Nos dias que correm qualquer filme que recorra à animação clássica à mão e em 2D é pretexto para ser visto. Não importa a história ou a ideia, importa sim que tipo de animação é, tendo em conta que o mercado de distribuição cinematográfico em Portugal, e no resto do mundo, é dominado pela animação computadorizada e em 3D. Ao vermos um filme animado desenhado à mão vem-nos de imediato à memória a infância, os filmes da Disney e do Don Bluth e os desenhos animados que víamos na televisão. A nostalgia está pois sempre presente. A narrativa passa agora para segundo plano, sendo que neste filme é quase imposto que assim seja. Pois a sua narrativa não é o que cativa mais, mas sim o fantástico trabalho de animação, que é visualmente deslumbrante e com um traço bastante expressivo, como se pode ver pelas faces das personagens humanas e também dos animais.
Rémi Bezançon e Jean-Christophe Lie realizam em conjunto “Zarafa”, inspirados nas obras de Júlio Verne e num acontecimento histórico, deveras curioso, sobre uma girafa oferecida ao rei de França Carlos X, por Muhammad Ali do Egito. Zarafa foi aliás a primeira girafa a ser vista na Europa, tendo sido procurada por muitos no zoológico de Paris, onde viveu durante quase vinte anos. A ação passa-se portanto no inicio do século XIX, e conta a aventura de um rapaz escravo, Maki, e dos seus amigos, como Hassan o príncipe do deserto, que têm como missão levar Zarafa, a girafa, do Sudão a Paris. No entanto, Maki está determinado a cumprir a promessa que fez à mãe de Zarafa, a de a levar de volta ao seu país.
Esta será uma lendária e inesquecível viagem para a girafa e para Maki, que vai crescendo ao longo do filme, aprendendo valores tão importantes como a amizade e a lealdade. “Zarafa” levanta questões pertinentes para os mais novos, como o racismo e a escravatura, quer do Homem, quer dos próprios animais (que estão em jardins zoológicos e servem de entretenimento para o ser humano). Não há muitas razões que nos levam a acreditar na persistência de Maki em querer cumprir a promessa feita à mãe de Zarafa. Mas não temos outro remédio se não acreditar nela e seguir o resto da viagem, apesar de tudo acontecer muito depressa. Tem os seus momentos de dramatismo e de humor, mas de um modo geral o argumento, que é simples, tem falhas, mesmo que o público alvo seja mais infantil. Esta é uma fábula animada interessante, do ponto de vista da ideia e da qualidade do desenho, para os mais pequenos, que merece ser vista.
Realização: Rémi Bezançon, Jean-Christophe Lie
Argumento: Alexander Abela, Rémi Bezançon
Elenco: Max Renaudin Pratt, Simon Abkarian, François-Xavier Demaison
França/2012 – Animação
Sinopse: Um ancião africano conta às crianças que o rodeiam uma antiga história. Livremente inspirado na verdadeira história da girafa oferecida pelo Paxá do Egipto ao Rei de França em 1827, o filme conta a odisseia de Zarafa, uma girafa capturada, e as tentativas de um menino de dez anos, Maki, para levar Zarafa de volta ao Sudão.