, torna a explorar a solidariedade e situações de comportamento humano, mas num nível mais exagerado. É uma forte crítica às elites liberais do mundo da arte contemporânea e aos pseudo-intelectuais.
A narrativa centra-se em Christian, um respeitado curador de um museu de arte contemporânea, que cria a exposição “O Quadrado”, um simples quadrado desenhado no chão, dentro do qual as pessoas deverão ser altruístas. Esta instalação pretende evocar valores humanos de solidariedade e de responsabilidade. No entanto, quando lhe roubam os documentos e o telemóvel, vê-se conduzido a enfrentar situações novas que acabam por o envergonhar.
Ao longo do filme vemos pequenas situações que nos levam a pensar o que é a arte, por mais cliché que essa questão possa parecer. No entanto, Ruben Ostlund lança-nos para este debate do que é ou não arte e o qual o papel dos museus na sociedade de uma forma criativa e provocadora. Ideias como, o vídeo promocional da exposição do quadrado, o continuo do museu que aspira as areias que estavam a servir de instalação, a festa noturna que é dada no museu, a entrevista que é interrompida por um homem que sofre de Síndrome de Tourette, ou o chocante jantar de angariação de fundos para o museu, são ideias geniais e inteligentes. É um filme que dialoga bastante com o espectador, mas que a certa altura se perde no seu raciocínio. Acaba por isolar muitas situações, recheadas de humor negro, que perdem a ligação do foco principal.
A ideia da exposição do quadrado é utópica “O Quadrado é um santuário de confiança e solidariedade. Dentro dele, todos partilhamos todos os direitos e obrigações.”. Nós vivemos fora desse quadrado, apesar de sonharmos em viver dentro dele. O realizador questiona o espectador como seria consigo se estivesse em todas estas situações que nos apresenta. Como é que nos comportaríamos naquela situação? Ele deixa o espectador incomodado, desconfortável até. Levanta questões como o preconceito, e o que é a arte, os limites da liberdade de expressão e o assédio sexual. Há uma crítica notória a uma parte da sociedade, que é falsa ao esconder-se por de trás de valores “politicamente correctos”. Christian representa essa elite. Defendem que a arte deve ter um papel altruísta, solidário e humano na sociedade, mas na prática não passa tudo de uma máscara que esconde o preconceito social e racial, achando-se superiores às outras classes. O comportamento presunçoso de Christian é oposto ao da ideia do quadrado. Aliás, todo o filme se passa fora do quadrado. Nunca chegamos a entrar dentro dele.
“O Quadrado” é uma sátira inteligente e criativa, mas não o suficiente para ser uma Palma de Ouro em Cannes.
Realização: Ruben Östlund
Argumento: Dorota Kobiela, Hugh Welchman
Elenco: Claes Bang, Elisabeth Moss e Dominic West
Suécia/Alemanha/França/Dinamarca – 2017
Comédia/Drama
Sinopse: Christian é o respeitado curador de um museu de arte contemporânea; homem divorciado e bom pai dos seus dois filhos, conduz um carro elétrico e apoia boas causas. A sua próxima exposição, “O Quadrado”, é uma instalação que pretende evocar o altruísmo em quem a vê, recordando-nos o nosso papel enquanto seres humanos responsáveis pelos nossos congéneres. Mas às vezes é difícil viver à altura dos nossos ideais: a resposta incauta de Christian ao roubo do seu telefone vai conduzi-lo a situações das quais ele se envergonha. Entretanto, os Relações Públicas do museu criam uma campanha inesperada para “O Quadrado”. A reação é inflamada e lança Christian, bem como o próprio museu, numa crise existencial