Com “Tarde para Morir Joven”, a chilena Dominga Sotomayor tornou-se a primeira mulher a ganhar o prémio de melhor realização em Locarno após 71 edições do festival. Apenas essa informação já garantiu algum interesse do público do IndieLisboa 2019 em ir as duas sessões da terceira longa-metragem da realizadora, que vem representando o cinema sul-americano independente em festivais europeus.
Sotomayor teve sua estreia com a longa “De Jueves a Domingo”, em 2012, e foi logo premiada em Roterdão e no IndieLisboa. Apesar de existirem neste circuito fechado, suas obras têm potencial para serem mais do que “filmes de festivais” e encontrarem plateias maiores. Ambas são histórias sobre amadurecimento (em inglês, coming of age), género que mostra a passagem do personagem principal da juventude para a idade adulta.
Ao mesmo tempo, são memórias e experiências difusas da própria infância e adolescência da realizadora. “Tarde para Morir Joven” mostra um grupo de jovens no Chile num verão do princípio dos anos 1990, logo após o fim da ditadura de Pinochet. Músico, pintora, atriz são os habitantes desta espécie de “comuna ecológica”, sem electricidade e outros confortos, em Peñalolén, nos arredores de Santiago do Chile.
Como normalmente acontece nos dramas coming of age, Sofia (a estreante Demian Hernández) tem 16 anos mas aparenta uma maturidade mais precoce do que seu amigo de mesma idade Lucas (Antar Machado). Ela mora com o irmão mais novo e com seu pai (Andrés Aliaga), mas deseja mudar-se definitivamente para a cidade, onde vive sua mãe, após a festa de Ano Novo. Enquanto isso, ela passa seu tempo a fumar, a dirigir sem carteira de motorista, e a flertar com Ignacio (Matías Oviedo), um rapaz mais velho que ela. Embora esta seja sua primeira experiência como atriz, Hernández é muito natural e consegue usar a expressividade dos olhos para transpor essa ardência – que literalmente virá a acontecer em forma de fogo na mata – que os adolescentes têm quando em fase de descobertas e transformações.
Apesar do contexto pós-ditadura, temas políticos não são mencionados na trama, mas Sotomayor utiliza esse paralelo para evocar um Chile que está numa transição incerta e que, aos poucos, tenta se encontrar.