Decorreu ontem, nos Cinemas NOS Vasco da Gama, a 8.ª edição dos Encontros do Cinema Português (ECP), com apresentação de 55 projetos de produções portuguesas, naquela que foi a maior edição de sempre da iniciativa promovida pela NOS Audiovisuais, com o apoio do ICA – Instituto do Cinema e do Audiovisual.
Sob o mote ‘Como melhorar a relação do público com o Cinema Português’, a edição deste ano contou com a presença de mais de 200 pessoas do setor da produção cinematográfica nacional, incluindo exibidores, realizadores, argumentistas, atores, assim como o ICA, a RTP, a TVI e outros organismos institucionais. Os ECP têm como objectivo “dar palco à apresentação de projetos de Cinema Português, fomentando o encontro e a aproximação entre os mais variados agentes do setor.”. Num total de 8 edições, foram apresentados cerca de 300 projetos e participaram cerca de 1.600 representantes do setor.
Entre os filmes apresentados este ano estão, por exemplo, “Cidade Rabat”, “A Flor de Buriti”, “Por do Sol: O Mistério do Colar de São Cajó”, “Légua”, “O Pior Homem de Londres”, “Longe da Estrada”, “Primeira Obra” e “Onde Fica Esta Rua? Ou Sem Antes Nem Depois”.
Luís Nascimento, administrador da NOS, referiu que quando a NOS e o ICA se juntaram para organizar a primeira edição, acreditavam que “o cinema português tinha um espaço e um papel muito relevante no desenvolvimento da indústria do cinema. Este ano, temos 55 projetos, que batem os 42 de 2019 e os 45 do ano passado. Acho que isto mostra claramente o quão vibrante e energizada está a criatividade nesta indústria e, por isso, podemos olhar para a frente com positivismo”.
Em doze anos apenas 8 filmes levaram mais de 150 mil espectadores cada às salas de cinema, um número que já dá escala a um filme. Para haver um crescimento do mercado de cinema nacional e conseguirmos uma quota de mercado relevante, Luís Nascimento afirma que “há dois eixos que temos de trabalhar conjuntamente: (i) garantir que existe pelo menos um a dois filmes portugueses com mais de 150 mil espectadores cada e (ii) assegurar que se produzam mais histórias em português que façam os portugueses sair de casa e ir a uma sala de cinema.”
Para Susanna Barbato da NOS Audiovisuais, é importante analisar quem vai ao cinema hoje, já que apesar de existir conteúdo, um dos grandes desafios da indústria cinematográfica passa por trazer histórias às salas de cinema, que os portugueses queiram ver. Hoje o cinema português, salvaguardando algumas exceções apela a um target mais velho, que infelizmente vai menos às salas de cinema. ‘Basta analisarmos o top 10 da tabela de box office e vemos que o público que vai hoje ao cinema são os mais jovens e as famílias atraídos por géneros de filmes de ação, comédia, aventura e terror. Recuperámos os jovens durante a pandemia, mas ainda não temos o público com mais de 45 anos a ir ao cinema com regularidade. É necessário perceber que histórias é que o público está disposto a ver no cinema, e apostar na produção nacional de qualidade direcionada ao consumidor que vai ao cinema e saber promover e comunicar o cinema português de forma a ter impacto junto dos consumidores e despertar interesse para o seu consumo’.
Manuel Pureza, realizador que terminou recentemente as rodagens de “O Mistério do Colar de São Cajó”, prequela da série “Pôr do Sol” para os cinemas, afirma que o maior problema é a educação: “ninguém sabe como é que o cinema é abordado nas escolas, nem as condições em que é isso é feito. Temos um Plano Nacional de Cinema que não é seguido nas escolas, e isto é assustador, porque em vez de contribuir para criar espectadores, esta ausência de conhecimento faz de nós um povo com muito poucas ideias e poucas histórias para contar”.
“A fonte de financiamento é pública e esse perfil tem condicionantes – é um perfil que nasce no Ministério da Cultura e, do ponto de vista de análise, encerra com a primeira exibição no cinema. Contudo, nós acreditamos que o impacto cultural é muito maior. É fácil falarmos de investimentos proporcionais aos filmes, quando sabemos que o retorno comercial é residual, mas o nosso cinema tem potencial e o nosso público merece a promoção das produções nacionais”, destaca Luís Chaby, presidente do ICA – Instituto de Cinema e Audiovisual, que vai mais além na reflexão e se foca na pluralidade do cinema português, destacando que, na sua diversidade, os filmes nacionais encontram o mesmo entrave – o financiamento.
Na 8ª edição dos Encontros Do Cinema Português houve ainda espaço para analisar alguns dados relativos ao mercado do cinema em Portugal. Os números refletem uma estimativa de crescimento em receita bruta para 2023 na ordem dos 20% face a 2022, estando apenas também a 20% do melhor ano de sempre de cinema em Portugal que foi 2019, o que mostra uma boa recuperação do mercado de cinema. No que diz respeito aos filmes portugueses, em 2022, chegaram 53 produções nacionais às salas de cinema, o que representa uma quota de 5,6% em espectadores.