A cinematografia do mundo tem uma presença forte no Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), em Coimbra, com o acolhimento de festivais e ciclos. Em parceria com a distribuidora Medeia Filmes, exibe as obras, em cópias digitais restauradas, de Jacques Tati, retrospectiva dedicada ao mestre francês da comédia – e a uma das mais conhecidas personagens, o desconcertante Sr. Hulot, de chapéu, cachimbo e gabardine – com a exibição de três longas-metragens.
Um aspeto interessante de Tati é que ele nos permite pensar a sociedade europeia mas também a evolução da linguagem do cinema ao longo deste período que vai do pós-guerra até a contemporaneidade. Entre 1947 até 1961, Jacques Tati dá conta da evolução da sociedade francesa no confronto da Europa do pós-guerra e a questão da modernidade.
Do programa do TAGV fazem parte “Há Festa na Aldeia” (15 de julho, 18h30), “Playtime, A Vida Moderna” (15 de julho, 21h30) e “O Meu Tio” (22 de julho, 18h30).
Ainda em julho, o TAGV exibe o ciclo sobre outro cineasta francês, figura importante da nouvelle vague. Jacques Rozier (1926-2023) realizou duas curtas-metragens na segunda metade dos anos 50, e Godard escreveu sobre ele maravilhas. Seguiram-se os maiores elogios de toda a equipa dos Cahiers da altura, e foi também Godard que o apresentou a Georges de Beauregard, que viria a produzir a sua primeira longa, “Adeus Philippine”.
O filme só veria a luz em 1962, depois da estreia das primeiras longas de Trufaut e Godard. E aí começava uma das obras mais singulares, mais livres e geniais do cinema francês. Rozier deixou uma mão cheia de longas e várias curtas para o cinema e uma dezena de trabalhos notáveis para televisão. Paulo Branco produziu-lhe um dos seus melhores filmes de entre os melhores, “Maine Océan”, com fotografia de Acácio de Almeida, que o jornal Le Monde colocou na lista dos 50 melhores filmes franceses de sempre. Foi um outsider e os seus filmes nunca tiveram estreia comercial em Portugal, uma lacuna que é agora finalmente reparada.
Esta obra de uma enorme frescura, que celebra a vida e, simultaneamente, a sua fragilidade, o desejo, a relação com a natureza, uma errância despreocupada, quase como arte poética, que ambicionava conciliar a arte moderna e a arte popular, está agora a ser recuperada e a conquistar um cada vez maior número de espectadores. É também uma obra que celebra o Verão e esta é a melhor altura para mergulhar nesta experiência poética e libertária.
Do programa do TAGV fazem parte “Maine Océan” (7 de julho, 18h30) e “Adeus Philippine” (7 de julho, 21h30)
Ainda no mês de julho, está de regresso a extensão do Queer Lisboa. Como parte do seu projeto de itinerância, o Queer Lisboa – Festival Internacional de Cinema Queer traz a Coimbra dois dos filmes mais destacados da sua programação.
O filme “Baby”, de Marcelo Caetano (10 de julho, 21h30), segue os passos de Wellington (Baby), de 18 anos, que ao ser libertado de um centro de detenção juvenil, vê-se só e à deriva nas ruas do Centro de São Paulo. Sem saber dos pais, e sem recursos para reconstruir a sua vida, Baby sabe que não quer ir para um abrigo, optando por dormir na rua. Os seus amigos do Centro desconhecem que esteve detido. Num cinema de cruising, conhece Ronaldo, um homem de 42 anos, que lhe dá novas ferramentas de sobrevivência, nomeadamente juntando-se a ele no trabalho sexual e tráfico de drogas. Gradualmente, nasce uma paixão entre os dois.
A proposta passa ainda por outro filme brasileiro, mas desta feita um clássico de 1983, “Onda Nova”, de José Antonio Garcia e Ícaro Martins (10 de julho, 18h30). Considerado amoral e censurado integralmente pela ditadura brasileira, este filme – agora exibido em versão restaurada e remasterizada –, acompanha uma equipa de futebol feminino e é uma ode ao desejo, opondo-se a todo o tipo de moralismo sexista, o controle da sexualidade das mulheres através das narrativas sobre sexo.
A extensão do Festival é antecedida pelo Ciclo de Leituras em Estudos Feministas e de Género, iniciativa do Programa de Doutoramento em Estudos Feministas (FLUC/ CES) que tem como objetivo ler obras literárias escritas por autoras de todo o mundo, a partir de uma perspectiva das teorias feministas e de género. Na sessão no Café TAGV (9 de julho, 18h00), o livro proposto é Episódios de Fantasia & Violência, escrito pela autora portuguesa P. Feijó e publicado pela Orfeu Negro.
As coordenadoras deste ciclo, Fabrina Souza e Iuri Lopes, farão parte da Mesa da Pessoa Espectadora, uma conversa informal antes Queer Lisboa, no dia 10 de julho, às 18h00, no Café TAGV. Os dois filme apresentados nos Festival Queer serão apresentados e comentados por Fabrina Souza e Iuri Lopes, investigadora do CES – Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

