O Festival de Cannes vai a meio e ainda muitos filmes faltam estrear. O candidato à Palma de Ouro ainda é um mistério, apesar de neste fim-de-semana terem surgido fortes candidatos. Ao sexto dia assistiu-se à estreia do thriller survival “Wara no Tate” (Shield of Straw), do realizador japonês Takashi Miike, que aliás se define a si próprio como “um cineasta que experimenta de tudo”. O filme não foi no entanto muito bem recebido no certame francês. As primeiras reações são de que o filme não tem capacidade de surpreender e é convencional. Para o The Guardian, “inteiramente cliché e absurdo (…) não tem nenhuma base sólida para estar caindo aos pedaços a cada minuto”. Para o The Hollywood Reporter, “o que mantém o filme interessante, mais do que tudo, é a intensidade sóbria da interpretação de Osawa”. Mas há um pequeno setor que acredita que é um entretenimento digno e banal que quebra as usuais costuras do discurso dramático. A Variety vai contra a corrente e publica que o filme “é um estimulante ‘mash-up’ de Miike, divertido e inteligente.”. Takashi Miike, durante a conferência de imprensa, sobre o giri, termo japonês que evoca a noção de dever e de obrigação moral e social: “Quando se descreve os seres humanos, mostra-se todas as suas facetas. É uma história de polícias e bandidos, mas são pessoas como qualquer um de nós, com uma vida privada, uma vida quotidiana. É isso que eu quis mostrar.”.
O segundo filme da selecção oficial a estrear foi “Un Château en Italie” (A Castle in Italy), da atriz e realizadora italiana Valeria Bruni Tedeschi, que continua a “abordar a veia autobiográfica, intimista, familiar”. Depois de “Actrizes”, apresentado em Un Certain Regard em 2007, concorre desta vez, para a Palme de Ouro, com um filme trata de uma família que se desintegra, do nascimento de um amor, e de um irmão doente. Note-se que este é o único filme em competição realizado por uma mulher. O filme, no entanto, não impressionou o público e a crítica, tendo sido apelidado de “um drama cômico, auto-referencial, com pouco nível para estar a competir na categoria A do festival”.
Ainda neste dia, na secção Un Certain Regard, assistiu-se à estreia de “As I Lay Dying”, a primeira realização de envergadura e a primeira selecção em Cannes do ator, produtor e realizador James Franco. Adaptado do célebre romance “Na Minha Morte” de William Faulkner, o filme segue a viagem atormentada de uma família que acompanha o corpo da mãe até ao seu túmulo. Durante a sua conferência de imprensa, James falou sobre o seu filme: “O meu pai recomendou-me que lesse As I Lay Dying [Na Minha Morte] de William Faulkner quanto eu tinha quinze anos.Li o livro e fiquei seduzido por todo o mistério; era um código que eu tinha de decifrar.Mais velho, sonhei em torná-lo num filme.Sempre pensei que seria um filme excelente e complexo pois, por um lado, é muito complexo a nível psicológico e estrutural e, por outro, trata-se de uma história muito simples:uma família tenta levar a falecida mãe para a cidade para a enterrar.”.