«La La Land» – Um sonho de um género que não volta mais

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O género musical já não existe ou pelo menos como foi durante décadas uma das pérolas de Hollywood. Não será esta terceira longa-metragem de Damien Chazelle que irá renascer o género ou sequer inová-lo.

Tem sido aplaudido por muitos como se fosse um regresso de um género ou uma obra-prima, mas longe disso. Não exageremos. É um filme demasiado sobrevalorizado. “La La Land” é apenas um sonho de um género que não volta mais. Foi bom enquanto durou, mas não passa disso mesmo, um sonho. O Musical não volta mais e foi bonito de sonhar, de como era antigamente, do que foi Hollywood na sua época dourada. É uma evocação, uma celebração de um género que não existe, tal como o ‘western’, que de vez em quando vai tendo as suas “evocações” e recriações.

A narrativa é simples e resulta, mas pouco inspiradora e sem grandes surpresas. Passada em Los Angeles, a cidade dos sonhos, Mia (Emma Stone) é uma empregada de café que aspira ser atriz e Sebastian (Ryan Gosling) é um pianista de jazz prodigioso mas pouco valorizado que ambiciona ter o seu próprio bar. Os dois conhecem-se, apaixonam-se e vão ter que escolher entre o amor ou o seu sonho de uma carreira de sucesso.

O par romântico, Emma Stone e Ryan Gosling, funciona e vê-se que se esforçaram (mais ela do que ele até). Mas não são bailarinos e isso percebe-se. Fazem de conta que cantam bem, e fazem-no bem, mas não cantam. Lembram outros pares de bailarinos como Fred Astaire e Ginger Rogers, ou Gene Kelly e Debbie Reynolds, ou Cyd Charisse, ou Frank Sinatra ou Leslie Caron. Será muito injusto que Emma e Ryan sejam comparáveis a todos eles, apesar da tentativa de cópia.

A cena de abertura é explosiva, bombástica, assim como a cena final. Rodado em película e em cinemascope (como no inicio do filme se faz questão de lembrar), “La La Land” está carregado de cores fortes e vibrantes, de ritmo e movimento (a câmara de Damien Chazelle dança pelos cenários). A banda sonora, um dos pontos fortes desta obra, é deslumbrante, electrizante e difícil de a esquecer. Mas isto são tudo elementos que se esperam serem fundamentais num musical, daí que “La La Land” não seja extraordinário. É um filme muito bem realizado, sem dúvida, e Damien mostra que domina a técnica do género, dando-lhe um toque mais contemporâneo e pop, e que o ama, percebe-se que viu muito cinema e isso sente-se. Este é o sonho de Damien que leva o espectador a ficar nostálgico. O realizador acaba também por fazer um retrato de Hollywood e da sua cidade, Los Angeles, que é uma cidade estranha e os sonhos são falsos, onde a concorrência é feroz e o sucesso não é para todos.

“La La Land” é no geral um bom filme, uma boa homenagem, recheado de referências cinematográficas, apesar de algumas bastante óbvias, como a “Serenata à Chuva” (1952) de Gene Kelly e Stanley Donen, “Um Americano em Paris” (1951) de Vincente Minnelli, “Fúria de Viver” de Nicholas Ray, e a “Os Chapéus de Chuva de Cherburgo” (1964) e “As Donzelas de Rochefort” (1967) ambos de Jacques Demy. Há ainda vários piscares de olhos a outras referências, como “O Balão Vermelho” (1956), “West Side Story” (1961), “Vamos Dançar” (1937) ou a “Cinderela em Paris” (1957).

“La La Land” abriu o Festival de Veneza 2016 e desde então que tem conquistado o público e a crítica internacional. Tem conquistado quase todos os prémios para que esteve nomeado, incluindo sete Globos de Ouro e encontra-se nomeado para catorze Óscares, um recorde a que se junta a “Titanic” (1997) e a “All About Eve” (1950).

Uma coisa é certa, “La La Land” permite-nos sonhar, ficar nostálgicos por um cinema que deixou de existir e isso é uma boa sensação.

3Realização: Damien Chazelle
Argumento: Damien Chazelle
Elenco: Ryan Gosling, Emma Stone, Rosemarie DeWitt
EUA/2016 – Musical
Sinopse: Los Angeles, EUA. Mia (Emma Stone) tem um sonho: singrar em Hollywood e tornar-se uma estrela de cinema mundialmente conhecida. Ao mesmo tempo que insiste em mostrar o seu talento nos vários “castings” onde, por infortúnio, nunca é seleccionada, vai sobrevivendo à custa de um pequeno ordenado de empregada de mesa. Sebastian (Ryan Gosling), por seu lado, é um pianista prodigioso mas pouco valorizado que ambiciona ter o seu próprio bar, onde possa dar largas à paixão pelo jazz. Um dia, sem que o esperassem, os seus destinos cruzam-se e eles apaixonam-se perdidamente. Apesar do amor sincero e do esforço por incentivar os sonhos um do outro, aquela é uma cidade estranha, onde a competição e a busca individual pela fama geram inevitáveis obstáculos aos relacionamentos.

3.5
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