Cinema nacional, animes e relançamentos definiram 2025

O ano de 2025 ficou marcado pela força do cinema nacional, pela presença crescente dos animes e pelo regresso dos clássicos às salas
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"Ainda Estou Aqui" (2024), de Walter Salles

Se 2025 fosse um filme, começaria com uma sala cheia e terminaria com o público a ficar mais tempo do que o previsto. É esta, pelo menos, a imagem que emerge da retrospectiva divulgada pela Ingresso.com, que lê o ano como um período diverso, emocional e marcado por um envolvimento crescente com a experiência colectiva de ir ao cinema. Entre produções nacionais de alcance internacional, franquias bem oleadas, a ascensão definitiva dos animes no circuito comercial e uma vaga de relançamentos nostálgicos, o ecrã grande voltou a impor-se como ritual.

Os números ajudam a contar a história. No top 10 dos filmes mais vendidos de 2025 na plataforma, a liderança pertence a “Lilo & Stitch”, seguido de perto por The Conjuring 4: Extrema-Unção”. Em terceiro surge Como Treinares o Teu Dragão”, com “Superman” logo atrás e “O Quarteto Fantástico: Primeiros Passos” a fechar o top 5. A lista desenha um retrato claro de um público que circula sem pudor entre animação, terror, fantasia e super-heróis, como quem muda de género sem mudar de cadeira.

Mas o dado mais simbólico surge na sexta posição. “Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba – Castelo Infinito” entra para a história como o primeiro anime a figurar entre os dez filmes mais vendidos do ano. Logo a seguir, “Um Filme Minecraft” confirma que as adaptações de videojogos deixaram de ser apostas arriscadas para se tornarem peças centrais das bilheteiras.

A oitava posição pertence a “Ainda Estou Aqui”, um caso raro de resistência prolongada em cartaz. O drama de Walter Salles não só marcou o início de 2025 para o cinema brasileiro, como atravessou o ano sustentado por crítica, público e prémios de peso, incluindo o Óscar de Melhor Filme Internacional e os Globos de Ouro. Um percurso que, em plena temporada de grandes produções globais, reafirmou a capacidade do cinema nacional em competir, dialogar e permanecer.

“Mufasa: O Rei Leão” surge em nono lugar, enquanto “O Auto da Compadecida 2” encerra o top 10, selando o ano com uma nota de continuidade e reconhecimento popular.

Para Mauro Gonzalez, Director de Negócios da Ingresso.com, o retrato é claro. “Foi um ano muito diverso e cheio de novidades. Pela primeira vez, um anime figura entre os filmes mais vendidos, sem deixar de destacar a força do cinema nacional. É muito significativo ver produções brasileiras lado a lado com grandes lançamentos internacionais”, afirma, sublinhando o impacto particular de “Ainda Estou Aqui” após o Óscar de 2025. Qualidade técnica, força narrativa e envolvimento emocional surgem como os pilares de um momento que descreve como especialmente potente para o cinema brasileiro.

Os dados de comportamento do público confirmam essa leitura. Entre Maio de 2024 e Maio de 2025, as vendas de bilhetes para filmes brasileiros cresceram 197% face ao período anterior. Um sinal de que o público procura cada vez mais histórias que dialoguem com a sua realidade e os seus valores culturais.

Relançamentos

Se 2024 já tinha apontado para o regresso dos clássicos às salas, 2025 tratou de consolidar essa tendência. Foram 22 relançamentos ao longo do ano, com o segundo semestre particularmente marcado por títulos que convocam a memória colectiva: a trilogia A Evocação”, “Toy Story – 30 anos”, “Avatar: O Caminho da Água”, “Tubarão – 50.º aniversário”, “A Noiva Cadáver”, Regresso ao Futuro – 40.º aniversário” e “Harry Potter e o Cálice de Fogo – 20.º aniversário”. Mais do que revisitar filmes, o público parece interessado em revisitar sensações.

E 2026?

Ao olhar para o mercado, Gonzalez lembra que 2025 deve ser lido à sombra de um 2024 excepcional. “Foi um ano fora da curva, com recordes sucessivos. Ainda assim, 2025 representou um período importante de consolidação”, afirma, apontando já para um 2026 que promete ser “explosivo”.

O calendário futuro não é modesto. Entre as apostas estão “A Criada”, “Gritos 7”, “Super Mario Galaxy: O Filme”, “O Diabo Veste Prada 2”, “Mortal Kombat 2”, “Toy Story 5”, Mínimos 3”, Vaiana”, em versão live-action, “Homem-Aranha: Um Novo Dia”, “A Odisseia”, Magia e Sedução 2”, The Hunger Games: Amanhecer na Ceifa”, “Dune – Parte 3” e “Avengers – Doomsday”.

Pelo caminho, o cinema brasileiro prepara-se também para voltar a ocupar espaço com títulos de forte apelo popular, como “Os Farofeiros 3” e “Minha Irmã e Eu 2”.

Depois de um ano que misturou descoberta, memória e pertença, tudo indica que o público continuará a procurar, na sala escura, algo que vá além do filme. Talvez a simples confirmação de que, apesar de tudo, ainda vale a pena sentar-se lado a lado e olhar para o mesmo ecrã.