Está em exibição, desde o final de agosto, a nova longa-metragem que retrata uma rentrée leve, mas ao mesmo tempo caótica.
Um início talvez mais desordenado do que o final, no qual conhecemos a nossa protagonista, Greice, uma brasileira estudante de Belas Artes em Lisboa. Entre trabalhar num quiosque e colaborar com uma artista musical, Greice enfrenta um relacionamento complicado com Afonso (Mauro Soares), o rebelde de “António, 1, 2, 3”. Aqui, Afonso desistiu do curso de Relações Internacionais, mas, desta vez, é apenas um menino mimado que coloca Greice numa situação desesperante — ou, pelo menos, é isso que Mouramateus nos faz pensar. Isto porque Greice é uma jovem adulta comum, instável e complexa como todas as outras, e não uma reprodução de uma personagem estereotipada.
A realização e a brincadeira com os movimentos de câmara, que trabalham com a noção de tempo e espaço, tornam Greice numa fantasia realista. A crueza é cumprida pelas aflições de Greice, que surgem sempre de uma forma leve, mas complexa. Uma drama-comédia descontraída, porém intrincada e, ao mesmo tempo, descomplicada, graças ao guião e às personagens. Conseguimos sentir o quotidiano como se fizéssemos parte dele, criar empatia com as aflições, mas sem entrar num estado de ansiedade.
Leonardo Mouramateus, jovem realizador de Fortaleza sediado em Lisboa, traz um pouco do seu Brasil e das suas inquietações enquanto adolescente, transportando elementos de outros filmes seus, de antigas preocupações, como o existencialismo em “António, 1, 2, 3”. Ao mesmo tempo, apresenta a perspetiva do que é ser: um jovem imigrante e artista em Lisboa, numa narrativa ficcional que procura captar a complexidade da vida humana, mas sem recorrer à violência e à dor. Em entrevista comigo e com Inês Moreira, no Cinema Fernando Lopes, em Lisboa, Leonardo Mouramateus destacou a importância de existirem filmes sobre imigrantes e as suas vidas, mas sem um retrato que os vitimize exclusivamente.