«A Educadora de Infância» – Olhar o mundo com o coração

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Leve como um poema, suave como um mar de intelectualidade, “A Educadora de Infância” (2018) afigura-se como, no seu todo, uma metáfora para sonhadores e génios; génios que nasçam com o talento enraizado no cerne do destino, na magia de um amanhã onde, todos eles, serão mestres.

A protagonista, Lisa, interpretada por Maggie Gyllenhaal – a irmã de Jake Gyllenhaal –, mostra como se imortaliza uma paixão em obsessão, e em como as fronteiras entre os delírios do ser estão inevitavelmente juntas num céu de incompreensão. Educadora de infância (como o próprio nome indica), doce, gentil, inteligente, criativa e irreverente, tem uma paixão por poesia notória e que a consome. Frequenta um clube de poesia, no qual consegue partilhar as suas criações, mas sempre sem receber grande aprovação do colectivo, o que a faz sentir-se só, um génio incompreendido. Até que, num devaneio inesperado e súbito, um dos seus alunos, Jimmy, um pequeno rapaz de cinco anos, começa a divagar, de um lado para o outro, no final de um dia corriqueiro, e começa a declamar um poema. Um extraordinário brilho de emoção e magia com as palavras, que deixa Lisa encantada, pasmada, atónita. Como seria possível um rapaz de cinco anos ter a mente brilhante para chegar à profundidade de algo tão belo?

Desde aí, Lisa começou a ficar obcecada com a sua genialidade e todo o seu talento, e foi partilhando nas suas aulas e recitais de poesia as criações do pequeno Jimmy. Qual não foi o seu espanto quando, e ao contrário do feedback que recebia dos poemas da sua autoria, todos ficaram maravilhados com a expressividade e criatividade dos poemas. Desde então começa a centrar a sua vida à volta do miúdo, descorando a família, o trabalho, o foco, e todos os que a rodeiam.

Uma banda sonora que preenche todas as lacunas, recriando a expressividade, o amor, a profundidade, a criatividade, a beleza da poesia transformada em arte, tudo numa simplicidade que capta a atenção e aprimora todos os sentidos. Sara Colangelo, autora do guião e maestro da antecâmara, faz da simplicidade a palavra de ordem e transporta-nos para uma dimensão elucidativa e didáctica: quando a obsessão toma conta de nós, somos capazes de tudo para chegarmos onde queremos. Foi este sentimento que dominou toda a obra, no qual ‘ou tens o temperamento certo, ou não chegarás longe na tua conquista’.

Um filme bastante tocante na forma como aborda a questões dos jovens, que hoje em dia vivem agarrados à superficialidade das redes sociais, dos telemóveis, de todas as tecnologias que os inviabilizam de conviver, de aprender coisas novas com os outros, de incentivar à arte, à aprendizagem, à criação (ou aprimoração) de um talento, musical ou artístico, e em como por vezes os pais não são capazes de dar o devido apoio às crianças, numa idade fatal para o resto da vida, onde formamos as nossas concepções mais profundas e onde damos luz à magia que há, tacitamente, dentro de nós.

Um filme que preenche, mas que peca por tentar embelezar algumas realidades que se querem cruas. Vive de um final profundo e cativante, fechando a cortina de forma correcta e inteligente. No entanto, explora, por vezes de forma inconsequente e escassa, a poesia com limitações que não existem. A verdadeira poesia quer-se inteira e como um todo, e o filme pega em algumas das suas vertentes sem as juntar no seu habitat natural.

Uma obra reconfortante, intelectual, que acerta no argumento, mas falha no tardio clímax, edificando uma ode à magia de sentir com humanidade, com a simplicidade de olhar o mundo com o coração.

065d5b793b4327cba38badc996910db3d2f721ba 3Realização: Sara Colangelo
Argumento: Sara Colangelo
Elenco: Maggie Gyllenhaal, Gael García Bernal, Ato Blankson-Wood
EUA/2018 – Drama
Sinopse
: Uma educadora de infância de Staten Island suspeita que um dos seus alunos, de cinco anos, tem qualidades acima da média. Esta descoberta faz com que fique fascinada e obcecada pela criança. E, para lhe alimentar o talento, entra numa vertigem perigosa e desesperada. Um filme, realizado por Sara Colangelo, que recebeu o prémio de melhor realização no Festival de Sundance e fez parte da selecção oficial do Festival de Toronto.

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